terça-feira, 21 de março de 2017

PAPA FRANCISCO. CONCÍLIO. SÍNODO. E A OPOSIÇÃO FEROZ DA CÚRIA ROMANA.

O papa Francisco partiu para o seu retiro do início da Quaresma, com outros bispos, com muitas preocupações na cabeça. Com um projeto pastoral de consertar a Igreja de Cristo, como seu modelo Francisco de Assis fizera simbolicamente ao restaurar uma igrejinha arruinada em sua terra natal, a da Porciúncula, enfrenta dos mais conservadores uma brutal oposição. Já insinuam alguns que o papa deve renunciar, como fez seu antecessor Bento 16.
A missão que ele assumiu de livrar a Igreja da multissecular e nada cristã tutela da Cúria Romana, que domina o Vaticano, é tarefa para muitos anos. Ele está apenas dando os primeiros passos. Se tiver o sucesso que todos os cristãos  mais afinados com o Evangelho desejam, um grande passo terá sido dado nesse sentido.
Impossível que não houvesse reações daqueles que se acostumaram a uma religião oficial e a um papado sucessor do Império Romana, e disso tiram proveito. E bote proveito nisso. Cardeais que levam vida nababesca e moram em ricos apartamentos, que, através da Cúria, mandam na Igreja e nos papas, que escolhem bispos de todo o mundo à sua imagem e semelhança não iriam tolerar que um obscuro bispo sul-americano, pela primeira vez na história, chegasse ao assim dito trono de Pedro (e o pobre e humilde Pedro teve trono?).
Apesar de alguns remanejamentos e afastamentos procedidos por Francisco, prosseguiram na sua trama não só contra ele, mas contra a Igreja de Cristo, que não se confunde com o Vaticano e a Cúria. E essas feras não fazem cerimônia. Tem aí um bispo que é secretário do renunciante Bento (esqueço seu nome completo; é um Georg alemão) e que critica abertamente o papa argentino e sustenta que o certo seria ele governar junto com Bento.
Com toda essa oposição, Francisco não consegue implantar todas as suas reformas e fazer aquilo que deseja e vê como certo para a Igreja. Há pouco tempo, Marie Collins, que fazia parte de uma comissão sobre abusos sexuais contra crianças, perpetrados por clérigos, deixou o cargo frustrada por aquilo que chama de “vergonhosa falta de cooperação” das autoridades envolvidas nos caos de abusos.
É aquela história: o direito canônico obriga o clérigo a fazer voto de castidade, mas aparentemente, na prática, o homossexualismo e o abuso contra crianças não se enquadra nesse voto. Voto que certamente não se baseia no Evangelho. Collins salienta a intransigência da Cúria, que “ainda não entrou no século 21” e quer encobrir os fatos. Casamento, divórcio, gays, celibato eclesiástico são assuntos vetados pela Cúria, que vem ganhando contra o papa, embora ele seja persistente. Tem aí um cardeal chamado Raymond Burke que se opõe abertamente a Francisco e estaria por trás de cartazes antipapa nas ruas de Roma e de “notícias” em jornais satíricos.
Lembramos que uma volta a uma Igreja inspirada no livro dos Atos dos Apóstolos exigirá talvez cerca de um século. Cristo não quis fundar uma nova religião, apenas reformar desvios na religião judaica. Não mandou construírem templos, algo copiado das religiões pagãs. A celebração eucarística era feita nas casas dos fieis e locais de reunião. Os bispos não eram uma casta de intocáveis pairando acima dos discípulos. A invenção de cardeal não havia ainda sido montada por uma Igreja-Império.

Francisco paga o preço por afinal resolver implementar a modernização do Concílio dos anos 1960.

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