domingo, 31 de janeiro de 2016

CONCESSÕES NÃO SÃO PROPRIEDADES INALIENÁVEIS E O ESTADO TEM O DEVER DE REGULÁ-LAS



Meus amigos e amigas, esta semana não cumpri a promessa de fazer duas postagens, uma na segunda-terça e a outra na quinta-sexta. A culpa é da “privataria tucana”. Na sexta, houve aquele temporal e os concessionários de energia, liderados por visigodos da velha Espanha, aproveitaram para deixar Aldeia sem energia por 24 horas. Outras concessões, como telefonia, internet, também saíram do ar. Estou tentando enviar-lhes esta postagem de um lugar com melhores serviços e, como o tempo continua ruim, ela servirá para o fim de semana em curso e as próximas segunda e terça. Me perdoem e torçamos para que o Brasil se torne um país sério.
Durante o segundo mandato de Lula, o ministro Franklin Martins (FM) elaborou um anteprojeto de regulação dos meios de comunicação social objeto de concessão pelo Estado, basicamente rádio e TV. Visava somente à regulamentação de regras inscritas na Constituição vigente e deixadas pra lá pelo Congresso, tão dócil à farra de concessões sem regulação da dupla dinâmica Sarney-ACM e da dinastia dos Fernandos, e que, um pouco mais comedidamente, prossegue até hoje. Tivemos até, já no tempo do PT, um ministro apelidado de Plim-Plim, Paulo Bernardo, que engavetou a proposta de FM. Ao ser reeleita, Dilma Roussef falou publicamente sobre o anteprojeto de regulação. Depois calou-se. Nada mais disse nem lhe foi perguntado. Seu ministro  das Comunicações, porém, Ricardo Berzoini, embora nada tenha sido feito até agora, mostra simpatia em aplicar normas da Constituição nunca tiradas do papel, como veto a monopólios e oligopólios e proibição de congressistas  serem donos de concessões.
Como não poderia deixar de ser, tratando-se de um país submetido a um oligopólio em setor tão sensível (quase monopólio em que todos os barões da mídia eletrônica se entendem), logo que divulgado o projeto de FM, um barulho ensurdecedor levantou-se sobre o fantasma da censura que supostamente ameaçaria TVs e rádios se a proposta fosse aprovada e entrasse em vigor. À frente, comandando a batalha, o tão infame quanto impávido Jornal Nacional, da Globo, que quase não deixou Dilma falar em um “debate” eleitoral que promoveu Claro que se trata de posicionamento capcioso. Todos os países civilizados, inclusive, Grã-Bretanha, França, Estados Unidos, têm leis de regulação da mídia. Inclusive o imperador internacional da mídia, Ruppert Murdoch, teve de fechar, em Londres, um de seus jornais que abusava de achaques contra gente importante, inclusive da família real.
Quando essa turma supostamente inimiga da censura e que não hesita em censurar seus próprios jornais, televisões e rádios, fala em censura, dá vontade até de rir, se não fosse pra chorar. Liberdade de expressão é um direito sagrado de quem possui um meio de comunicação, dos jornalistas e também do público que lê jornal, ouve rádio e vê TV. Sabemos que não há direito sem dever. Quando falo em censura dos barões a sua própria mídia, refiro-me ao que faz a grande imprensa: sonegam informações contra seus interesses, distorcem notícias sob o pretexto de interpretá-las, dão notícias falsas e por aí vão.
Outra falácia é a confusão entre regulação (civilizada, boa, pois trata-se de concessões ) e controle. Ninguém, a não ser os próprios magnatas da mídia, algumas poucas e privilegiadas famílias, quer controlar TVs e rádios. O que se deseja é que essas concessões, que incluem as teles, vítimas da “privataria tucana”, obedeçam aos interesses da sociedade. Regulação não significa controle nem censura.
E o que está inscrito na Constituição e regulado pelo Congresso não poderá ser objeto de mudanças ao talante de eventuais governos. Estamos vendo na Argentina, agora sob o governo de um Aecinho de lá, a determinação de mudar, por decreto, a regulação da mídia conseguida, a duras penas, pelo governo anterior. Lá havia um quase-monopólio como o do grupo Globo daqui, o grupo Clarín, que agora pretende retomar a “liberdade de expressão”: autocensura, sonegação, manipulação. Sacanagem grossa contra a população.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A VIDA SEVERINA DO PASSAGEIRO DE TRANSPORTE PÚBLICO

