O candidato da Casa-Grande a presidente
indireto, golpista recém-saído do armário, mais conhecido como o xogum Fernando
2º (FHC) é assim visto por Millor Fernandes: seus livros e falas melhoram só um
pouquinho a pretensa literatura de José Sarney (Millor o chamava Sir Ney), por
exemplo em Brejal dos Guajás. O
grande desconstrutor da empáfia de certos sociólogos, literatos, intelectuais instituiu
um prêmio para quem tivesse lido algum dos romances de Sir Ney. Fernando 2º só
seria convocado a completar sua obra de destruição do patrimônio público de
Pindorama se o atual golpista pifar completamente.
Mas meu tema de hoje é o bicentenário da
Revolução Pernambucana de 1817. Repito mais uma vez minha observação sobre o
fato de a história oficial do nosso país se concentrar no triângulo Rio-São
Paulo-Minas. A bela e rica história do Nordeste, como também as do Rio Grande
do Sul e de outras regiões, são solenemente ignoradas. Na luta pela
independência de Portugal, o Nordeste, à frente Pernambuco, foi
indubitavelmente pioneiro. No entanto, a historiografia oficial celebra
Tiradentes, certamente um herói, como o grande mártir da independência do país.
Ele e seu grupo não chegaram nem à luta efetiva, devido à traição de Silvério
dos Reis. Já Pernambuco tem uma coleção de mártires que foram à luta e,
derrotados por forças maiores do absolutismo lusitano, foram castigados
inclusive com a morte. Basta citar Frei Caneca, Padre Roma (pai de Abreu e
Lima, que lutou com Bolívar), José de Barros Lima (o Leão Coroado), Bernardo
Vieira de Mello, Padre Antônio Pereira de Albuquerque, Padre Pedro de Souza
Tenório, Padre João Ribeiro Montenegro, Frei Miguelinho e tantos outros.
Infelizmente, a maioria dos professores do nosso Estado vai pelos manuais e
historiadores sudestinos (há também muitos historialistas, que é como Paulo
Henrique Amorim chama Elio Gaspari) e fica tudo por isso mesmo. Nem eles nem
seus alunos leem Amaro Quintas, por exemplo, o que lhes poderia abrir os olhos
para o nosso pioneirismo e o heroísmo de nossa gente.
A colônia vivia o regresso de Dom João 6º à
Metrópole, o que incluía instruções ao herdeiro Pedro 1º para até fazer a
independência, desde que sem prejudicar os interesses dos lusos aqui
estabelecidos e daqueles de além-mar. Uma “independência” sui generis, muito
longe da Revolução Americana e das brigas de Bolívar, San Martín e outros para
expulsar os mandatários espanhóis da América do Sul. Nesse contexto, os
patriotas que queriam independência de fato e geralmente também república, estavam
indóceis à espreita de uma saída. Na virada do século 17 para o 18, tinha sido
erigido o Seminário de Olinda, onde estudavam clérigos e também civis. O ensino
ali ministrado recebia grande influência da França pós-revolucionária, dos
iluministas e enciclopedistas. A maioria dos padres ali formados tinha
tendências libertárias. O Seminário de Olinda foi, 27 anos antes da criação das escolas
de direito de Olinda e São Paulo, uma das primeiríssimas escolas superiores do
Brasil. Na época não havia distinção entre ensino público e privado.
Assim, as bandeiras revolucionárias foram
abençoadas pela Igreja e a Revolução Pernambucana de 1817 é também conhecida
como a Revolução dos Padres. Papel importante também tiveram nela sociedades
secretas, como a maçonaria. Havia grande descontentamento devido à contribuição
que Pernambuco era obrigado a dar para os gastos da família real, fugida de
Portugal em 1808, com medo de Napoleão Bonaparte. O Recife e Olinda viviam na
escuridão, enquanto seus habitantes eram forçados a enviar para o Rio grandes
somas para custear salários, comida, iluminação, festas na corte. Os Estados
Unidos deram apoio ao movimento, embora parco. Dois anos antes, tinham aberto
aqui seu primeiro consulado no Brasil.
O movimento começou com a ocupação do Recife
a 6 de março. Seu líder foi Domingos José Martins, apoiado por Frei Caneca e
Antônio Carlos de Andrada e Silva (irmão do mais conhecido José Bonifácio). No
dia 29, era convocada uma Assembleia Constituinte com representantes eleitos
nas comarcas, que determinou a separação entre os poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, a liberdade de culto e de imprensa. Alguns impostos
foram abolidos. Tropas vindas da Bahia e uma esquadra enviada do Rio
conseguiram destruir o projeto idealista pernambucano, que durou até 19 de
maio.
Sete anos depois, estava Pernambuco de novo
liderando a Confederação do Equador, que abrangeu também o Ceará, Rio Grande do
Norte e Paraíba. Pretendia a convocação de uma nova Assembleia Constituinte
para a elaboração de uma Constituição de caráter liberal. Pedro 1º dissolvera a
que convocara após a pseudoindependência e outorgara ao país uma Constituição à
sua imagem e semelhança absolutista. E ainda acabar com o tráfico de escravos e
formar um governo independente na região. O imperador apelou ao almirante
inglês Thomas Cochrane, que rapidamente pôs fim ao movimento. Frei Caneca e
Padre Mororó foram executados. Para castigar uma província rebelde que lhe dava
tantas dores de cabeça, o autocrático monarca mutilou seu território, que ficou
reduzido a cerca da metade. Perdemos Alagoas e a Comarca do São Francisco.
Lembre-se que Minas nunca foi mutilada.
Vale a pena lembrar tudo isso.
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