segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

BUROCRACIA CLASSISTA BURGUESA INFERNIZA A VIDA DO POVÃO

Prezadas e prezados que me acompanham nestas postagens, seja sempre ou esporadicamente, permitam-me hoje algumas divagações, incluindo comparações entre Pindorama e a velha Europa. Há alguns instantes, nossa secretária do lar (doméstica, dado o nosso passado escravagista, lembra mucama) Nita se preparava para tomar um ônibus, se é que essas desgraças sucateadas merecem esse nome, para Chã de Cruz, onde ela mora, a três quilômetros do meu esconderijo aldeense. São só três quilômetros, mas neles cabe toda a vergonha do descuido dos potentados com tudo o que se refere ao povão
Observo que a obrigação de ter carro próprio, para a classe média mais média brasileira, é abominável. Você já paga impostos escorchantes e sem retorno e ainda tem de arcar com as prestações do rodante e de sua manutenção, do seguro. Com tudo o que os desgovernos lhe arrancam, daria para você ter um transporte público decente, atendimento médico-hospitalar, escola que faça de seu filho uma pessoa educada e instruída etc. Qual o quê? Você ainda tem de sustentar os negociantes da saúde e do ensino, enfrentar imensos engarrafamentos que tolhem carros privados e transporte público. O travamento final vem aí, gente.
Nita nos conta que, além do transporte ruim, coisa para animais irracionais (e olhe lá), ela tem dificuldade com um cartão recarregável aí que falha frequentemente, com um treco que engole o dinheiro, mas só se a cédula for bem novinha e cheirosa, como essas que circulam na mão do povão... A impressão que tudo isso deixa é de que a burocracia classista burguesa tem um departamento de especialistas em aporrinhar o povão e infernizar sua vida.
Aí eu peço licença a vocês para dar uma voltinha saudosa pela velha Europa, onde estudei há mais de 60 anos. Não pretendo dizer que eu seria o tal por ter feito meu curso de teologia ali, de 1952 a 1957. Naquele tempo, não havia tantas bolsas como hoje, mas na época eu era seminarista e vivia às custas da Santa Madre. Eu não sabia nem o que era emprego e salário. Trabalho sim, pois estudo é trabalho e dos grandes.
Quando eu cheguei a Roma no outono de 1952, depois de balouçar por umas duas semanas num navio daquele tempo, partindo do Rio (apesar de tudo, “continua lindo”), fazia apenas sete anos que havia terminado a guerra de 1939-45. Junto com tantos outros países, a Itália havia sofrido demais, apanhando de todos os lados, invadida pelos nazistas e depois pelos aliados, que a libertaram da barbárie, inclusive com a modesta colaboração da brasileira FEB. Sete anos após a rendição da Alemanha de Hitler, tudo funcionava perfeitamente na Itália: transportes urbanos e interurbanos, saúde, ensino, turismo (grande fonte de renda) etc.
Em trens com horários certos, se podia viajar barato por toda a Europa, menos o leste comunista. Os ônibus públicos de Roma eram geridos por uma empresa pública municipal que tinha a sigla SPQR (Senatus populusque romanus = o Senado e o povo de Roma), usada para abrir os decretos da Roma antiga. Eles tinham horário certo, não rodavam superapinhados, não cortavam paradas. Havia até as paradas obrigatórias e as fermate a richiesta, onde o carro parava quando se pedia. A propósito, o falecido professor Geraldo Lapenda, grande linguista e que foi reitor da UFPE, com quem eu me entendia muito bem, contou-me que também desembarcou na Itália como seminarista em Gênova, mas em 1945. Para ir de trem para Roma, era preciso ligar para a estação e saber a que horas saía um comboio. Mas funcionava, mesmo estando quase tudo em conserto após tanto bombardeio.
Depois, viajando durante as férias, conheci a Suíça, Alemanha, França, Bélgica. A Suíça, que ostenta neutralidade, mas lucrou muito com a guerra, estava intacta. Mas aqueles outros países, multo maltratados pela guerra, também estavam recompostos. É verdade que, com medo do comunismo, os americanos tinham investido bilhões de dólares, a fundo perdido, na reconstrução da Europa (Plano Marshall). Os europeus, no entanto, souberam aproveitar a ajuda. Também temendo o comunismo, quase todos os países ocidentais partiram para a construção do chamado Welfare State (Estado de Bem-Estar), que só agora as sucessivas crises do capitalismo começam a deixar de lado.
Falei acima que eu nem sabia o que era emprego e salário, graças à Santa Madre. Também nem sabia o que era carro particular. Não precisava, graças ao excelente transporte público europeu. Acredito que não era tão bom assim na Espanha e em Portugal, na época vivendo um atraso que vinha da Inquisição.

