segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

AMÉRICA DO SUL PODE ENCONTRAR FORÇAS PARA COMPLETAR EMANCIPAÇÃO

No tempo em que morei na Europa, ouvi muitos comentários sobre o atrelamento do Brasil à política e aos interesses dos Estados Unidos. Naquela época, eu não era politicamente conscientizado como hoje. Aliás, como estrangeiro, nem podia participar da política estudantil. Voltando ao nosso país, decidi fazer vestibular pra alguma coisa. Escolhi direito e ciências sociais, mas o que eu queria mesmo era fazer política; nem terminei aqueles cursos. Era o tempo pré-golpe; muito animado politicamente. Fiz política ligado à União da Juventude Comunista (UJC), uma política bem aberta.
Foi quando alguns dissidentes começaram a se desgarrar do Partidão (PCB) terminando por criar uma dissidência a que deram a designação de PCdoB. Partido Comunista do Brasil era o nome do Partidão até que o Supremo Tribunal Federal, seguindo ordens de Washington, pôs a agremiação na clandestinidade e cassou os mandatos de dezenas de senadores, deputados, vereadores; uma carnificina política. O argumento dos altos (!?) magistrados foi que o partido não era brasileiro, apenas do Brasil, uma entidade internacional.
A dissidência do PCdoB veio com três quentes e um fervendo, para usar uma expressão das antigas. Ressuscitou o stalinismo, condenado em congresso do PC da URSS por Nikita Krustchev, aí por 1956, e defendia um comunismo ultra como o praticado na época na Albânia e na China. Chegado o golpe, decidiu fazer guerrilha na selva, levando dezenas de jovens idealistas à morte certa. Enquanto o Partidão, sabiamente, nunca aderiu à luta armada, certo de que garotos e garotas inexperientes não tinham condições de vencer um exército forte, bem armado e treinado pelos EUA. Mesmo assim, quando não tinham mais a quem torturar e matar, os “revolucionários” partiram pra cima do PCB.
Um esclarecimento. Reitero que minha política comunista certamente se abastecia em Marx, mas o comunismo como o vejo é aquele do livro dos Atos dos Apóstolos, comunismo mesmo e não mero estatismo.
Aquelas observações que me incomodavam na Europa, que se agravaram após o suicídio de Getúlio, demoraram a fazer parte do passado, mas, já no século 21, a situação começou a mudar até o ano passado, quando a golpearam. Em outros países da América do Sul e Caribe, alguns líderes nacionalistas também tomaram iniciativas no sentido de defender os interesses de seus países e guardar uma distância regulamentar do “grande irmão do norte”, certamente grande, mas nada irmão.
O mais notório foi Hugo Chávez, com sua veneração pelo grande libertador Simón Bolívar. Sofreu um golpe clássico dos EUA, que mal durou dois dias e ele foi reinstalado no poder. Algo impensável nos tempos áureos de exportação de golpes por Washington. Mesmo doente, ele não soube preparar um sucessor à altura e a coisa piorou com a queda no preço do petróleo. Seu sucessor Nicolás Maduro não tem o seu carisma. De todo modo, os EUA ainda não conseguiram aplicar-lhe um golpe clássico nem aquele novíssimo golpe pseudoconstitucional que já derrubou presidentes populares em Honduras, Paraguai e Brasil.
Esses países recaíram num neoliberalismo démodé e não apoiado pelo eleitorado. Na Argentina, devido à sua grande inabilidade política, Cristina Kirchner não conseguiu eleger seu sucessor. O que venceu as eleições lá governa como um Temer eleito. No Equador, tudo indica que um governo popular vai prosseguir. E o pequenino e valente Uruguai continua dando lições de democracia a esta nuestra Latinoamérica.

Com o atabalhoado Pato Donald desmanchando os acordos comerciais costurados por Obama, a América do Sul pode encontrar mais forças para completar sua emancipação em relação aos EUA e outros países ricos. E no Brasil, com o golpe fazendo água, é possível que voltemos a uma política externa de acordo com nossos interesses. Serra, Aécio e o Santo (Alckmin) terão que ficar chupando os dedos e tramando o próximo golpe, com a indispensável assessoria daquele sociólogo sem discípulos. Quanto ao golpista e incompetente Temer, resta-lhe o Inferno de Dante: “Nel mezzo del camin di nostra vita, mi ritrovai por una selva oscura, che la diritta via era smarrita” Uma selva escura, perdido o caminho. Não merece pena. Ele amealhou muito dinheiro e tem boas aposentadorias.

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