segunda-feira, 30 de maio de 2016

LÁ VAI NAUFRAGANDO O TARDIO E DESPRESTIGIADO TITANIC DO GOVERNO GOLPISTA

Amigas e amigos, parece que o “salvador” impedimento de uma presidente que ia mal e sem muito ibope, mas fora eleita e, para melhorar os nossos padrões de democracia, tinha que concluir seu mandato e passar o poder a quem fosse eleito em 2018, parece que está naufragando que nem um tardio e desprestigiado Titanic.
Sobre isso, transcrevo aqui um artigo muito bem montado de Kiko Nogueira (Diário do Centro do Mundo), que me foi enviado pelo amigo J. Tadeu Colares.
Curtam, please:


Tudo indica que o vazador das conversas de Sérgio Machado é o próprio Sérgio Machado. Machado acabou, com isso, causando um curto circuito na Lava Jato. O primeiro a se manifestar foi o delegado Igor Romário de Paula. “O que nos preocupa somente é que isso (os áudios) venha a público dessa forma, sem que uma apuração efetiva tenha sido feita antes”, afirmou ele, segundo O Globo.
Igor está dizendo que há vazamentos bons e ruins. Os primeiros são os que são feitos pela própria PF. Dias depois, foi Sergio Moro quem deu detalhe.
Apresentou-se num simpósio de direito constitucional em Curitiba e criticou os projetos de lei sobre a delação premiada em tramitação no Congresso — os dois, sintomaticamente, de autoria do deputado petista Wadih Damous.
“Eu fico me indagando se não estamos vendo alguns sinais de uma tentativa de retorno ao status quo da impunidade dos poderosos”, falou Moro.
Moro, de acordo com o Estadão, achou “coincidência” que o autor seja do PT. “A corrupção existe em qualquer lugar do mundo. Mas é a corrupção sistêmica não é algo assim tão comum.”
Nem uma palavra sobre as tentativas explícitas de gente como Jucá e Sarney barrarem as investigações através de um impeachment. Nem um mísero muxoxo sobre o que foi revelado nos papos de Machado.
O fato é que os áudios de Sérgio Machado quebraram as pernas da história oficial do time de Moro. Até ele surgir na Folha, toda a narrativa da LJ estava nas mãos dos delegados, que vazavam para a imprensa o que a mídia desejava — ou seja, a criminalização do governo Dilma e do projeto petista de corrupção sistêmica.
Não custa lembrar o que Moro escreveu em seu ensaio sobre a Mãos Limpas. “Os responsáveis pela operação mani palite ainda fizeram largo uso da imprensa”, ele registra. “Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados no ‘L’Expresso’, no ‘La Republica’ e outros jornais e revistas simpatizantes.”
Sérgio Machado quer atrelar o caso dele aos de Renan Calheiros e de Romero Jucá e ficar no STF. No caminho, tirou de Moro o manto de dono da verdade. A rapinagem, os acordos, os corruptos são suprapartidários. A questão é mais complexa.
Ele não é qualquer um. Machado foi um cardeal do PSDB, líder do partido no Senado, braço direito de Tasso Jereissati e próximo de FHC.
Foi companheiro do Tasso no CIC (Centro Industrial do Ceará), que pariu o pensamento do jovem empresariado cearense e em 1986 derrotou os coronéis e promoveu uma mudança no estado.
Orgulhava-se de ter sido o mais longevo presidente da Transpetro, o braço logístico da Petrobras. Foi tucano por dez anos, até migrar para o PMDB. “Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan”, afirmou.
Por isso, Aécio, por exemplo, sabe que está frito. Não só ele, evidentemente.
Machado implodiu o conto de terror que Moro e seus agentes estavam tocando com sucesso. O controle foi perdido para sempre. Os mocinhos continuam em falta, mas o número de bandidos ficou do tamanho do Brasil.
De tabela, ajudou a destruir o governo do interino pelos intestinos — a pá de cal, já que Michel e seus capangas são garantia de tiro no pé todos os dias.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

INCLUSÃO SOCIAL É MUITO BARATA, DIZ RELATÓRIO DO BANCO MUNDIAL. GOVERNO GOLPISTA NÃO ACHA.

