quarta-feira, 11 de maio de 2016

DE MACONDO AO ÓDIO QUE NOS CONSOME

Como chove neste Recife e arredores! Parece a Macondo de García Márquez. E o preparo para suportar tanta chuva sem desastres ambientais e humanos há muito tempo não é preocupação dos nossos governantes, que afirmam não ter dinheiro pra nada, embora estranhamente tanto se apeguem a seus cargos. Espírito de sacrifício? Seria?
Aproveito esta postagem para passar-lhes comentário de um leitor sobre o que escrevi há cerca de uma semana, no Jornal do Commercio, sobre o ódio desconstrutivo que assola este pobre país. Não transcrevo por ser elogioso, mas porque acrescenta muito ao que eu disse. Tenho respondido até a quem me chama de nazista pelo fato de eu atacar o governo sionista de Israel, genocida conforme o historiador judeu e israelense Ilan Pape. O governo é uma coisa, o Estado de Israel é outra.
Lá vai o comentário de que falo:

Li com deveras atenção e interesse direto seu artigo de título acima. Isto por várias razões a seguir elencadas. Sua constatação de que o ódio político se alastra entre amigos e famílias é bem constatável e perceptível em qualquer reunião ou assembleia de condomínio. A observação do Senador Cristovam Buarque, a quem tenho um apreço especial por sua luta pela educação de qualidade em nosso país, é pertinente, pois nossos vizinhos do sul foram atentos à educação e universidade logo após a proclamação de suas respectivas repúblicas.
Sou de uma geração de pessoas que beberam na fonte do saber de um Dom Hélder e de um Leonardo Boff, que sempre pregaram a firmeza de ideias, sem ódio e sem medo. Quanto a questão desta epidemia do ódio, permita-me uma observação: há que se ater às suas raízes e à sua disseminação ao longo destes últimos tempos. Deslumbro essas raízes no formato pelo qual as comunicações (TV, rádio e imprensa), contrapontos entre si e muito menos o contraditório. O linguajar é uníssono e linear. Os noticiários diários batem a mesma tecla e não se veem jornais com maior autonomia, com um mínimo de discrepância com o cantar da perua. E qual a tecla que os une a todos: um linguajar ora agressivo, ora dissimulado em notinhas capciosas desde um simples debate esportivo que parte para uma digressão fora do arco até notinhas "sociais" com alusões espicaçando uma situação dando ares de neutralidade. E isto ocorre por que o monopólio das notícias está nas mãos de poucos. E junto à destilação diária de ódio entre grupos; onde um lado ataca com ampla repercussão e as respostas, quando ocorrem, são maliciosamente editadas. Portanto, esta violência verbal tem uma origem, é filha da própria imprensa e dos meios de comunicação. Quem dissemina ventos...
Fui contemporâneo e trabalhei com ilustres e respeitáveis professores cuja convivência muito me animou no trabalho árduo de ser professor. Assim trabalhei vários anos como professor mais novo, na Escola João Barbalho e no antigo IEP onde lecionavam Ruy Bello, Walter de Oliveira, Brekenfeld e outros não menos ilustres.
É verdade que o ensino era de alta qualidade, o que me obrigava a preparar minhas aulas até altas horas da noite para não me sentir humilhado. Todavia, devo confessar dois fatos: os estudantes dessas escolas que lá chegavam, com poucas exceções, adentravam através de um não sutil bilhete de um vereador ou mesmo de um deputado. Outro fato: naquele período, o ensino público na prática não era universal em Pernambuco. Poucas escolas do Ginásio ( hoje Ensino Fundamental) e do Segundo Grau ( hoje Ensino Médio), principalmente no interior.
Quanto ao nosso Congresso é reflexo  do nosso sistema eleitoral e partidário até há pouco tempo financiado por empresas privadas e públicas e que não prima pela fidelidade aos seus programas e ideologias.
Para corrigir isto tudo solidarizo-me à ideia de uma Constituinte exclusiva para dois temas: reforma partidária e  do sistema tributário muito distorcido e que enseja injustiças entre os entes da federação. Todavia há uma contaminação generalizada que perpassa o Legislativo, o Executivo e também o Judiciário. Daí a dificuldade de um colegiado Constituinte formado de ilustres letrados e acadêmicos.
Nossa primeira Constituição foi cunhada pela dos USA. Nosso sistema eleitoral também à sua semelhança. Mas vejamos, nossos irmãos do Norte sofrem do mesmo problema: financiamento de campanhas eleitorais por conglomerados empresariais que dominam na prática o resultado final seja de que partido for. E tem pois este "pecado original" difícil de ser remediado.
Se tivéssemos feito a nossa catarse como o fizeram a Argentina, Uruguai, Chile, só para ficarmos nesses, não teríamos esses bolsonaros apregoando um passado que nos mancha nem as bancadas do BBB. Mas aqui já é outra história.
Com estas pretensiosas linhas, não objetivo polemizar com V.S. mas trazer algumas reflexões provocadas por seu oportuno texto.
Cordialmente

Tadeu Colares

Nenhum comentário: