Quando Karl Marx disse que a religião é o
ópio do povo, não expressava simplesmente seu ateísmo e seu materialismo. Vendo
o que ele via, tinha alguma razão, pois não distinguia a pregação, de Cristo e
de Maomé por exemplo, da prática dos que se dizem deles discípulos. E se visse
hoje o que pratica o Estado Islâmico, em nome de Deus e da religião islamita; o
que fazem os tão “cristãos” países europeus com os migrantes e refugiados que
os procuram; o que faz o governo do Estado judaico contra os palestinos; veria
ainda mais ópio nas religiões ou, mais modernamente, cocaína.
Eu nunca tive nas mãos o texto do Corão (vou
procurá-lo) mas, pelo que tenho lido sobre Maomé e seus escritos, ele nunca
pregou a destruição dos não crentes nem o terrorismo. É verdade que seus
sucessores eram muito belicosos e conquistaram meio mundo, desde a Península
Ibérica e o norte africano até a Indonésia, mas respeitando as outras
religiões. No norte da África e no Oriente Médio conviveram com judeus e
cristãos. Um exemplo de harmonia e coexistência pacífica entre religiões foi o
Califado de Córdoba, na Espanha, onde conviviam em paz muçulmanos, judeus e
cristãos e onde brotaram sábios como Avicena e Averroes. Antes de expulsos, os
árabes deixaram ali uma arquitetura admirável, como no Escurial.
Quando se fala em terrorismo, tem-se de levar
em conta que ele começou lá longe, há muito tempo, na matança de hereges, nas
Cruzadas, no colonialismo. E continua hoje, praticado por assim ditos cristãos,
na 3ª Guerra Mundial, que começou na Coréia em 1950 e não parou mais (a
indústria bélica agradece), na destruição de Hiroshima e Nagasaki pelos
estadunidenses, na matança de inimigos, não com direito a julgamento e defesa
como em Nurembergue, mas através de meios sofisticados como drones ou missões
secretas.
Estou escrevendo horrorizado, como qualquer
pessoa que aspira à civilização, com a última, por enquanto, do autoproclamado
Estado Islâmico. No Afeganistão, terroristas disfarçados como médicos entraram
em um hospital e massacraram dezenas de pacientes, médicos, funcionários. Ora, isso
não é humano nem pode derivar de uma religião. Levemos em conta, porém, que
aviões americanos e russos, e também do próprio governo sírio que se gruda ao
poder, têm bombardeado hospitais inúmeras vezes. Há muita diferença nas duas
atitudes, uma direta e outra levada a cabo assepticamente de longa distância?
No Vietnam, os pilotos dos bombardeiros estadunidenses também não corriam nenhum
risco. Era só desovar as bombas, muitas de napalm que queimavam as pessoas. Os
amarelinhos lá em baixo que se virassem. Os EUA foram derrotados
vergonhosamente. Fugiram atabalhoadamente de Saigon cercada. Os senhores da
guerra não aprendem. Alguns anos antes, os colonizadores franceses também
haviam sido derrotados na famosa batalha de Diem-Biem-Phu pelo herói Ho-Chi-Min,
que igualmente comandou a derrota dos EUA.
O papa Francisco já está achando que o
Apocalipse vem aí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário