Vocês se lembram da letra de Saudosa Maloca, de
Adoniran Barbosa? Trata-se da demolição de um velho palacete em decadência e
abandonado, daqueles que existem muito por velhos bairros paulistanos. Nos
Campos Elíseos, por exemplo, que já foi área nobre (expressão monarquista) onde
havia inclusive o Palácio do Governo paulista, que migrou para o Morumbi. Por
ali medra hoje a Cracolândia, onde uma população miserável mora e se droga na
rua ou em malocas e, agora, tem de enfrentar também o novo alcaide paulistano
(um tal de Dória), que não aprecia a política social de recuperação e
reintegração implantada pelo ex-prefeito Fernando Haddad.
Naquela canção do grande Adoniran, tem um pé
que fala assim: “Peguemo todas nossas coisa / e fumo pro meio da rua / apreciá
a demolição. / Que tristeza que nós sentia, / cada tauba que caía / doía no
coração”. Ele escrevia assim, como o povão fala. Essa demolição da maloca que
Adoniran montou com o Mato Grosso e o Joca só me lembra o desmonte brutal que o
nosso país (que não é uma maloca; estou só aproveitando a poesia de Adoniran) está
sofrendo sob o poder espúrio de golpistas e quadrilheiros. Cada “tauba” que cai
dói muito no coração e na cabeça. Cadê aquele projeto de país independente que
Getúlio tentou e foi retomado pelos governos populares do início deste século
21?
Muita “tauba” já caiu e vai continuar caindo,
se o povo não se levantar nas ruas, sindicatos, universidades, escolas. Dilma,
que não era nenhuma estadista, nenhum Lula, não é sequer acusada de qualquer
roubalheira mas, num conluio entre parlamentares, quase todos acusados de
falcatruas, ministros, juízes, altos executivos, foi alijada da Presidência da
República, traída por seu vice, uma espécie de clone de Café Filho, herdeiro da
República do Galeão (aquela que antecedeu em mais 60 anos a República de
Curitiba, a chefiada pelo juiz Moro). A do Galeão era chefiada por militares
insubordinados que não engoliam a criação da Petrobras e a concretização de
outros projetos de Getúlio e o levaram ao suicídio. A de Curitiba é aquela de
um juiz provinciano e partidário, preparado nos Estados Unidos para defender os
interesses de Washington, que construiu um novo tipo de golpe
pseudoconstitucional, já aplicado em Honduras, Paraguai e, agora, no Brasil,
que volta a ser uma “república de bananas”. Quanta glória.
Recentemente assisti a um bate-papo com Mino
Carta e Paulo Henrique Amorim, no Sindsprev, e fiquei impressionado com a
quantidade de informações que esses dois grandes jornalistas têm sobre esse
TEMERário desmonte. Como sabemos, o pré-sal já foi assaltado; a Petrobras
Distribuidora rifada barato; prepara-se uma nova “privatização”, que completará
aquela de Fernando 2º (aquele sociólogo sem aluno, FHC) entregando às teles que
abiscoitaram a Telebras todos os ativos que deveriam restituir ao Estado ao fim
das concessões; os idosos vão ficar impedidos de gozar aposentadoria (só no
céu); a CLT de Getúlio vai pro beleléu. E muita coisa mais vem por aí se não
houver uma reação nossa. A quem interessa o desmonte, tanta “tauba” caindo? Ao
Brasil certamente não.
T’esconjuro! Vade retro, Satanás!
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