Gente, tá bom de parar, mas sou capaz de continuar este papo noutra postagem; mesmo porque, mesmo sem guerra, o Brasil (ou melhor sua Casa-Grande) optou pelo atraso.

domingo, 29 de janeiro de 2017

SÓ NOS LIVRAMOS DO GOLPE COM UMA CONSTITUINTE EXCLUSIVA JÁ

O desmonte a que aludi na postagem passada dirigida a vocês parece ser algo longa e extensamente planejado. Enquanto tolerava governos mais interessados no povo e aguardava que a nova modalidade de golpe aportasse em Pau Brasil, a inamovível Casa-Grande preparava e planejava a volta do país àquela velha e humilhante submissão a Washington e demais países ricos. Não esqueceram nada. A Petrobras teria que ser a primeira vítima, alvo desde a campanha d’O petróleo é nosso. Sintomaticamente, querem demolir também a TV pública: Todo o poder à Rede Globo, a emissora do golpe. Trabalhadores terão que trabalhar até morrer. Aposentadoria só pra gente fina, como ministros, altos executivos. Saúde e educação para quê? Empreiteiras brasileiras terão de abrir caminho para estrangeiras; não basta punir diretores corruptos. A Andrade Gutiérrez foi obrigada a vender alguns dos seus ativos mais valiosos e pode ser vendida a uma construtora chinesa.
Para o presidente da CUT Vagner Freitas “o objetivo é acabar com a democracia, com os direitos civis, com os sindicatos, com os partidos de esquerda. Sem os investimentos indispensáveis em saúde e educação, os serviços dessas áreas serão repassados a empresas privadas. Será a glória dos infames planos de saúde e das universidades e outras escolas privadas, que em geral não primam pela qualidade do ensino oferecido. Mendonça Filho, um expoente da educação nacional (!), como Roberto Freire o é da cultura nacional (!), pretende fazer uma reforma no ensino médio sem nenhuma consulta a especialistas. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), na qual nem o xogum Fernando 2º (FHC) ousou meter o bedelho, vai ser sacrificada aos deuses do mercado. Para que o nosso país não caminhe ainda mais para trás, precisamos nos livrar o quanto antes dos golpistas sem voto e sem mandato. Constituinte exclusiva já! Fora Temer!
                                                        *****
PS – Dia 7 de fevereiro se completam 108 anos do nascimento de Dom Helder. Dois dias antes, na igrejinha das Fronteiras, haverá uma celebração eucarística de ação de graças às 11h presidida por Dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife. No dia 7 às 18h, no Palácio dos Manguinhos, haverá a segunda Vigília da Esperança, promovida pelo Fórum Articulação de Leigos Cristãos. O tema será a reforma da Previdência Social pretendida pelo governo golpista.

Peço-lhes desculpa pelo atraso na postagem. É a “privataria tucana” (leiam o livro).