Até o Banco Mundial, comandado pelos EUA e outros países ricos, reconhece, em recente relatório que, mesmo com as dificuldades fiscais, o Brasil pode manter os programas sociais que beneficiam a parte mais pobre da população. Observa ainda o relatório, que tem o título de “Retomando o caminho para a inclusão, o crescimento e a sustentabilidade”, que, para a manutenção desses programas, é necessário cortar gastos com setores mais favorecidos economicamente.
”Ajuste fiscal e progresso social não são contraditórios”, diz o texto, e o especialista em setor público do Banco Mundial, Roland Clark, afirma que as medidas de suporte às camadas mais pobres têm um impacto relativamente pequeno no orçamento público: “A inclusão social é muito barata. O que é caro são os programas que ajudam os ricos”. E não perdeu tempo ao apontar a carga tributária como um fator que amplifica a desigualdade social do país: “O sistema tributário tende necessariamente a favorecer o rico em detrimento do pobre”.
Os golpistas sem voto que tomaram o poder na marra, guiados por políticos retrógrados e provincianos, não veem assim as coisas e estão usando à vontade a tesoura. José Serra está indócil para voltar à politica externa de submissão aos interesses do Tio Sam. Aécio, o inconformado com a derrota de 2014 e blindado pelo tosco e político juiz da Lava-Jato, está assanhado. E, o que agora já era de se esperar, até Fernando 2º (FHC) fala e age como golpista da linha de frente. Um cara que já foi tido como democrata. No início dos anos 1970, quando eu trabalhei do jornal alternativo Opinião, financiado por Fernando Gasparian e editado pelo grande jornalista que é Raimundo Rodrigues Pereira, cuidava da editoria internacional e recebíamos colaborações de Fernando 2º lá de Paris. Já no poder ele disse que esquecessem o que ele dissera e escrevera. Se o Senado e a Câmara não reconsiderarem a insensatez anticonstitucional que cometeram, o Brasil vai retroagir muitos anos. E, penosamente, terá de recomeçar tudo de novo.

Prezados leitoras e leitores, não esqueci a promessa de dar uma reescrita em “Viver é muito perigoso”. É que a privataria tucano-peemedebista atingiu, através da Celpe, meu computador e ainda não recebemos o novo que a LG nos prometeu. Daí a precariedade de instrumentos para o meu trabalho. Estou também preparando artigos selecionados para por no blogue.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

TUDO INDICA QUE OS GOLPISTAS NÃO GOSTAM DE CULTURA

Minhas pacientes leitoras e leitores, estou lhes enviando hoje as postagens deste início de semana e do fim de semana passado. Peguei uma doença meio braba, que me deixou desmobilizado, mas já estou melhorando com acupuntura.
Envio-lhes um excelente texto de ator Wagner Moura, que já não teria sentido pois o governo golpista voltou atrás na extinção da pasta da Cultura. Mesmo assim vale transcrevê-lo. Lembrando ainda que o grande auxiliar de Hitler, Goebbels, dizia que, quando ouvia a palavra “cultura”, já tinha vontade de sacar sua arma. Taí:

"A extinção do MinC é só a primeira demonstração de obscurantismo e ignorância dada por esse Governo ilegítimo. O pior ainda está por vir. Vem aí a pacoteira de desmonte de leis trabalhistas, a começar pela mudança de nossa definição de trabalho escravo, para a alegria do sorridente pato da FIESP, que pagou a conta do golpe.
Começaram transformando a Secretaria de Direitos Humanos num puxadinho do Ministério da Justiça. Igualdade Racial e Secretaria da Mulher também: tudo será comandado pelo cara que no Governo Alckmin mandou descer a porrada nos estudantes que ocuparam as escolas e nos manifestantes de 2013. Sob sua gestão, a PM de São Paulo matou 61% a mais. Sabe tudo de direitos humanos o ex-advogado de Eduardo Cunha, o senhor Alexandre de Moraes. Mas claro, a faxina não estaria completa se não acabassem com o Ministério da Cultura, que segundo o genial entendimento dos golpistas, era um covil de artistas comunistas pagos pelo PT para dar opiniões políticas a seu favor (?!!!).
Conseguiram difundir essa imbecilidade e ainda a ideia de que as leis de incentivo tiravam dinheiro de hospitais e escolas e que os impostos de brasileiros honestos sustentavam artistas vagabundos. Os pró-impeachment compraram rapidamente essa falácia conveniente e absurda sem ter a menor noção de como funcionam as leis (criadas no Governo Collor!) e da importância do Minc e do investimento em Cultura para o desenvolvimento de um país. É muito triste tudo. Ontem vi um post em que Silas Malafaia comemorava a extinção "do antro de esquerdopatas", referindo-se ao Minc. Uma negócio tão ignóbil que não dá pra sentir nada além de tristeza. Predominou a desinformação, a desonestidade e o obscurantismo.
Praticamente todos os filmes brasileiros produzidos de 93 para cá foram feitos graças à lei do Audiovisual. Como pensar que isso possa ter sido nocivo para o Brasil?! Como pensar que o país estará melhor sem a complexidade de um Ministério que cuidava de gerir e difundir todas as manifestações culturais brasileiras aqui e no exterior? Bradar contra o Minc e contra as leis (ao invés de contribuir com ideias para melhorá-las) é mais que ignorância, é má fé mesmo.

