O papa Francisco partiu para o seu retiro do
início da Quaresma, com outros bispos, com muitas preocupações na cabeça. Com
um projeto pastoral de consertar a Igreja de Cristo, como seu modelo Francisco
de Assis fizera simbolicamente ao restaurar uma igrejinha arruinada em sua
terra natal, a da Porciúncula, enfrenta dos mais conservadores uma brutal
oposição. Já insinuam alguns que o papa deve renunciar, como fez seu antecessor
Bento 16.
A missão que ele assumiu de livrar a Igreja
da multissecular e nada cristã tutela da Cúria Romana, que domina o Vaticano, é
tarefa para muitos anos. Ele está apenas dando os primeiros passos. Se tiver o
sucesso que todos os cristãos mais
afinados com o Evangelho desejam, um grande passo terá sido dado nesse sentido.
Impossível que não houvesse reações daqueles
que se acostumaram a uma religião oficial e a um papado sucessor do Império
Romana, e disso tiram proveito. E bote proveito nisso. Cardeais que levam vida
nababesca e moram em ricos apartamentos, que, através da Cúria, mandam na
Igreja e nos papas, que escolhem bispos de todo o mundo à sua imagem e
semelhança não iriam tolerar que um obscuro bispo sul-americano, pela primeira
vez na história, chegasse ao assim dito trono de Pedro (e o pobre e humilde
Pedro teve trono?).
Apesar de alguns remanejamentos e
afastamentos procedidos por Francisco, prosseguiram na sua trama não só contra
ele, mas contra a Igreja de Cristo, que não se confunde com o Vaticano e a
Cúria. E essas feras não fazem cerimônia. Tem aí um bispo que é secretário do
renunciante Bento (esqueço seu nome completo; é um Georg alemão) e que critica
abertamente o papa argentino e sustenta que o certo seria ele governar junto
com Bento.
Com toda essa oposição, Francisco não
consegue implantar todas as suas reformas e fazer aquilo que deseja e vê como
certo para a Igreja. Há pouco tempo, Marie Collins, que fazia parte de uma comissão
sobre abusos sexuais contra crianças, perpetrados por clérigos, deixou o cargo
frustrada por aquilo que chama de “vergonhosa falta de cooperação” das
autoridades envolvidas nos caos de abusos.
É aquela história: o direito canônico obriga
o clérigo a fazer voto de castidade, mas aparentemente, na prática, o homossexualismo
e o abuso contra crianças não se enquadra nesse voto. Voto que certamente não
se baseia no Evangelho. Collins salienta a intransigência da Cúria, que “ainda
não entrou no século 21” e quer encobrir os fatos. Casamento, divórcio, gays,
celibato eclesiástico são assuntos vetados pela Cúria, que vem ganhando contra
o papa, embora ele seja persistente. Tem aí um cardeal chamado Raymond Burke
que se opõe abertamente a Francisco e estaria por trás de cartazes antipapa nas
ruas de Roma e de “notícias” em jornais satíricos.
Lembramos que uma volta a uma Igreja
inspirada no livro dos Atos dos Apóstolos exigirá talvez cerca de um
século. Cristo não quis fundar uma nova religião, apenas reformar desvios na
religião judaica. Não mandou construírem templos, algo copiado das religiões
pagãs. A celebração eucarística era feita nas casas dos fieis e locais de
reunião. Os bispos não eram uma casta de intocáveis pairando acima dos discípulos.
A invenção de cardeal não havia ainda sido montada por uma Igreja-Império.
Francisco paga o preço por afinal resolver
implementar a modernização do Concílio dos anos 1960.
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