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

UM PAÍS DE GOLPES, PROCLAMAÇÕES, CONSTITUINTES VICIADAS

O nosso país não lutou pela independência. Foi um príncipe português que a “proclamou” em benefício da sua família e dos portugueses parasitas que haviam tomado conta do Rio de Janeiro. Quando chegou a hora da República, ela veio por um golpe militar inspirado numa doutrina sem pé nem cabeça chamada positivismo, segundo a qual a sociedade, o povo são incapazes e precisam ser tutelados. Por quem? Quem responder “pelo Exército” ganha uma bolsa na Escola Superior de Guerra. Lembremos que essas bolsas, ou simples convites, eram disputadíssimos por nossos políticos sem coluna vertebral à época da ditadura. Quem fez a Constituição do Império? O próprio imperador aloprado, após fechar a Constituinte. E a da República? O sanguinário Marechal Floriano, também depois de mandar os constituintes para casa.
Até a Revolução de 1930 seriamos governados por pequenos ditadores, acolitados por congressistas, todos “eleitos” em pantomimas em que os apuradores, nomeados pelo establishment, modificavam os resultados a seu bel prazer, a bico de pena, conforme a expressão usual. Quem fora eleito, mas não rezava pelo catecismo oficial, dançava. Quem não fora escolhido pelo povo, mas era da confiança oficial, subia. Isso foi se arrastando até que surgiu o movimento tenentista (mais tarde os tenentes foram cooptados pelo poder), apareceu a famosa Coluna Prestes, que rasgou o Brasil sem ser apanhada pelo Exército positivista. E, afinal, vieram a Revolução e a Era Vargas. Tem aí um sociólogo iluminado, Fernando 2º (FHC, que acaba de sair do armário golpista), que se orgulhava de lutar para acabar com Era Vargas.
Claro que Getúlio Vargas não foi nenhum santo, cometeu arbitrariedades, foi ditador de 1937 a 1945, quando a ditadura era moda na civilizada Europa. Mas ele tinha um projeto nacional, retomado em parte por Lula: promoveu a industrialização do país criando a Companhia Siderúrgica Nacional, o BNDES, a Petrobras, criou o salário mínimo, aumentando o número de consumidores, as leis trabalhistas, consolidadas na CLT (hoje ameaçada por mais um golpe). E se preparava para completar sua obra, depois de ser eleito democraticamente em 1950, quando foi levado ao suicídio por uma súcia de golpistas a serviço do capital estrangeiro. Preferiu matar-se a ser arrancado do Palácio do Catete pelo “Corvo” Carlos Lacerda e mais meia dúzia de militares e civis que não aceitavam o desenvolvimento autônomo do país.
O suicídio de Getúlio deixou os golpistas desorientados (a Carta Testamento os acusava clara e diretamente) e adiou por dez anos a tenebrosa ditadura de 1964-85. Quando os militares decidiram largar o osso que já haviam roído bastante, foi a grande ocasião de passar a limpo tanto golpe, tanta Constituinte composta por malandros da política, e chegou-se até a falar em uma Constituinte exclusiva. Mas a malandragem habitual exigiu que um Congresso com a má qualidade do que temos mais uma vez se arvorasse em Constituinte. Acharam pouco e os nossos bravos parlamentares já fizeram tantas emendas que a Constituição virou uma colcha de retalhos.

Mesmo assim o eleitorado conseguiu eleger Lula (como Getúlio, não é nenhum santo, mas...), que retomou bem ou mal aquele projeto nacional de desenvolvimento autônomo, sem submissão aos países ricos e seus interesses. O bondoso Tio Sam não gostou. Já não podia se servir dos militares latino-americanos desmoralizados por tantas ditaduras. Aí bolaram um novo tipo de golpe, logo testado com êxito no Paraguai e Honduras: derrubar os governantes eleitos não obedientes ao Império através de processos espúrios de impeachment, desde que o vice seja de confiança. No nosso país, deu certo e estamos no período de desmonte. Desmonte que será o tema da próxima postagem.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