E agora que a ordem é cortar gastos, o presidente que veio livrar o Brasil da corrupção e seu ministério de homens brancos, com sete novos ministros investigados pela Lava Jato, começa seu reinado varrendo a Cultura da esplanada dos Ministérios... Faz sentido. Os artistas foram mesmo das maiores forças de resistência ao golpe. Perdemos feio. Acabo de ler que vão acabar também com a TV Brasil. Ótimo. Pra que cultura? Posso ouvir os festejos nos gabinetes da Câmara, nos apartamentos chiques dos batedores de panela, na Igreja de Malafaia e na redação da Veja: "Acabamos com esse antro de artistazinhos comprados pelo PT! Estão pensando o que? Acabamos a mamata da esquerda caviar! Chega de frescura! Viva o Brasil!" Trevas amigo... E o pior ainda está por vir."

terça-feira, 17 de maio de 2016

TODO MUNDO TEM PEREBA, SÓ A BAILARINA NÃO TEM. LEMBRAM?

A Rede Globo e o monopólio (oligopólio, que seja, pois inclui quase toda a grande imprensa, além das revistas Veja, Istoé, Época e quejandas) da desinformação, da sonegação, da manipulação de fatos e notícias garantem que dengue, cholera morbus, zica malária, tudo isso de repente acabou, com o impeachment de Dilma. Até as Olimpíadas vão ser um sucesso agora, mesmo que ciclovias continuam a cair, as águas para regatas continuem poluídas. Repito, não a vejo como competente e é teimosa que nem uma mula (com todo o respeito). Inflação, desinvestimento, abandono de ideais mais à esquerda caracterizaram seu segundo mandato. O que não é motivo para golpe de pilantras contra o eleitorado e a cidadania. Quanto à crise em geral, ela vai continuar, pois é mundial. O capitalismo não se emociona com os golpes que provoca na periferia. Aproveita-se deles, como fez tanto tempo nesta nuestra Latinoamerica e pelo mundo a fora.
Aliás, tudo indica que voltamos à submissão aos EUA e outros países ricos. O Dornelles, agora sem o relativo controle que teve no governo de Lula, continua ligado ao BankBoston, do qual foi executivo. Serra é servidor fiel aos desígnios das Sete Irmãs, inimigas da Petrobras. O pré-sal que se cuide. O próprio chefão golpista, o Temer, já teria sido informante da Embaixada dos EUA, conforme documento que recebi de um leitor, baseado no WikiLeaks. Mesma fonte que fala que os grandes comentaristas e manipuladores de fatos da Rede Globo Merval e Waak também foram informantes. Foram? Não continuariam?
Só com o golpe do Partido Rede Globo isso poderia acontecer: um presidente da República, mesmo sem nenhuma legitimidade, um golpista, governar um país depois de ter sido informante do governo estadunidense. É muita pereba. Né? Quem teria mais perfil de bailarina é Dilma, se fosse um pouco mais esbelta. Se voltar com mais atenção a ideais mais à esquerda, então, será a própria bailarina, sem pereba, sem piolho, sem nenhuma creca.

