quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

BICENTENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817

O candidato da Casa-Grande a presidente indireto, golpista recém-saído do armário, mais conhecido como o xogum Fernando 2º (FHC) é assim visto por Millor Fernandes: seus livros e falas melhoram só um pouquinho a pretensa literatura de José Sarney (Millor o chamava Sir Ney), por exemplo em Brejal dos Guajás. O grande desconstrutor da empáfia de certos sociólogos, literatos, intelectuais instituiu um prêmio para quem tivesse lido algum dos romances de Sir Ney. Fernando 2º só seria convocado a completar sua obra de destruição do patrimônio público de Pindorama se o atual golpista pifar completamente.
Mas meu tema de hoje é o bicentenário da Revolução Pernambucana de 1817. Repito mais uma vez minha observação sobre o fato de a história oficial do nosso país se concentrar no triângulo Rio-São Paulo-Minas. A bela e rica história do Nordeste, como também as do Rio Grande do Sul e de outras regiões, são solenemente ignoradas. Na luta pela independência de Portugal, o Nordeste, à frente Pernambuco, foi indubitavelmente pioneiro. No entanto, a historiografia oficial celebra Tiradentes, certamente um herói, como o grande mártir da independência do país. Ele e seu grupo não chegaram nem à luta efetiva, devido à traição de Silvério dos Reis. Já Pernambuco tem uma coleção de mártires que foram à luta e, derrotados por forças maiores do absolutismo lusitano, foram castigados inclusive com a morte. Basta citar Frei Caneca, Padre Roma (pai de Abreu e Lima, que lutou com Bolívar), José de Barros Lima (o Leão Coroado), Bernardo Vieira de Mello, Padre Antônio Pereira de Albuquerque, Padre Pedro de Souza Tenório, Padre João Ribeiro Montenegro, Frei Miguelinho e tantos outros. Infelizmente, a maioria dos professores do nosso Estado vai pelos manuais e historiadores sudestinos (há também muitos historialistas, que é como Paulo Henrique Amorim chama Elio Gaspari) e fica tudo por isso mesmo. Nem eles nem seus alunos leem Amaro Quintas, por exemplo, o que lhes poderia abrir os olhos para o nosso pioneirismo e o heroísmo de nossa gente.
A colônia vivia o regresso de Dom João 6º à Metrópole, o que incluía instruções ao herdeiro Pedro 1º para até fazer a independência, desde que sem prejudicar os interesses dos lusos aqui estabelecidos e daqueles de além-mar. Uma “independência” sui generis, muito longe da Revolução Americana e das brigas de Bolívar, San Martín e outros para expulsar os mandatários espanhóis da América do Sul. Nesse contexto, os patriotas que queriam independência de fato e geralmente também república, estavam indóceis à espreita de uma saída. Na virada do século 17 para o 18, tinha sido erigido o Seminário de Olinda, onde estudavam clérigos e também civis. O ensino ali ministrado recebia grande influência da França pós-revolucionária, dos iluministas e enciclopedistas. A maioria dos padres ali formados tinha tendências libertárias. O Seminário de Olinda foi, 27 anos antes da criação das escolas de direito de Olinda e São Paulo, uma das primeiríssimas escolas superiores do Brasil. Na época não havia distinção entre ensino público e privado.
Assim, as bandeiras revolucionárias foram abençoadas pela Igreja e a Revolução Pernambucana de 1817 é também conhecida como a Revolução dos Padres. Papel importante também tiveram nela sociedades secretas, como a maçonaria. Havia grande descontentamento devido à contribuição que Pernambuco era obrigado a dar para os gastos da família real, fugida de Portugal em 1808, com medo de Napoleão Bonaparte. O Recife e Olinda viviam na escuridão, enquanto seus habitantes eram forçados a enviar para o Rio grandes somas para custear salários, comida, iluminação, festas na corte. Os Estados Unidos deram apoio ao movimento, embora parco. Dois anos antes, tinham aberto aqui seu primeiro consulado no Brasil.
O movimento começou com a ocupação do Recife a 6 de março. Seu líder foi Domingos José Martins, apoiado por Frei Caneca e Antônio Carlos de Andrada e Silva (irmão do mais conhecido José Bonifácio). No dia 29, era convocada uma Assembleia Constituinte com representantes eleitos nas comarcas, que determinou a separação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, a liberdade de culto e de imprensa. Alguns impostos foram abolidos. Tropas vindas da Bahia e uma esquadra enviada do Rio conseguiram destruir o projeto idealista pernambucano, que durou até 19 de maio.
Sete anos depois, estava Pernambuco de novo liderando a Confederação do Equador, que abrangeu também o Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Pretendia a convocação de uma nova Assembleia Constituinte para a elaboração de uma Constituição de caráter liberal. Pedro 1º dissolvera a que convocara após a pseudoindependência e outorgara ao país uma Constituição à sua imagem e semelhança absolutista. E ainda acabar com o tráfico de escravos e formar um governo independente na região. O imperador apelou ao almirante inglês Thomas Cochrane, que rapidamente pôs fim ao movimento. Frei Caneca e Padre Mororó foram executados. Para castigar uma província rebelde que lhe dava tantas dores de cabeça, o autocrático monarca mutilou seu território, que ficou reduzido a cerca da metade. Perdemos Alagoas e a Comarca do São Francisco. Lembre-se que Minas nunca foi mutilada.

Vale a pena lembrar tudo isso.

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