LISTAS SUJAS. GENTE QUE SE LAMBUZA NO GOLPE E NA ESCRAVIDÃO

Mais uma vez a “privataria tucana” (leiam o livro) me pegou de mau jeito. Não só a internet prometida pelos beneficiários da privataria fugiu, mas também eu terminei perdendo o texto que havia produzido. Vou tentar recompor.
Desde 2003, o governo vinha divulgando uma Lista Suja do Trabalho Escravo, como é conhecido o “Cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de escravo”. Desde o ano passado, como é era de esperar, o governo golpista usurpador parou de publicá-la. Coincidentemente, em dezembro passado, o Brasil foi o primeiro país a ser condenado , pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, por não prevenir a prática de trabalho escravo e tráfico de pessoas.
Nada estranho em um país que utilizou largamente o trabalho escravo, já no segundo milênio do cristianismo que dizia professar, e que foi o último de influência ocidental a abolir a escravidão. E isto forçado pelo Império Britânico, a quem a prática não interessava mais. Aliás, os britânicos são conhecidos por um acendrado cristianismo, quando, por exemplo, fizeram duas guerras para obrigar os chineses a cultivar a consumir ópio. Que beleza esta nossa civilização ocidental e cristã!
Em 19 de dezembro passado, o juiz Rubens Curado Silveira, da 11º Vara do Trabalho de Brasília, determinou que a Lista Suja volte a ser publicada. Em vão. O governo golpista seria imune a decisões do Judiciário? Trata-se de um retrocesso em políticas públicas elogiadas por órgãos como a ONU e a Organização Internacional do Trabalho, segundo o procurador do Trabalho Tiago Muniz Cavalcanti: “A publicação da Lista Suja é uma política de Estado e não uma política de governo. O combate ao trabalho escravo tem de continuar”.
O jornalista Leonardo Sakamato, presidente da ONG Repórter Brasil, não esperou e tem conseguido obter a Lista Suja e divulgá-la, com a ajuda da Lei de Acesso à Informação. Latifundiários e gente da construção civil não estão nada satisfeitos. E existe um grupo majoritário que não quer ser confundido com os escravagistas, com receio de perder negócios em países mais civilizados.

Em tempo, o chefe da Casa Civil do governo ilegítimo, Eliseu Padilha (que alguns chamam de Eliseu Quadrilha), foi pilhado, numa fazendinha que tem em Mato Grosso, por suspeita de utilização de trabalho análogo à escravidão. Digníssimo desgoverno.

sábado, 21 de janeiro de 2017

O PATO DONALD, (QUEM DIRIA?), TERMINOU NA CASA BRANCA

Walt Disney, um cara implicado na deduragem contra colegas que caracterizou o pós-guerra nos Estados Unidos quando o senador McCarthy instituiu a sua inquisição, criou o Pato Donald, mas nunca imaginou que ele chegasse à Presidência do país. Brincadeira à parte, Donald Trump lembra o pato famoso, começando pela aparência assaz “pato”lógica. Na minha visão, observo na eleição de um ricaço tão brega e desconjuntado uma etapa da inexorável decadência do Império Americano. Tal decadência não é um desejo meu ou uma posição ideológica diante de um governo que tantas desgraças espalhou pelo mundo (e continua espalhando), notadamente em nuestra Latinoamérica, que vê como seu quintal, embora se diga um good neighbor.
Todos os impérios do mundo cresceram, se estabeleceram e, após um apogeu, entraram em decadência. Babilônia, Pérsia, Macedônia, Roma. Grã-Bretanha são exemplos. Por que com o Império Americano seria diferente? Como no mundo em que vivemos os países estão mais próximos, certamente a decadência estadunidense terá sua forma própria. Não vai precisar de invasões e outros tipos de violência. Basta, como já está acontecendo, a queda do poderio, outrora absoluto, do Almight Dollar.
Nosso mundo é enigmático. Quando a Europa decidiu se unir, cansada de guerra (que nem a Teresa Batista de Jorge Amado), desde o tempo em que o Mercado Comum abrangia somente seis países nos anos 1950, e também com a reaproximação entre Alemanha e França, houve muito entusiasmo, lá e no resto do mundo, principalmente com a criação da União Europeia (UE) e de uma moeda única. Um exemplo para o nosso Mercosul e para os projetos bolivarianos. Isso não evitou a atual situação periclitante da UE e do futuro do euro. Intrigante também é que, enquanto se construía a UE, ocorresse a traumática dissolução da ex-Iugoslávia, que funcionara tão bem sob a liderança carismática de Tito, e pipocassem tantos projetos separatistas, como na Catalunha. A Grã-Bretanha acostumou-se de tal maneira a colonizar o mundo que ainda mantém colônias até na Europa, como Irlanda do Norte e Gibraltar. E ultimamente resolveu abandonar a UE.