Começo de ano, tudo aumentando, menos o salário da maioria, repete-se o tão manjado reajuste das tarifas de transporte público. As tarifas são quase automaticamente reajustadas, se se excetuam algumas encenações de objetividade e isenção. A qualidade do serviço, porém, vai sempre de mal a pior. Um serviço que teria de ser prestado diretamente pelo poder público, que é o responsável pela expulsão dos trabalhadores para longínquas periferias, é concedido a autoproclamados empresários, que visam a nada mais que o lucro. São ônibus sucateados, motoristas e cobradores despreparados, longuíssimos intervalos entre um e outro. Uma beleza. Em Aldeia, onde me escondo, a concessionária (parece que Metropolitana) põe ônibus de hora em hora entre Chã de Cruz e o terminal de Camaragibe. Se um quebrar, algo corriqueiro, o usuário tem de aguardar mais uma hora. E a maioria da população da região não possui carro particular para congestionar ainda mais os acessos ao Recife.
O metrô, uma grande esperança quando foi implantado, parou no tempo. Está sucateado e sem reposição. Novas linhas? Nem pensar; a crise justifica tudo. Os vagões são invadidos por vendedores e ladrões. Não se mantém nem repara o sistema. Lembro que, quando cheguei à Europa para estudar, em 1952, a 2ª Guerra Mundial tinha acabado havia só sete anos e os serviços públicos funcionavam melhor que no Brasil: trens (cadê os que tínhamos?), ônibus, bondes (aqui acabaram). E com tarifas bem razoáveis. Aqui, a tradicional privatização do dinheiro público, a incompetência generalizada, o fazer política como meio de vida só podem produzir o descalabro em que vivemos. Os responsáveis por tanta esculhambação vão morar em Miami (é só o que lhes interessa nos Estados Unidos; Nova York, a Nova Inglaterra, isso nem passa por cabeças tão ocas) ou por lá passam longas temporadas. Aparecem por cá de vez em quando para arrecadar suas rendas e transferi-las para paraísos fiscais.
Uma empresa paulista comprou a velha CTU por “dois tõe” (como falam os matutos), comprometendo-se a restaurar as redes aéreas e manter os ônibus elétricos. Cadê? Lembrando. Quando o grande prefeito que foi Pelópidas da Silveira implantou a CTU, no final dos anos 1950, os concessionários de linhas de ônibus estrebucharam e ciscaram um bocado. Fernando Coelho, que assessorava juridicamente o prefeito, conta a história. Aquele tipo de transporte desafogou muito o trânsito naquela época. Os que eram contra reclamavam de ônibus às vezes parados por falta de energia. Mas isso não era culpa da CTU. A Celpe, antes e depois de ser abiscoitada por gringos, não tem compromisso com a população e sim com seus acionistas.
Como lembro aqui frequentemente, os concessionários de linhas (sempre os mesmos; de vez em quando se finge uma licitação) são grandes contribuintes para campanhas políticas. Agora que pessoas jurídicas não podem mais dar dinheiro para essas campanhas, não sei como vai ficar. Quem sabe haja alguma melhora. Mas sempre se poderá dar um jeito malandro. Nossos políticos só vão melhorar de qualidade quando, e se, tivermos um dia uma Constituinte séria, exclusiva, composta por personalidades sem compromisso com a política profissional.

