terça-feira, 7 de março de 2017

TEM AÍ UM JURISTA QUE QUER DAR FIM A PENDURICALHOS DE MAGISTRADOS

Os pobres magistrados inativos estão querendo auxílio moradia. Senão, vão morar debaixo da ponte. E os ativos? Precisam? E por que nós, pobres mortais que arcamos com os penduricalhos de altos executivos, parlamentares, magistrados e quejandos, não temos auxílio nem pra ir morar no cemitério? Depois reclamam que o conceito “sociedade de classes” é coisa de comunista.
Não sou somente eu a me preocupar com esses disparates à brasileira. O diretor da Faculdade de Direito do Recife Francisco Queiroz, que foi desembargador no Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região, entrou com uma ação, que ele qualifica como provocativa, no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando que o auxílio moradia seja considerado como remuneração e assim pago também aos magistrados inativos. Queiroz é um dos juristas que participaram da defesa da ex-presidente Dilma Roussef, atropelada por golpistas dos três poderes, no vergonhoso processo de seu impeachment.
A provocação a que ele se refere é para que o STF se pronuncie sobre os penduricalhos usados hoje para aumentar os salários dos membros do Poder Judiciário para além do teto constitucional de R$33.763 (eu acho é pouquinho, como dizem, no Carnaval, os filhos da turma do olindense Eu Acho é Pouco). Informa o jurista que tem aí nos tribunais desembargador recebendo R$60 mil, R$70 mil com “essas invenções indenizatórias, que são irreais”. E que o Ministério Público, “para outras coisas tão rigoroso”, também é beneficiário de penduricalhos.
Nenhum poder escapa da cultura golpista do nosso país. Militares podem por seus generais como presidentes e fica por isso mesmo. Congressistas fazem a farra às nossas custas e sacramentam golpes. Magistrados também facilitam golpes e arbitrariedades. Aí por 1947 (“meninos, eu vi”), duramente pressionado pelo governo dos Estados Unidos, o STF cassou o registro do Partido Comunista Brasileiro (PCB, o chamado Partidão, e não a dissidência do PCdoB que veio aí por 1962), e os mandatos de dezenas de senadores, deputados federais e estaduais, vereadores eleitos por essa legenda. Basta lembrar isso.
Acredito que, enquanto o Brasil não tiver direito (nunca lhe reconheceram esse direito) a uma Constituinte exclusiva, composta por juristas e outras personalidades acatadas pela sociedade e não pelos políticos profissionais viciados de sempre reunidos em congressos constituintes (sem falar das constituições outorgadas), esses e outros vícios que brotam da nossa história e cultura colonial, escravista, latifundiária, rentista, resumida na expressão “lavar a burra”, não serão extirpados.

A coisa não é fácil. Após 21 anos de uma brutal e incompetente ditadura, nascida de um golpe civil-militar, tentou-se isso mais uma vez. Havia até um texto básico produzido pelo jurista Afonso Arinos para servir de plataforma às discussões dos constituintes. Os Sarneys, ACMs e outros aproveitadores e saudosistas da ditadura não podiam permitir que seus privilégios fossem rifados por uma democracia autêntica. Aí veio a “redemocratização” fajuta que tivemos, temerosa do fantasma dos militares e que confirmou a anistia impossível de torturadores, sequestradores, assassinos (aqueles que matavam sem ser na luta armada). De qualquer maneira, eram assassinos, pois foram eles que derrubaram a Constituição de 1946 (bastante boa) porque a Senzala estava obtendo alguns poucos progressos sociais. O resultado de 1988 foi uma Constituição que não merece o respeito nem de seus autores e que virou colcha de retalhos de tanta emenda casuística.

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