Voltando a Trump, os EUA nunca estiveram tão divididos como hoje, desde a Guerra da Secessão. A tradição é que presidentes em fim de mandato não criassem problemas para os sucessores eleitos, os quais também não se manifestavam sobre questões estratégicas extemporaneamente. Agora até os serviços de inteligência se aliam a um ou outro, o que sai e o que entra. Essa tendência pode levar os EUA a temerem mais de si mesmos do que da Rússia ou da China.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

DESGRAÇA POUCA É BOBAGEM. SUPOSTOS ESTUDANTES DESTROEM LABORATÓRIO

Segundo a filosofia popular, desgraça pouca é bobagem. Além de a crise mundial haver atingido em cheio o Brasil, nos últimos anos mais que no seu início, de quebra os sem voto decidiram golpear a democracia interrompendo o mandato da presidente eleita sem motivo constitucional. Em meio a tudo isso, uma prolongada seca atinge o Nordeste, dentro de um contexto em que nenhum governo até hoje experimentou aplicar medidas testadas com êxito em outras regiões áridas para conviver com a estiagem. Pesquisas não faltam com esse objetivo nem também práticas comprovadamente eficazes de “tourear” o miúra da seca.
Com as barragens de abastecimento d’água e de geração de energia de fonte hídrica em níveis baixíssimos, chama a nossa atenção o progresso da geração de energia de outras fontes, notadamente a solar e a eólica. Quem viaja pelo interior do Nordeste, e até pelo Rio Grande do Sul, encontra, com muita frequência, grandes parques de geração eólica, já em funcionamento e contribuindo para amenizar a escassez da fonte hídrica e poupar nossos bolsos de maiores gastos. São aquelas torres altas que lembram nossos velhos cataventos ou os moinhos de vento ibéricos que atraíam a ira de Dom Quixote, para espanto de seu fiel escudeiro Sancho Pança. Aqui tudo na paz da energia renovável.
Recente reportagem no Jornal do Commercio, de Adriana Guarda, nos informa que já é de 30% a participação da energia eólica no abastecimento da nossa região. Na matriz energética nacional, a participação é de 7%, podendo chegar a 12% (20 GW) em 2020. São 424 os parques eólicos instalados no país, na frente o Rio Grande do Norte com 125, sendo que Pernambuco tem 29 deles.
Estas informações nos levam a lembrar como ainda é precária a pesquisa no Brasil. Ficamos raramente felizes quando uma pesquisa brasileira é publicada em uma prestigiosa revista científica como a Science. É o caso da Tropical Rainfull Measuring Mission, liderada pela meteorologista Rachel Albrecht, da USP. A pesquisa mapeou as áreas da Terra onde caem mais raios.
Lamentavelmente, numa universidade que não tem os recursos da USP, como a nossa UFPE, vândalos que se intitulam estudantes e afirmam lutar por melhoras no ensino tenham invadido e destruído equipamentos e arquivos do Laboratório Liber de Imagem antes de liberar prédios ocupados com a razoável finalidade de protestar contra a PEC que limita investimentos federais por 20 anos, inclusive em educação. O laboratório foi criado há 20 anos e, além de pesquisas, é referência nacional no trabalho de digitalização de memória imagética.