Pessoas, muitas, que se julgam bafejadas por Deus por terem carro particular (muitos pintam: presente de Deus ...) nem se lembram que mais de dois milhões utilizam o transporte público metropolitano. E são justamente aqueles cidadãos (tão privados de cidadania) para os quais alguns centavos a mais na catraca significam menos comida em casa, menos conforto, mais “vida severina”. Mesmo com tanto sacrifício, o usuário de transporte público rodoviário tem de esperar ônibus na chuva e no sol, viajar no aperto, chegar atrasado ao trabalho. Na Conde da Boa Vista, nos conta Felipe Vieira em reportagem no Jornal do Commercio, estações inacabadas do BRT (cadê a verba para terminar?) viraram dormitório para moradores de rua. O pessoal está andando a pé, quando a distância dá. O número de passageiros transportados vai caindo. E o poder público ainda subsidia um sistema tão ruim. Por que não operá-lo diretamente, melhorá-lo, como ocorre em países mais civilizados?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

QUE VIVA O SEMINÁRIO DE OLINDA E SUA IGREJA DE N.S. DA GRAÇA

O Seminário de Olinda tem uma longa e bela história de mais de 200 anos, fundado que foi pelo bispo de Olinda e Recife, dom Azeredo Coutinho, em 1800, ocupando instalações bem mais antigas onde havia funcionado um colégio dos padres jesuítas. Acredito que seja a mais antiga instituição de ensino superior do Brasil, pois os Cursos Jurídicos de Olinda e São Paulo só vieram 27 anos depois. Não havia, na época, a separação entre Igreja e Estado e a casa servia para a formação superior tanto de futuros padres como de leigos em busca de saber e que não tinham condições de ir estudar em Coimbra. Alguns dos nossos grandes revolucionários, muito maiores do que Tiradentes mas ignorados pela história oficial do país, ali estudaram. Frei Caneca é um deles.
Daí a simpatia com que foi recebida a notícia de que esse patrimônio histórico e arquitetônico está para ser restaurado, desde que a sociedade, o governo e quem se dispuser a colaborar entrem com sua parte. Nesse sentido, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, fez um pedido e iniciou uma campanha para arrecadar doações, inicialmente para a restauração da igreja de Nossa Senhora da Graça, que vem de 1551 e resistiu às brigas entre holandeses e portugueses. Está interditada desde maio do ano passado, junto com todo o conjunto, tendo os seminaristas se mudado para outro local. Estima-se em R$18 milhões a quantia necessária às obras de preservação. Somente da igreja. Recursos federais devem ser captados via Lei Rouanet.
Em países com maior quilometragem de civilização, o tombamento de uma construção, de um monumento, significa que ele é importante para a história e a cultura e por isso vai ser preservado pelo Estado. No Brasil, de um modo geral, o tombamento é apenas uma providência burocrática. É assim que, apesar de ter sido agraciada, pela Unesco, com o título de patrimônio da humanidade, Olinda corre o risco de perder tão honroso título, pois seus inúmeros monumentos estão caminhando celeremente para a ruína. Não se sabe onde vão parar as parcas verbas destinadas à preservação da história. Talvez a ideia do arcebispo de apelar também para doações não governamentais consiga o feito de levar tudo a bom termo em tempo hábil. Quem se interessar em fazer doações para a restauração do monumento pode procurar o site www.reconstrucaodoseminario.org.
Voltando à história do Seminário de Olinda. Ali repercutiram as ideias libertárias do iluminismo, da Revolução Francesa e da Revolução Americana (independência, federação, constituição, liberdades públicas etc.). Rousseau, Voltaire, Montesquieu, Diderot, D’Alembert alimentaram as mentes dos alunos do Seminário de Olinda. Revolucionários de 1817, 1824, da Praieira ali estudaram ou ensinaram.
Para mim, tudo o que se faz pela preservação dos marcos da nossa história e cultura e das de toda a humanidade é de suma importância. Mas essa restauração que se prepara agora me toca particularmente. Sou ex-aluno do Seminário de Olinda e, antes da interdição, os ex-alunos se reuniam anualmente para lembrar os velhos tempos, cantando o hino da instituição (muito bonito) e lembrando o latinório em cânticos e na missa.]



terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A BELA UTOPIA DE CARLOS ALBERTO DE MENEZES

