O nosso país não lutou pela independência.
Foi um príncipe português que a “proclamou” em benefício da sua família e dos
portugueses parasitas que haviam tomado conta do Rio de Janeiro. Quando chegou
a hora da República, ela veio por um golpe militar inspirado numa doutrina sem
pé nem cabeça chamada positivismo, segundo a qual a sociedade, o povo são
incapazes e precisam ser tutelados. Por quem? Quem responder “pelo Exército”
ganha uma bolsa na Escola Superior de Guerra. Lembremos que essas bolsas, ou
simples convites, eram disputadíssimos por nossos políticos sem coluna
vertebral à época da ditadura. Quem fez a Constituição do Império? O próprio
imperador aloprado, após fechar a Constituinte. E a da República? O sanguinário
Marechal Floriano, também depois de mandar os constituintes para casa.
Até a Revolução de 1930 seriamos governados
por pequenos ditadores, acolitados por congressistas, todos “eleitos” em
pantomimas em que os apuradores, nomeados pelo establishment, modificavam os
resultados a seu bel prazer, a bico de pena, conforme a expressão usual. Quem
fora eleito, mas não rezava pelo catecismo oficial, dançava. Quem não fora
escolhido pelo povo, mas era da confiança oficial, subia. Isso foi se
arrastando até que surgiu o movimento tenentista (mais tarde os tenentes foram
cooptados pelo poder), apareceu a famosa Coluna Prestes, que rasgou o Brasil
sem ser apanhada pelo Exército positivista. E, afinal, vieram a Revolução e a
Era Vargas. Tem aí um sociólogo iluminado, Fernando 2º (FHC, que acaba de sair
do armário golpista), que se orgulhava de lutar para acabar com Era Vargas.
Claro que Getúlio Vargas não foi nenhum
santo, cometeu arbitrariedades, foi ditador de 1937 a 1945, quando a ditadura
era moda na civilizada Europa. Mas ele tinha um projeto nacional, retomado em
parte por Lula: promoveu a industrialização do país criando a Companhia
Siderúrgica Nacional, o BNDES, a Petrobras, criou o salário mínimo, aumentando
o número de consumidores, as leis trabalhistas, consolidadas na CLT (hoje
ameaçada por mais um golpe). E se preparava para completar sua obra, depois de
ser eleito democraticamente em 1950, quando foi levado ao suicídio por uma
súcia de golpistas a serviço do capital estrangeiro. Preferiu matar-se a ser
arrancado do Palácio do Catete pelo “Corvo” Carlos Lacerda e mais meia dúzia de
militares e civis que não aceitavam o desenvolvimento autônomo do país.
O suicídio de Getúlio deixou os golpistas
desorientados (a Carta Testamento os acusava clara e diretamente) e adiou por
dez anos a tenebrosa ditadura de 1964-85. Quando os militares decidiram largar
o osso que já haviam roído bastante, foi a grande ocasião de passar a limpo
tanto golpe, tanta Constituinte composta por malandros da política, e chegou-se
até a falar em uma Constituinte exclusiva. Mas a malandragem habitual exigiu
que um Congresso com a má qualidade do que temos mais uma vez se arvorasse em
Constituinte. Acharam pouco e os nossos bravos parlamentares já fizeram tantas
emendas que a Constituição virou uma colcha de retalhos.
Mesmo assim o eleitorado conseguiu eleger
Lula (como Getúlio, não é nenhum santo, mas...), que retomou bem ou mal aquele
projeto nacional de desenvolvimento autônomo, sem submissão aos países ricos e
seus interesses. O bondoso Tio Sam não gostou. Já não podia se servir dos
militares latino-americanos desmoralizados por tantas ditaduras. Aí bolaram um
novo tipo de golpe, logo testado com êxito no Paraguai e Honduras: derrubar os
governantes eleitos não obedientes ao Império através de processos espúrios de
impeachment, desde que o vice seja de confiança. No nosso país, deu certo e estamos
no período de desmonte. Desmonte que será o tema da próxima postagem.
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