Como explicar que gente que está recebendo ensino superior de primeira ordem e gratuito aja dessa maneira? Só lembrando que estamos no país em que presidiários comandam o crime organizado de dentro de suas prisões; há relativamente mais assassinatos que na guerra civil síria; um vice-presidente golpista assume o poder apoiado pelo Congresso e o Judiciário; as rodovias são quase totalmente intransitáveis; as ferrovias foram sucateadas e abandonadas; a navegação de cabotagem é nula etc. etc.etc.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O GOVERNO ILEGÍTIMO TRAMA UMA NOVA PRIVATIZAÇÃO DAS TELES

Em meio ao desmonte amplo, geral e irrestrito a que submetem o nosso país, nosso patrimônio público, o Estado, tudo, esse governo ilegítimo que se apossou do poder sem ser eleito prepara um presentão para as empresas de telecomunicações privatizadas por Fernando 2º (FHC) e seus cupinchas. Aparentemente o objetivo é acobertar o fracasso da Oi. Mas o péssimo desempenho da Anatel também seria contemplado. Basicamente, tenta-se mudar a lei para que as teles abiscoitadas por preço vil não precisem mais pagar para explorar um serviço que é público. Também não precisariam mais devolver o patrimônio público alugado nos famosos leilões do finalzinho do século passado (ver o livro Privataria tucana); nem aceitar metas de atendimento ao público. Tudo em troca de grossos investimentos em banda larga. Em suma, seria (ou será, pois o governo espúrio e o Congresso golpista se equivalem) a doação de bilhões de reais às teles numa área vital à soberania nacional. A mudança pilantra, e merecedora de piores adjetivos, pode ser a salvação da Oi, entre cujos acionistas há gente com boas relações com os golpistas.
A Lei Geral de Telecomunicações de 1997 trata dos “bens reversíveis”: quando as teles arremataram partes da Telebras aceitaram devolver futuramente, quando os contratos expirassem, em 2025, os bens necessários ao serviço, como cabos, prédios, antenas, incluindo as melhorias. Uma devolução automática, segundo aquela lei. Ocorre que a Anatel, uma agência reguladora criada na época, nunca cumpriu sua finalidade regulatória, praticamente servindo apenas para chancelar constantes e abusivos aumentos aos usuários. O que ocorre também com as demais agências criadas na época. E nada disso foi consertado nos governos petistas que se seguiram à “privataria”.
Está nas mãos da ministra Carmen Lúcia, presidente do STF, liberar o presidente espúrio para sancionar a lei imoral que só poderia ser engendrada na atual conjuntura. Lembremos que foi quando um compositor de escola de samba recebeu a tarefa de escrever um enredo sobre “a atual conjuntura” (era no tempo do outro golpe, aquele de 1964-85), ele tentou escrever e saiu o Samba do Crioulo Doido que contém pérolas como: “O vigário dos índios [Anchieta] aliou-se a Dom Pedro e acabou com a falseta: foi proclamada a escravidão”; “Dona Leopoldina virou trem e Dom Pedro é uma estação também. O trem tá atrasado ou já passou”. Tudo invenção de Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta). Indubitavelmente, estamos vivendo um outro samba do crioulo doido.

O essencial dos dados desta postagem recolhi de reportagem de André Barrocal na revista Carta Capital. Doravante, ou seja, de agora em diante, farei três postagens por semana, às segundas, quartas e sextas, desde que a “privataria tucana” me permita trabalhar aqui na periferia do Recife como se estivesse em Paris, Londres, Nova York.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

BICENTENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817

O candidato da Casa-Grande a presidente indireto, golpista recém-saído do armário, mais conhecido como o xogum Fernando 2º (FHC) é assim visto por Millor Fernandes: seus livros e falas melhoram só um pouquinho a pretensa literatura de José Sarney (Millor o chamava Sir Ney), por exemplo em Brejal dos Guajás. O grande desconstrutor da empáfia de certos sociólogos, literatos, intelectuais instituiu um prêmio para quem tivesse lido algum dos romances de Sir Ney. Fernando 2º só seria convocado a completar sua obra de destruição do patrimônio público de Pindorama se o atual golpista pifar completamente.
Mas meu tema de hoje é o bicentenário da Revolução Pernambucana de 1817. Repito mais uma vez minha observação sobre o fato de a história oficial do nosso país se concentrar no triângulo Rio-São Paulo-Minas. A bela e rica história do Nordeste, como também as do Rio Grande do Sul e de outras regiões, são solenemente ignoradas. Na luta pela independência de Portugal, o Nordeste, à frente Pernambuco, foi indubitavelmente pioneiro. No entanto, a historiografia oficial celebra Tiradentes, certamente um herói, como o grande mártir da independência do país. Ele e seu grupo não chegaram nem à luta efetiva, devido à traição de Silvério dos Reis. Já Pernambuco tem uma coleção de mártires que foram à luta e, derrotados por forças maiores do absolutismo lusitano, foram castigados inclusive com a morte. Basta citar Frei Caneca, Padre Roma (pai de Abreu e Lima, que lutou com Bolívar), José de Barros Lima (o Leão Coroado), Bernardo Vieira de Mello, Padre Antônio Pereira de Albuquerque, Padre Pedro de Souza Tenório, Padre João Ribeiro Montenegro, Frei Miguelinho e tantos outros. Infelizmente, a maioria dos professores do nosso Estado vai pelos manuais e historiadores sudestinos (há também muitos historialistas, que é como Paulo Henrique Amorim chama Elio Gaspari) e fica tudo por isso mesmo. Nem eles nem seus alunos leem Amaro Quintas, por exemplo, o que lhes poderia abrir os olhos para o nosso pioneirismo e o heroísmo de nossa gente.
A colônia vivia o regresso de Dom João 6º à Metrópole, o que incluía instruções ao herdeiro Pedro 1º para até fazer a independência, desde que sem prejudicar os interesses dos lusos aqui estabelecidos e daqueles de além-mar. Uma “independência” sui generis, muito longe da Revolução Americana e das brigas de Bolívar, San Martín e outros para expulsar os mandatários espanhóis da América do Sul. Nesse contexto, os patriotas que queriam independência de fato e geralmente também república, estavam indóceis à espreita de uma saída. Na virada do século 17 para o 18, tinha sido erigido o Seminário de Olinda, onde estudavam clérigos e também civis. O ensino ali ministrado recebia grande influência da França pós-revolucionária, dos iluministas e enciclopedistas. A maioria dos padres ali formados tinha tendências libertárias. O Seminário de Olinda foi, 27 anos antes da criação das escolas de direito de Olinda e São Paulo, uma das primeiríssimas escolas superiores do Brasil. Na época não havia distinção entre ensino público e privado.
Assim, as bandeiras revolucionárias foram abençoadas pela Igreja e a Revolução Pernambucana de 1817 é também conhecida como a Revolução dos Padres. Papel importante também tiveram nela sociedades secretas, como a maçonaria. Havia grande descontentamento devido à contribuição que Pernambuco era obrigado a dar para os gastos da família real, fugida de Portugal em 1808, com medo de Napoleão Bonaparte. O Recife e Olinda viviam na escuridão, enquanto seus habitantes eram forçados a enviar para o Rio grandes somas para custear salários, comida, iluminação, festas na corte. Os Estados Unidos deram apoio ao movimento, embora parco. Dois anos antes, tinham aberto aqui seu primeiro consulado no Brasil.
O movimento começou com a ocupação do Recife a 6 de março. Seu líder foi Domingos José Martins, apoiado por Frei Caneca e Antônio Carlos de Andrada e Silva (irmão do mais conhecido José Bonifácio). No dia 29, era convocada uma Assembleia Constituinte com representantes eleitos nas comarcas, que determinou a separação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, a liberdade de culto e de imprensa. Alguns impostos foram abolidos. Tropas vindas da Bahia e uma esquadra enviada do Rio conseguiram destruir o projeto idealista pernambucano, que durou até 19 de maio.
Sete anos depois, estava Pernambuco de novo liderando a Confederação do Equador, que abrangeu também o Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Pretendia a convocação de uma nova Assembleia Constituinte para a elaboração de uma Constituição de caráter liberal. Pedro 1º dissolvera a que convocara após a pseudoindependência e outorgara ao país uma Constituição à sua imagem e semelhança absolutista. E ainda acabar com o tráfico de escravos e formar um governo independente na região. O imperador apelou ao almirante inglês Thomas Cochrane, que rapidamente pôs fim ao movimento. Frei Caneca e Padre Mororó foram executados. Para castigar uma província rebelde que lhe dava tantas dores de cabeça, o autocrático monarca mutilou seu território, que ficou reduzido a cerca da metade. Perdemos Alagoas e a Comarca do São Francisco. Lembre-se que Minas nunca foi mutilada.