O professor, pesquisador, escritor e meu amigo Luís Carvalheira de Mendonça acaba de lançar, em parceria com o escritor e pesquisador Marcelo Lins, o livro Carlos Alberto de Menezes, Um empreendedor a serviço de Nossa Senhora da Conceição. Luís Mendonça é consultor em história de pessoas e organizações, fez mestrado na FGV-Rio e doutorado em Aveiro (Portugal). Tem muitos livros publicados sobre pessoas empreendedoras e outros temas, como Petribu – Terra e homem; IMIP – Identidade, missão e trajetória; Empresários vencedores e suas histórias de sucesso; A invenção de Porto de Galinhas; Mascates (tese de doutorado). Marcelo Lins é autor ou coautor de Mercados do Recife; Mercados de ferro do Brasil; e Brasil e Bélgica – Cinco séculos de conexões e interações.
O livro recém-lançado contém uma breve trajetória do empresárioCarlos Alberto de Menezes, que adotou Pernambuco como sua terra e criou a Fábrica de Tecidos Camaragibe como cooperativa comercial que abrigava os operários e suas famílias. Eram os tempos da encíclica Rerum Novarum, do para Leão 13, que se opunha ao socialismo e tentava promover um capitalismo com mais atenção aos trabalhadores (bela utopia!).
Trata principalmente o livro do papel do empresário como discípulo de São Vicente de Paulo e na história de Nossa Senhora do Morro da Conceição. O monumento a Nossa Senhora foi inaugurado a 8 de dezembro de 1904 sob a égide da Sociedade de São Vicente. Posteriormente, ali foi colocada a imagem de Nossa Senhora da Conceição, fabricada na França. Vale a pena ler as peripécias de Carlos Alberto de Menezes e amigos, buscando o difícil objetivo de praticar o cristianismo num mundo que não é o Reino de Deus.
Vale a pena notar como o papado, que deveria se inspirar no Evangelho e no livro dos Atos dos Apóstolos, combateu tanto o socialismo, inclusive aquele de inspiração cristã. Lembremos que Engels, companheiro de Marx em seus escritos e ideias, inclusive no Manifesto Comunista, tinha a maior admiração pelos Atos dos Apóstolos. É escandaloso para um cristão acomodado na burguesia ler que os cristãos primitivos, no Oriente Médio, recolhiam de cada um conforme sua capacidade e distribuíam a cada um conforme sua necessidade. Só muito recentemente é que o papa Francisco faz questão de martelar as misérias do capitalismo: pobreza desumana, exploração, guerras sem fim, poluição da Terra e das almas etc. etc.
É por isso que eu sinto renovada a minha fé ( e isso deve acontecer com uma quantidade de cristãos) ao ver surgir no lúgubre panorama do Vaticano e da Cúria Romana um papa como Francisco. Ele representa uma subversão ampla e incrível nos imensos desvios da Igreja desde que o imperadpor Constantino decidiu fazer do cristianismo a religião oficial do Império Romano. Uma aberração em termos evangélicos, mas alegremente abraçada por bispos e outros hierarcas de repente promovidos a príncipes e latifundiários, além de proprietários das almas dos discípulos de Jesus Cristo.

Como o Império dividiu-se, mais tarde, entre Roma e Constantinopla, forçoso era que houvesse dois papas ... Aliás, quem instituiu o papado? Certamente não São Pedro. Até o século 5º, 6º, por aí, havia bispos muito mais importantes e acatados em outras cidades, como Santo Agostinho, por exemplo. Mais tarde, os desmandos dos papas se tornaram tão graves, como venda de indulgências, que Martinho Lutero, sem pretender fundar nenhuma nova igreja, levantou-se contra tanta sacanagem. E Calvino, entre outros reformadores. O papa-imperador de Roma excomungou todo mundo e continuou a imperar. E, ao contrário do que Cristo pediu, em sua Oração Sacerdotal, multiplicaram-se as confissões cristãs, que ultimamente degeneraram em financeiras da fé ...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

