Como chove neste Recife e arredores! Parece a
Macondo de García Márquez. E o preparo para suportar tanta chuva sem desastres
ambientais e humanos há muito tempo não é preocupação dos nossos governantes,
que afirmam não ter dinheiro pra nada, embora estranhamente tanto se apeguem a
seus cargos. Espírito de sacrifício? Seria?
Aproveito esta postagem para passar-lhes
comentário de um leitor sobre o que escrevi há cerca de uma semana, no Jornal do Commercio, sobre o ódio desconstrutivo
que assola este pobre país. Não transcrevo por ser elogioso, mas porque acrescenta
muito ao que eu disse. Tenho respondido até a quem me chama de nazista pelo
fato de eu atacar o governo sionista de Israel, genocida conforme o historiador
judeu e israelense Ilan Pape. O governo é uma coisa, o Estado de Israel é
outra.
Lá vai o comentário de que falo:
Li com deveras atenção e interesse direto
seu artigo de título acima. Isto por várias razões a seguir elencadas. Sua
constatação de que o ódio político se alastra entre amigos e famílias é bem
constatável e perceptível em qualquer reunião ou assembleia de condomínio. A
observação do Senador Cristovam Buarque, a quem tenho um apreço especial por
sua luta pela educação de qualidade em nosso país, é pertinente, pois nossos
vizinhos do sul foram atentos à educação e universidade logo após a proclamação
de suas respectivas repúblicas.
Sou de uma geração de pessoas que
beberam na fonte do saber de um Dom Hélder e de um Leonardo Boff, que sempre
pregaram a firmeza de ideias, sem ódio e sem medo. Quanto a questão desta
epidemia do ódio, permita-me uma observação: há que se ater às suas raízes e à
sua disseminação ao longo destes últimos tempos. Deslumbro essas raízes no
formato pelo qual as comunicações (TV, rádio e imprensa), contrapontos entre si
e muito menos o contraditório. O linguajar é uníssono e linear. Os noticiários
diários batem a mesma tecla e não se veem jornais com maior autonomia, com um
mínimo de discrepância com o cantar da perua. E qual a tecla que os une a
todos: um linguajar ora agressivo, ora dissimulado em notinhas capciosas desde
um simples debate esportivo que parte para uma digressão fora do arco até
notinhas "sociais" com alusões espicaçando uma situação dando ares de
neutralidade. E isto ocorre por que o monopólio das notícias está nas mãos de
poucos. E junto à destilação diária de ódio entre grupos; onde um lado ataca
com ampla repercussão e as respostas, quando ocorrem, são maliciosamente
editadas. Portanto, esta violência verbal tem uma origem, é filha da própria
imprensa e dos meios de comunicação. Quem dissemina ventos...
Fui contemporâneo e trabalhei com
ilustres e respeitáveis professores cuja convivência muito me animou no
trabalho árduo de ser professor. Assim trabalhei vários anos como professor
mais novo, na Escola João Barbalho e no antigo IEP onde lecionavam Ruy Bello,
Walter de Oliveira, Brekenfeld e outros não menos ilustres.
É verdade que o ensino era de alta
qualidade, o que me obrigava a preparar minhas aulas até altas horas da noite
para não me sentir humilhado. Todavia, devo confessar dois fatos: os estudantes
dessas escolas que lá chegavam, com poucas exceções, adentravam através de um
não sutil bilhete de um vereador ou mesmo de um deputado. Outro fato: naquele
período, o ensino público na prática não era universal em Pernambuco. Poucas
escolas do Ginásio ( hoje Ensino Fundamental) e do Segundo Grau ( hoje Ensino
Médio), principalmente no interior.
Quanto ao nosso Congresso é reflexo
do nosso sistema eleitoral e partidário até há pouco tempo financiado por
empresas privadas e públicas e que não prima pela fidelidade aos seus programas
e ideologias.
Para corrigir isto tudo solidarizo-me
à ideia de uma Constituinte exclusiva para dois temas: reforma partidária e
do sistema tributário muito distorcido e que enseja injustiças entre os
entes da federação. Todavia há uma contaminação generalizada que perpassa o Legislativo,
o Executivo e também o Judiciário. Daí a dificuldade de um colegiado
Constituinte formado de ilustres letrados e acadêmicos.
Nossa primeira Constituição foi
cunhada pela dos USA. Nosso sistema eleitoral também à sua semelhança. Mas
vejamos, nossos irmãos do Norte sofrem do mesmo problema: financiamento de
campanhas eleitorais por conglomerados empresariais que dominam na prática o
resultado final seja de que partido for. E tem pois este "pecado
original" difícil de ser remediado.
Se tivéssemos feito a nossa catarse
como o fizeram a Argentina, Uruguai, Chile, só para ficarmos nesses, não
teríamos esses bolsonaros apregoando um passado que nos mancha nem as bancadas
do BBB. Mas aqui já é outra história.
Com estas pretensiosas linhas, não
objetivo polemizar com V.S. mas trazer algumas reflexões provocadas por seu
oportuno texto.
Cordialmente
Tadeu Colares
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