Vale a pena lembrar tudo isso.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

PARA CERTA MÍDIA, NOTÍCIA BOA PARA, POR EXEMPLO, A PETROBRAS DEVE SER SONEGADA

Vejamos uma notícia boa sobre a Petrobras, que a mídia nativa sonega a suas vítimas. Com o ligeiro aumento do preço do petróleo e o que ainda lhe resta, enquanto os golpistas não a entregam barato, a Petrobras teve bons lucros nos últimos meses. Atingiu em novembro a marca de 2,23 milhões de barris diários, preparando-se para retomar o lugar de empresa mais valiosa do país. Tudo à revelia da mídia golpista e da administração suicida que o atual desgoverno colocou lá. Torçamos para que o desgoverno não dure tanto que possa por em prática seus planos de reconduzir o Brasil ao status de colônia.
Enquanto isso, certa imprensa e meios de comunicação tradicionais (estes últimos sem a devida regulação; regulação praticada em países civilizados) deitam e rolam, riem que bem hienas com as perdas das grandes empreiteiras brasileiras aqui e no exterior, doidos para que elas se acabem dando espaço para empreiteiras estadunidenses, chinesas etc. Quem sabe seja esse o real objetivo do louvado juiz Moro, muito além da simples e merecida punição por malfeitos. Lembremos que há quem diga que, sem suborno e corrupção de duas vias, não há empreiteira que funcione no nosso país.
Guilherme Boulos, coordenador do MTST (o dos trabalhadores sem teto), opina que a Operação lava Jato, com sua condução seletiva e vazamentos calculados, foi decisiva para criar a instabilidade política necessária ao golpe. Quando o tão provinciano e vaidoso magistrado vazou ilegalmente aquela conversa entre Lula e Dilma sobre a nomeação do primeiro para um ministério, colocou-se claramente como ator do golpe então em marcha. Acha também que Teori Zavascki também deu sua contribuição, ao só afastar Eduardo Cunha da Presidência da Câmara depois que ele encaminhou a destituição da presidente eleita. O pedido de afastamento dormiu quatro meses nas mãos do juiz do Supremo. No meio de tudo isso, o governo golpista publica página inteira em grandes jornais brasileiros, ao apagar das luzes do trágico ano de 2016, para se autoelogiar; em primeiro lugar a PEC do teto de gastos públicos. Com as reformas da Previdência e da CLT, além dessa PEC, os intrusos, ilegítimos e golpistas mexeram em velhas garantias que nem a ditadura de 21 anos ousou mexer.

Sem nenhum compromisso com o povo, por não ter sido eleito nem ter votos, o governo golpista não tem freios nem limites. Será que vai dar para aguentar mais dois anos de desmandos? Diante da desqualificação do desgoverno Temer, até os que o apoiavam estão se afastando e tramando uma eleição indireta (por um Congresso desmoralizado por tantas acusações de crimes). Fernando 2º (FHC), recentemente saído do armário dos golpistas, é candidato imbatível ao trono, levando-se em conta a quantidade de agressões que cometeu contra o patrimônio e a soberania do Brasil.