DO CAOS BRASILEIRO A TRAGÉDIAS PELO -MUNDO A FORA

Lendo hoje uma notícia sobre as tropelias do eSocial (o que é eSocial? É inglês, a língua do Império, ou é português?), fiquei matutando sobre a situação caótica deste país tropical , abençoado (?!) por Deus e bonito por natureza ... Com cerca de três meses de obrigação de uso, ninguém se entende e se arrisca a pagar o que não deve. Nem os grandes especialistas do governo sabem o que é certo e o que é errado.
Assim não dá, gente. Do máximo governante a supostos técnicos, dos presidentes do Senado e da Câmara Federal a prefeitos e vereadores, a mesma busca das vantagens (legítimas ou ilegítimas) do poder e não do exercício de uma administração decente; passando tudo por magistrados que se sentam sobre caixas-pretas ou ficam de plantão para conceder habeas corpus a amigos. O país em crise não vê ninguém procurando seriamente resolvê-la, simplesmente se empurra a dita com a barriga pra ver aonde vai chegar.
E como estamos em ano de eleições para prefeitos, a chusma de pretendentes a salvadores de nossas cidades só faz engrossar. Tem gente sem nenhuma experiência política, apenas uma alegada vivência literária, que quer ser prefeito da infeliz (quanto a administração) Olinda, só porque é irmão de Eduardo Campos, que tão tragicamente e cedo morreu. Tem um caso esclarecedor, na Região Metropolitana, de uma mancebo que não fazia nada na vida, só aporrinhava o pai que lhe pagava as despesas. Aí acendeu aquela luz: vou ser político. Após várias tentativas, virou vereador. Tão atuante na esperteza que logo virou deputado.
Se a gente tira o olho do caos brasileiro e olha pro mundo mais além, fica aturdido com tanta tragédia e ambição. Na Síria, há cerca de quatro anos, um ditador mantém o poder às custas da desgraça de seu povo, que morre de fome e de bala. Na Turquia, pretende-se acabar com um dos raríssimos regimes laicos em terras do Islã, luta-se contra os separatistas do Curdistão que querem ter seu Estado e ainda se ajuda na desgraça síria; como russos, estadunidenses e outros também ajudam. Enquanto isso, o tal de Califado ou Estado Islâmico só se fortalece, matando gente barbaramente e destruindo os monumentos históricos que conseguem. A Arábia Saudita não cai de podre devido à ajuda dos EUA (trata-se de uma ditadura monárquica “do bem”, porque interessa ao establishment dos EUA.
A briga entre a Rússia e a Ucrânia parece haver entrado em compasso de espera. Reflito cá comigo: a União Soviética servia para alguma coisa. Né? Enquanto ela se segurou, todas as repúblicas que a compunham viviam em paz, inclusive tchetechenos e outras pequenas minorias. Outra dissolução que provocou brigas intermináveis e o genocídio dos bósnios foi a da Iugoslávia. Enquanto Tito, que durante a guerra liderou os partisans, comunistas ou não, governou o país, havia muita prosperidade e, inclusive, uma distância política regulamentar em relação à URSS (o governo de Stálin e outros que se lhe seguiram considerava Josip Broz Tito um comunista heterodoxo). Bastou ele desaparecer para começar um briga feia entre croatas e sérvios, seguida pelo genocídio de bósnios etc.

A URSS servia também, ao menos, para um certo equilíbrio mundial. Os Estados Unidos não agiam tão unilateralmente na defesa de seus interesses e daqueles do assim dito “mundo livre”. O terrorismo exercido pelos multissecularmente oprimidos não ousava tanto, pois ainda se acreditava numa alternativa ao american way of life, à globalização aloprada, a um liberalismo desenfreado e antipovo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