E haveria tal possibilidade, com a direitona de volta após 14 anos, mesmo sem voto e sem apoio popular? Resta-nos torcer para que o Brasil dê certo um dia. O julgamento do Senado será presidido pelo presidente do STF. Lewandowski, e não pelo do Senado, Calheiros, mais do que enrolado em tenebrosas transações. Como naquela história de “Vai passar o samba popular”. Será popular mesmo o  enredo, se o magistrado reconhecer a ausência de crime em Dilma e o fato de que nossos “ilustres representantes” não ouviram os argumentos da bem elaborada defesa da presidente da República. Tudo indica que o Cardoso está dando muito mais certo como advogado-geral da União que como ministro da Justiça.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

NOME DE GOLPE AGORA É IMPEACHMENT, GENTE. E TEMER SABE DISSO

Que festa, gente, para as elites de sempre que só querem a manutenção da Casa-Grande em pé explorando a Senzala! É comovente, se não fosse trágica, a alegria do Partido Rede Globo que, após quatro eleições consecutivas perdidas, conseguiu o golpe planejado e bem executado. Eu esperava que o golpe travestido de processo pseudoconstitucional fosse debelado. A nova moda na América Latina depois que os militares aparentam estar recolhidos a suas funções de defesa da pátria (e não de guerrear contra a população, como durante a Guerra Fria). Mas ele cumpriu-se. Essa nova modalidade de golpe foi aplicada, com menores cerimônias, em Honduras e no Paraguai. Eu aguardava também que a presidente regulamentasse finalmente a determinação de regulação da mídia eletrônica, prevista na Constituição. Quem sabe em setembro, quando o Supremo chegar à conclusão de que não houve um julgamento de Dilma pelo Congresso; arrumaram um crime de encomenda e o aplicaram numa ré sem culpa. O mais interessante é que os alegres deputados e senadores são, em boa parte, eles sim processados como criminosos.
Os jornais de hoje anunciam que o golpista da vez vai fazer um governo de salvação nacional. O mesmo que falam todos os golpistas desde o golpe da Independência, dado por um príncipe português em benefício dos interesses lusos; passando pelo golpe da República; um golpe de Getúlio em 1937; o golpe de Dutra e Góes Monteiro, dois nazistoides que pretendiam levar o Brasil à guerra ao lado de Hitler; o golpe contra um Getúlio constitucionalmente eleito, em 1954, que ele abortou com seu suicídio; e afinal a calamidade de 1964, que nos levou a 21 anos de trevas. Todos falavam em governo de salvação e união nacional.
Nesse contexto, vale a pena notar que o lema que Temer elegeu para si é “Ordem e Progresso”, o lema positivista de 1889. Hoje o positivismo foi varrido pela história e só entusiasma ainda alguns militares que não andaram no tempo. Sua excelência o golpista que se apresenta como presidente fez, em seu discurso de posse, também um elogio ao arquigolpista Dutra, que falava da Constituição como o “livrinho”. Faltou elogiar Carlos Lacerda, Castelo Branco, Médici, que eram golpistas assumidos.


Continuo, da próxima vez, a conversa com aquele meu correspondente             que citei da outra vez.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

DE MACONDO AO ÓDIO QUE NOS CONSOME

Como chove neste Recife e arredores! Parece a Macondo de García Márquez. E o preparo para suportar tanta chuva sem desastres ambientais e humanos há muito tempo não é preocupação dos nossos governantes, que afirmam não ter dinheiro pra nada, embora estranhamente tanto se apeguem a seus cargos. Espírito de sacrifício? Seria?
Aproveito esta postagem para passar-lhes comentário de um leitor sobre o que escrevi há cerca de uma semana, no Jornal do Commercio, sobre o ódio desconstrutivo que assola este pobre país. Não transcrevo por ser elogioso, mas porque acrescenta muito ao que eu disse. Tenho respondido até a quem me chama de nazista pelo fato de eu atacar o governo sionista de Israel, genocida conforme o historiador judeu e israelense Ilan Pape. O governo é uma coisa, o Estado de Israel é outra.
Lá vai o comentário de que falo:

Li com deveras atenção e interesse direto seu artigo de título acima. Isto por várias razões a seguir elencadas. Sua constatação de que o ódio político se alastra entre amigos e famílias é bem constatável e perceptível em qualquer reunião ou assembleia de condomínio. A observação do Senador Cristovam Buarque, a quem tenho um apreço especial por sua luta pela educação de qualidade em nosso país, é pertinente, pois nossos vizinhos do sul foram atentos à educação e universidade logo após a proclamação de suas respectivas repúblicas.
Sou de uma geração de pessoas que beberam na fonte do saber de um Dom Hélder e de um Leonardo Boff, que sempre pregaram a firmeza de ideias, sem ódio e sem medo. Quanto a questão desta epidemia do ódio, permita-me uma observação: há que se ater às suas raízes e à sua disseminação ao longo destes últimos tempos. Deslumbro essas raízes no formato pelo qual as comunicações (TV, rádio e imprensa), contrapontos entre si e muito menos o contraditório. O linguajar é uníssono e linear. Os noticiários diários batem a mesma tecla e não se veem jornais com maior autonomia, com um mínimo de discrepância com o cantar da perua. E qual a tecla que os une a todos: um linguajar ora agressivo, ora dissimulado em notinhas capciosas desde um simples debate esportivo que parte para uma digressão fora do arco até notinhas "sociais" com alusões espicaçando uma situação dando ares de neutralidade. E isto ocorre por que o monopólio das notícias está nas mãos de poucos. E junto à destilação diária de ódio entre grupos; onde um lado ataca com ampla repercussão e as respostas, quando ocorrem, são maliciosamente editadas. Portanto, esta violência verbal tem uma origem, é filha da própria imprensa e dos meios de comunicação. Quem dissemina ventos...
Fui contemporâneo e trabalhei com ilustres e respeitáveis professores cuja convivência muito me animou no trabalho árduo de ser professor. Assim trabalhei vários anos como professor mais novo, na Escola João Barbalho e no antigo IEP onde lecionavam Ruy Bello, Walter de Oliveira, Brekenfeld e outros não menos ilustres.
É verdade que o ensino era de alta qualidade, o que me obrigava a preparar minhas aulas até altas horas da noite para não me sentir humilhado. Todavia, devo confessar dois fatos: os estudantes dessas escolas que lá chegavam, com poucas exceções, adentravam através de um não sutil bilhete de um vereador ou mesmo de um deputado. Outro fato: naquele período, o ensino público na prática não era universal em Pernambuco. Poucas escolas do Ginásio ( hoje Ensino Fundamental) e do Segundo Grau ( hoje Ensino Médio), principalmente no interior.
Quanto ao nosso Congresso é reflexo  do nosso sistema eleitoral e partidário até há pouco tempo financiado por empresas privadas e públicas e que não prima pela fidelidade aos seus programas e ideologias.
Para corrigir isto tudo solidarizo-me à ideia de uma Constituinte exclusiva para dois temas: reforma partidária e  do sistema tributário muito distorcido e que enseja injustiças entre os entes da federação. Todavia há uma contaminação generalizada que perpassa o Legislativo, o Executivo e também o Judiciário. Daí a dificuldade de um colegiado Constituinte formado de ilustres letrados e acadêmicos.
Nossa primeira Constituição foi cunhada pela dos USA. Nosso sistema eleitoral também à sua semelhança. Mas vejamos, nossos irmãos do Norte sofrem do mesmo problema: financiamento de campanhas eleitorais por conglomerados empresariais que dominam na prática o resultado final seja de que partido for. E tem pois este "pecado original" difícil de ser remediado.
Se tivéssemos feito a nossa catarse como o fizeram a Argentina, Uruguai, Chile, só para ficarmos nesses, não teríamos esses bolsonaros apregoando um passado que nos mancha nem as bancadas do BBB. Mas aqui já é outra história.
Com estas pretensiosas linhas, não objetivo polemizar com V.S. mas trazer algumas reflexões provocadas por seu oportuno texto.
Cordialmente

Tadeu Colares

sábado, 7 de maio de 2016

LIXO NA RUA NO SÉCULO 21 E O PÃO QUE A CASA GRANDE AMASSOU

Gente, a nossa capital e Olinda estão em mares nunca dantes navegados. E são mares poluídos. Patrimônio da Humanidade, Olinda abandona suas igrejas históricas à decadência e à ruína, como a de São Pedro Mártir, a do Bonfim, a de Nossa Senhora da Graça (Seminário) entre outras. O Museu de Arte Contemporânea está entregue à própria sorte, com rachaduras e infiltrações que comprometem sua estrutura e acervo. Aliás, há prefeitos que consideram a situação de desgoverno em que vivemos no plano nacional como desculpa para deixar tudo como está pra ver como fica.
Por todo lado, na bela cidade, muita sujeira e abandono. Nas praias, já totalmente degradadas por uma intervenção mal feita há várias décadas, de tudo que é ruim é possível ver. É lá em Olinda também que um baobá, árvore sagrada trazida para cá da África, foi sacrificado para a construção de uma estrada, que deve ligar Olinda a Paulista e que certamente logo estará cercada de construções, o que não acontece em lugares civilizados. Ela estava parada, por intervenção do MPPE, mas o TJPE liberou geral e o baobá tombou.
Que tristeza quando relemos Carlos Pena Filho: “Olinda é só para os olhos. Não se apalpa, é só desejo. Não se diz ‘é lá que eu moro’, só se diz ‘é lá que eu vejo’.”
No Recife, nem se liga mais pra nada. Tem um programa na tevê que diariamente mostra coisas tronchas por toda parte. De nada adianta, pois as “autoridades competentes” não estão nem aí nem vão chegando. Bem perto do Treze de Maio, o lixo se acumula. Pior é que são os moradores dali que fazem essa sujeira inimaginável até em cidades mais organizadas deste país tropical (abençoado, bonito por natureza; será mesmo?; Salvemos a natureza). Em Olinda, joga-se lixo no mar, trazido em carrões de novos e mal educados ricos. Os que ainda não chegaram lá também jogam lixo em canais e na rua. Ali por perto do Treze de Maio, fica uma área de bons restaurantes e outros lazeres. O que fazer? Estamos num país desgovernado e o desgoverno se espalha. Dizem que falta verba. Para propinas e caixa-dois nunca falta dinheiro.

O metrô se avacalha cada dia mais. Os donos do transporte público não podem admitir que ele se expanda nem que funcione civilizadamente. Conseguiram acabar com trens (façanha única no mundo, que eu saiba), bondes, ônibus elétricos. O desmantelamento final do metrô é a meta da vez. Nada se faz para mudar isso. Os “empresários” concessionários de ônibus (trata-se de concessão pública) muito contribuem para campanhas políticas. Vai mudar com a nova lei, que o grande magistrado que é Gilmar Mendes protelou enquanto pode? Quem sabe? Há sempre um subterfúgio. Acredito que, se Temer conseguir dar o golpe dele, tudo será possível. Regrediremos à “privataria”. Aliás, devido às consequências dela é que estou postando esta mensagem com atraso. O pré-sal vai cair nas mãos das assim ditas Sete Irmãs do petróleo. Os trabalhadores e aposentados (tirante políticos, magistrados) vão ter que apertar ainda mais os cintos e comer o pão que a Casa-Grande amassou.

terça-feira, 3 de maio de 2016

CONTINUA A CRISE INTERMINÁVEL. JÁ HOUVE OUTRAS

Continuamos nesta crise interminável de desestabilização e impossibilidade de governar. Não se sabe ainda qual vai ser a saída por encontrar. Transcrevo artigo do economista Carlos Emanuel, que trata de crises anteriores, nos primórdios da consolidação do golpe republicano e na crise do impedimento de Fernando Collor. O ideal seria que a gente se acostumasse afinal a ter eleições periódicas, com resultados respeitados e uma desejável alternância de poder, desde que governo e oposição tenham plataformas de acordo com os interesses do país, sem querer voltar a submeter-se à hegemonia estadunidense.
Segue o artigo de Carlos Emanuel:

