quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

UM PAÍS DE GOLPES, PROCLAMAÇÕES, CONSTITUINTES VICIADAS

O nosso país não lutou pela independência. Foi um príncipe português que a “proclamou” em benefício da sua família e dos portugueses parasitas que haviam tomado conta do Rio de Janeiro. Quando chegou a hora da República, ela veio por um golpe militar inspirado numa doutrina sem pé nem cabeça chamada positivismo, segundo a qual a sociedade, o povo são incapazes e precisam ser tutelados. Por quem? Quem responder “pelo Exército” ganha uma bolsa na Escola Superior de Guerra. Lembremos que essas bolsas, ou simples convites, eram disputadíssimos por nossos políticos sem coluna vertebral à época da ditadura. Quem fez a Constituição do Império? O próprio imperador aloprado, após fechar a Constituinte. E a da República? O sanguinário Marechal Floriano, também depois de mandar os constituintes para casa.
Até a Revolução de 1930 seriamos governados por pequenos ditadores, acolitados por congressistas, todos “eleitos” em pantomimas em que os apuradores, nomeados pelo establishment, modificavam os resultados a seu bel prazer, a bico de pena, conforme a expressão usual. Quem fora eleito, mas não rezava pelo catecismo oficial, dançava. Quem não fora escolhido pelo povo, mas era da confiança oficial, subia. Isso foi se arrastando até que surgiu o movimento tenentista (mais tarde os tenentes foram cooptados pelo poder), apareceu a famosa Coluna Prestes, que rasgou o Brasil sem ser apanhada pelo Exército positivista. E, afinal, vieram a Revolução e a Era Vargas. Tem aí um sociólogo iluminado, Fernando 2º (FHC, que acaba de sair do armário golpista), que se orgulhava de lutar para acabar com Era Vargas.
Claro que Getúlio Vargas não foi nenhum santo, cometeu arbitrariedades, foi ditador de 1937 a 1945, quando a ditadura era moda na civilizada Europa. Mas ele tinha um projeto nacional, retomado em parte por Lula: promoveu a industrialização do país criando a Companhia Siderúrgica Nacional, o BNDES, a Petrobras, criou o salário mínimo, aumentando o número de consumidores, as leis trabalhistas, consolidadas na CLT (hoje ameaçada por mais um golpe). E se preparava para completar sua obra, depois de ser eleito democraticamente em 1950, quando foi levado ao suicídio por uma súcia de golpistas a serviço do capital estrangeiro. Preferiu matar-se a ser arrancado do Palácio do Catete pelo “Corvo” Carlos Lacerda e mais meia dúzia de militares e civis que não aceitavam o desenvolvimento autônomo do país.
O suicídio de Getúlio deixou os golpistas desorientados (a Carta Testamento os acusava clara e diretamente) e adiou por dez anos a tenebrosa ditadura de 1964-85. Quando os militares decidiram largar o osso que já haviam roído bastante, foi a grande ocasião de passar a limpo tanto golpe, tanta Constituinte composta por malandros da política, e chegou-se até a falar em uma Constituinte exclusiva. Mas a malandragem habitual exigiu que um Congresso com a má qualidade do que temos mais uma vez se arvorasse em Constituinte. Acharam pouco e os nossos bravos parlamentares já fizeram tantas emendas que a Constituição virou uma colcha de retalhos.

Mesmo assim o eleitorado conseguiu eleger Lula (como Getúlio, não é nenhum santo, mas...), que retomou bem ou mal aquele projeto nacional de desenvolvimento autônomo, sem submissão aos países ricos e seus interesses. O bondoso Tio Sam não gostou. Já não podia se servir dos militares latino-americanos desmoralizados por tantas ditaduras. Aí bolaram um novo tipo de golpe, logo testado com êxito no Paraguai e Honduras: derrubar os governantes eleitos não obedientes ao Império através de processos espúrios de impeachment, desde que o vice seja de confiança. No nosso país, deu certo e estamos no período de desmonte. Desmonte que será o tema da próxima postagem.

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