SUDENE. CONVIVÊNCIA COM A SECA. FHC ABOMINA CARNE DE BODE

Além da crise que abala o mundo desde 2008, atualmente intensificada, e que no Brasil não é mais aquela marolinha de que falava Lula, o Nordeste ainda tem de enfrentar uma prolongada e cruel estiagem. O ex-presidente tinha razão quando queria dizer que a crise não mexia muito com o o nosso país naquela época, devido ao aprumo financeiro conquistado. A seca porém não depende de equilíbrio econômico-financeiro. Mas é preciso levar em conta que regiões muito mais secas do que o Nordeste e parte de Minas, como o Texas (EUA), o Estado de Israel, convivem com o fenômeno natural através de práticas de irrigação, de armazenagem de água e de uma agricultura adaptada à região. Os israelenses se orgulham de haver transformado o deserto em oásis.
No Brasil, um país sem projeto (já teve, mas perdeu) e herdeiro do escravagismo, de uma história política de golpes (Maioridade, República, Estado Novo, 1964 etc.) e do constante conluio dos herdeiros das capitanias e sesmarias contra o povo, o fenômeno das secas vem sendo tratado malandramente, como fatalidade, castigo de Deus, e constitui um achado para os que vêm embolsando verbas públicas e propinas há muito tempo. A diferença atualmente é que investiga-se e pune-se a malandragem, embora ainda haja muita coisa a investigar e punir. Outra tronchura: a punição é seletiva. Malandragens tucanas ainda ganham a proteção de magistrados.
No começo do século passado, foi criada a Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (Ifocs, que depois virou Departamento, o Dnocs). Pouco depois, o Ifocs era traduzido como “Imensos furtos operados contra os sertanejos”. A coisa vem de longe, não foi inventada pelo PT, embora este tivesse a obrigação de manter seus princípios. O processo de privatização, no governo do xogum Fernando 2º, também conhecido como FHC, foi uma patifaria só (vejam o livro Privataria tucana). Claro que havia empresas a privatizar (até a Editora José Olympio tinha sido estatizada) A ditadura adorava criar estatais para acomodar a turma que, alegadamente, chegara para moralizar. Mas algumas empresas estratégicas, como a Telebras, a Embratel e algumas outras, precisavam ser preservadas. Dona Margareth Thatcher, que inventou a desestatização lá na Grã-Bretanha, fez um processo de privatização decente, com pulverização de ações e não entrega literalmente a “amigos do rei” (o rei era Fernando 2º e o primeiro-ministro o aloprado Mota).
Voltando às secas. Acredito que hoje não se constroem mais açudes para deleite de latifundiários. Mas sabota-se a reforma agrária, a irrigação e a construção e distribuição de cisternas pré-fabricadas. Convém lembrar sempre, pois os mais jovens costumam esquecer o passado, o trabalho de uma missão israelense que andou por aqui, no tempo que a Sudene era Sudene, e deixou bons estudos (Israel é craque em convivência com a seca). Nunca saíram da prancheta. Nem na ditadura, nem quando o Sarneystão foi fraudulentamente ampliado, nem na dinastia dos dois Fernandos, nem nos governos do xogum e do PT.
Pesquisem na web um caderno especial editado pelo Jornal do Commercio (17 de setembro de 2013) sobre a questão, sob o título “Outro Sertão é possível”. É um trabalho muito bem feito e abrangente dos repórteres Felipe Lima, Adriana Guarda e Angela Fernanda Belfort, com fotografias de Heudes Regis e Alexandre Gondim. Ivanildo Sampaio, que na época era diretor de Redação do JC (hoje ele é coordenador do Comitê de Conteúdo de todo o Sistema JC), escreveu no caderno especial sobre a ideia plantada por Celso Furtado de convivência com a seca: “Vieram planos, vieram projetos, foram feitos experimentos com irrigação a partir de lençóis aquíferos subterrâneos. Ficou constatado que o Sertão é viável [...]. Um dia a Sudene acabou, por obra e graça do então presidente Fernando Henrique e do silêncio quase cúmplice dos nordestinos que o assessoravam. Alegava-se que a corrupção ali grassava, mas em lugar de nominarem, julgarem e condenarem os corruptos, preferiram o menor esforço de extinguir o órgão”.

Mais uma obra de FHC contra o Nordeste. Ele abomina carne de bode. Também, com tripas tão insignes.

sábado, 9 de janeiro de 2016

PODE-SE VIVER SEM UTOPIA (COMO EXTINGUIR ARMAS NUCLEARES)?

Essa notícia de que a Coreia do Norte, um dos países mais fechados do mundo e que proclama um comunismo totalmente fora de prumo, pior do que aquele tipo que terminou por estilhaçar a União Soviética, avançou em seu programa de produção de armas nucleares é extremamente preocupante. Nenhum país deveria ter armas desse tipo, nem os Estados Unidos, único país até agora a usá-las contra um país (o Japão) já em seus extertores no fim da 2ª Guerra Mundial. Em duas lapadas, mataram centenas de milhares de civis. Um terrorismo que o establishment estadunidense considera “do bem”, pois teria evitado mais baixas dos EUA e impedido a URSS de ocupar uma parte doJapão, contra o qual também estava em guerra.
O Brasil se recusou durante muito tempo a assinar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, inventado pelos EUA para que outros países não desenvolvessem nem a energia nuclear para fins pacíficos, como a produção de energia. Quem resolveu assiná-lo? Só poderia ser o xogum Fernando 2º, sempre obsequioso em relação aos desejos e imperativos estadunidenses. Israel, Índia, Paquistão podem ter até armas nucleares, não só produção pacífica. Agora aparece a Coreia de Pyongyang afirmando que já fez seu teste da bomba de hidrogênio. Assinando aquele tratado, o nosso país tem dificuldade na produção de energia de fonte nuclear, pois se submete a inspeções a que os EUA, a Rússia etc. não estão sujeitos.
Aonde nos levará a insensatez da dinastia familiar que governa aquele país desde os anos 1950? Vai empurrar uma bomba sobre a vizinha Coreia do Sul, extremamente desenvolvida? Ou mandar uma para o Japão? Será que a vizinha China, uma potência comunista com tinturas de capitalismo de Estado, conseguirá controlar os ímpetos belicosos do governo norte-coreano?
Já não bastam as inúmeras e infindáveis guerras tradicionais que a força dos produtores de armamentos espalha e sustenta pelo mundo afora, sobretudo no Oriente Médio? O governo dos EUA jogou suas duas bombas atômicas no longínquo Japão. E se os controladores do Estado de Israel decidirem experimentar as suas para completar a limpeza étnica dos palestinos? Como é que fica? São vizinhos, inclusive o governo sionista coloniza vastas áreas do pouco que sobrou da Palestina de 1967. Todo mundo ficará contaminado com irradiação nuclear. Ou é só pra fazer medo? E se o Paquistão e a Índia decidirem se enfrentar nuclearmente?

Não seria melhor todo mundo renunciar a tão perigosos e apocalípticos instrumentos bélicos? Mas aí já seria utopia. E se pode viver sem utopia? 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

QUEIMA DA LAPINHA. FOLIAS DE REIS

Estamos chegando ao Dia de Reis, com a queima da lapinha e folguedos populares por todo este imenso Brasil.O Dia de Reis é designado oficialmente pela Igreja comoe Epifania (aparecimento, manifestação, em grego) e, na maioria das igrejas orientais, é festejado como o Natal da Igreja Romana e de outras confissões cristãs ocidentais. A seguir, no calendário litúrgico cristão, vêm a Quaresma, Páscoa, Pentecostes, até chegarmos novamente ao Advento, que prepara a celebração do nascimento de Jesus Cristo.
Como sabemos, num cristianismo diluído como o nosso, não vivemos certamente segundo a descrição da vida dos primeiros, cristãos, narrada no livro dos Atos dos Apóstolos, onde ficamos sabendo como eles juntavam o que possuíam e faziam uma redistribuição a cada uma conforme suas necessidades, como se reuniam para a partilha do pão, o eucarístico e o do sustento físico, como pregavam o Evangelho a judeus e àqueles chamados de gentios, como São Pedro não exercia nenhuma administração monárquica, chegando a ser questionado pelos outros apóstolos e desafiado por São Paulo, que, este sim, tinha pretensões hegemônicas e era quem mandava mesmo (ou fazia força para isso), praticamente obrigando Pedro a viajar para Roma. Paulo só pensava em difundir o Evangelho no mundo greco-romano, enquanto Pedro era mais ligado ao mundo judaico e médio-oriental.
Hoje, nós (aqueles que nos dizemos cristãos) será que, nestas festas de fim de ano, prestamos uma atenção fraterna àqueles que nos servem em xópins, restaurantes, réveillons; bem como a outras pessoas obrigadas a trabalhar quando folgamos e que recebem, geralmente, remuneração baixíssima?