As Crises de 1891 e 1991 no Brasil 

Nestes tempos de grave crise política e econômica no Brasil, as recentes maravilhas do mundo digital, como os acervos dos principais jornais do país disponíveis na internet, nos permitem navegar pelo passado em busca de momentos vividos pela sociedade que possam guardar alguma semelhança, ainda que mínima, com o que estamos vivendo hoje, ressalvados, obviamente, os contextos e a distância no tempo. Foi neste espírito que busquei dois exemplares no acervo digital do Estadão: um de 24 de Novembro de 1891 (uma terça-feira) e o outro de 28 de Abril de 1991 (um domingo).
No primeiro exemplar, a primeira tira da página frontal do jornal à esquerda estampava um editorial intitulado “O fim da dictadura”, no qual lia-se, em seu primeiro parágrafo: “Viva a Republica! Viva a legalidade! Eram estes os gritos que hontem soltavam as mil boccas populares, ao espalhar-se a noticia de que o marechal Deodoro da Fonseca, coagido pela attitude dignissima e patriotica do marechal Floriano Peixoto, vice-presidente da Republica, resignara o cargo a que o elevara o Congresso Federal, que elle dissolveu por meio de um golpe de Estado sem precedente na Historia”. Referia-se o editorial à renúncia de Deodoro da Fonseca ao cargo de Presidente, ocorrida no dia anterior, sob a mira de canhões dos navios da marinha estacionados na baía de Guanabara. Vinte dias antes, em 3 de Novembro, Deodoro tinha fechado o Congresso e decretara Estado de Sítio, anunciando uma reforma constitucional que ampliaria os poderes do Presidente, o que gerou forte reação de vários setores. Dois anos antes, em Novembro de 1889, tinha liderado o levante militar que derrubou a monarquia e proclamou a república.
O ano de 1891 teve de tudo, desde uma nova Constituição, promulgada em 24 de Fevereiro, passando pelas eleições indiretas do Presidente (Deodoro da Fonseca, com pequena margem sobre Prudente de Morais) e do Vice (Floriano Peixoto, com 65% dos votos) pelo Congresso Constituinte, pela troca do Ministro da Fazenda Rui Barbosa pelo Barão de Lucena no segundo semestre, em razão de uma grave crise econômica, e pelos eventos relatados acima, completando um enredo novelesco que chegaria a ser cômico, se não fosse tão trágico. O país sofreu uma de suas piores crises econômicas naquele ano, com quebra generalizada de bancos e empresas, e uma inflação que chegou a quase 90%. Resultado de uma política monetária expansionista, iniciada ainda nos últimos anos do Império, sob o Visconde de Ouro Preto, e fortemente impulsionada por Rui Barbosa, apelidada na época de Encilhamento (referência à jogatina desenfreada nas corridas de cavalos), a crise levou ao crash a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, arruinando milhares de pequenos investidores e mesmo alguns fazendeiros e empresários. O Vice Floriano Peixoto governou com mãos de ferro nos 2 anos e meio seguintes, chocando-se com as forças econômicas dominantes na época e com setores militares, particularmente a Marinha, que liderou a segunda Revolta da Armada em 1893. Em 1894 ocorreu a primeira eleição direta para Presidente no Brasil, em que se elegeu Prudente de Morais com 88% dos votos, uma eleição em que o número fantástico de 203 candidatos se inscreveu, e em que o número miserável de 356 mil eleitores (2% da população na época) votou.
O outro exemplar do Estadão a que me referi no início deste artigo foi o de 28 de Abril de 1991, 25 anos atrás, e 100 anos depois dos eventos relatados acima. A primeira página deste exemplar estampava uma notícia intitulada “Economia Brasileira Chega ao Fundo do Poço”, na qual lia-se, em seu primeiro parágrafo: “O número de desempregados passou de 1 milhão na Grande São Paulo, o salário médio perdeu um terço de seu valor real, de Fevereiro de 1990 a Fevereiro de 1991, e a produção industrial caiu 12% no mesmo período”. Um desastre de proporções pantagruélicas, com a inflação já atingindo 55,77% no acumulado dos 3 primeiros meses de 1991. Resultado de uma contração monetária sem precedentes, onde 80% do volume de moeda na economia foi retirado de circulação (parte dele efetivamente confiscado), principal medida do chamado Plano Brasil Novo (mais conhecido como Plano Collor I), estabelecido no início de 1990, e de uma péssima administração do processo de remonetização da economia, a crise brutal que abateu o país naquele ano levou a uma oposição cada vez mais forte ao governo, e às investigações que culminaram no processo de impeachment de Fernando Collor. Com sua renúncia no final de Setembro de 1992, assumiu o seu Vice, Itamar Franco, que governou por pouco mais de 2 anos, apoiado por uma coalizão de forças políticas.     
Foram, portanto, duas datas em que a sociedade enfrentava crises política e econômica extremamente graves, resultado de políticas econômicas equivocadas e mal administradas, como enfrentamos hoje. Não tenho qualquer intenção de comparar, obviamente, as quedas de Presidentes ocorridas nos contextos acima com a eventual substituição do governo atual. O contexto político não é comparável. Nos primeiros anos da República, no final do século XIX, enfrentamos regimes ditatoriais. Em 1991, tínhamos apenas 6 anos de democracia restabelecida após 21 anos de regime militar, e as instituições estavam apenas iniciando um processo de reconstrução, desenhado a partir da Constituição de 1988. A única coisa que podemos comparar é a tragédia humana e o drama pessoal de milhões de cidadãos, causado por crises econômicas devastadoras como a que enfrentamos hoje, e como as que ocorreram em 1891 e 1991.
Carlos Emanuel