Bom seria fazermos um exame de consciência e tentarmos uma vida cristã mais autêntica durante o ano que temos pela frente, “O que fizerdes a um destes estareis fazendo a mim”, disse o Mestre. E lembremos: quantos ateus, agnósticos, fiéis de outras crenças levam uma vida muita mais cristão que a da maioria dos cristãos?

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

DE CRISE, CRISES, TERRORISMO (TEM ATÉ O DO BEM ...)

Estamos atravessando de um ano para outro. Tempo de balanços de nossa vida pessoal, familiar e também da vida do nosso país e do mundo. Foi 2015 um ano de crise no mundo todo, não só no Brasil. Crise que se arrasta desde 2008, quando bancos irresponsáveis, que transacionavam com papéis sem valor, geraram uma das maiores crises do capitalismo recente. É verdade que especulação é a marca registrada dos bancos e que o capitalismo vive em crises cíclicas. Mas o sensato seria que eles também pagassem pelos malfeitos. Na realidade, é a sociedade, sobretudo os assalariados que nem sequer poderiam especular se o quisessem, que é obrigada, pelo manda-chuvismo do capital financeiro secundado por governos pouco representativos, a pagar a amarga conta. Veja-se o caso exemplar da Grécia e, em menor garu, o do nosso país, onde um executivo do Bradesco foi nomeado, por um governo que se diz popular, para gerir a Fazenda.
Quando a atual crise se iniciou, o então presidente Lula disse que, no Brasil, ela era uma marolinha. Tinha razão, pois, naquele momento, o país tinha como enfrentá-la sem castigar tanto o povo. De lá para cá as coisas mudaram muito. A crise foi se agravando. E Dilma não é Lula. Apesar de uma certa incompetência da nossa presidente, ninguém tem o direito de pedir sua deposição, por impeachment, pois o país já está cansado de tanto golpe. E o impeachment de Fernando 1º (o Collorido), esse não foi golpe? Assim não pareceu a ninguém, tantos foram os desmandos do "caçador de marajás" em pouquíssimo tempo de desgoverno, incluindo comprovado enriquecimento ilícito.
No resto do mundo, a crise mais braba mesmo é a terrorismo. Os povos oprimidos desde as Cruzadas e os "descobrimentos", colonizados, brutalizados pelas grandes potências acordaram para a luta, a vingança. E não foi para reivindicar seus direitos  nas mesas de discussões e na valorização do que é deles (petróleo, por exemplo). Os instintos mais primitivos de vingança e uma mistura démodée entre política e religião levaram egos inflados e deletérios a tomar o poder sobre vastas regiões (caso do Califado ou Estado Islâmico), onde assassinam não só fiéis de outras religiões, mas até dissidentes do islamismo, além de destruir monumentos multisseculares da civilização. Com o dinheiro obtido do petróleo, contrabandeado tranquilamente, eles podem financiar ataques mortíferos por quase toda parte, como o que ocorreu em novembro em Paris. Paris, a capital do mundo tão gostosa e tranquila dos meus tempos de estudante, apesar de saindo de uma guerra sanguinária.
Como sempre falo, o terrorismo não é privilégio de islamitas radicais. As Cruzadas não foram atos de terrorismo? A destruição de impérios como o asteca, o maia, o inca, a chacina dos índios dos EUA, a matança um pouco menor de índios no Brasil, a bárbara colonização da África e de continentes menos desenvolvidos, as bombas atômicas lançadas sobre o Japão, os bombardeios de populações inteiras na 2ª Guerra Mundial? Nada disso foi terrorismo, simplesmente por ter sido iniciativa de brancos e ricos? Existe terrorismo do mal e do bem, como, para certos países, há ditaduras do mal e do bem?
Que 2016 seja bem melhor que 2015 para todos nós. No Brasil e no mundo. Amém.