Não se pode dizer que o Recife seja uma
cidade bem governada. E ao dizer isso, não estou com nenhuma implicância com um
prefeito que não ganhou meu voto. E a gente pode até simpatizar com um eleito
em quem não votou e até apoiá-lo em alguns pontos. Eu, por exemplo, não votei
em Jânio, um demagogo desmiolado, em 1960. Votei no Marechal Henrique Lott, um
militar dos mais nacionalistas e que não era um candidato dos militares. Se ele
houvesse ganhado, tenho certeza de que não aconteceria a barbaridade de
1964-85. Mas quando Jânio passou a adotar alguma independência em política externa,
condecorou Che Guevara, criou distância em relação ao corvo Carlos Lacerda,
passei a vê-lo com melhores olhos. Talvez, vejo hoje, as coisas boas que fez se
originaram em pura maluquice.
Não durou muito e ele tentou dar um golpe que
não deu certo. Ele voou de Brasília para a então base aérea de Cumbica (SP),
mas os militares demoraram a apoiá-lo e o Congresso aproveitou para livrar-se
dele rapidamente. Aí veio a briga pela posse do vice João Goulart e a rede de
resistência organizada por Leonel Brizola. O golpe foi adiado por três anos.
Jango não calculou o tamanho do ódio que os militares lhe votavam desde que,
como ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, dera um aumento de 100% no salário
mínimo. Também não teve coragem de resistir ao golpe.
Mas voltando ao início, repito que o Recife
continua pior que as cidades europeias em que morei uns 60 anos atrás. Leio
hoje no Jornal do Commercio uma reportagem
de Roberta Soares sobre a faixa azul. Nela só podem, teoricamente, circular veículos
de transporte coletivo, ora os BRSs (ligeirinhos), ora ônibus comuns. Os
ligeirinhos penam, não só com a invasão da suas faixas por motoristas de
superior educação, mas ainda porque suas estruturas nunca foram concluídas. A verba
deve ter se transviado por aí. Cientes daquela superior educação de que falo,
as autoridades já poderiam ter tomado há muito uma providência simples colocando
ali aqueles famosos pardais. Quando o bolso é atingido, o caminho da educação é
reaberto, mesmo sob muxoxos.
Há alguns dias eu estava com um amigo diante
de um belo edifício em Boa Viagem. Na frente do prédio passa um canal fétido.
Ele, que mora há uns 50 anos em Nova York, mostrou-se incomodado, claro, e eu
lhe lembrei que até condomínios de luxo por ali mandam seus esgotos para canais
e para a praia.
Voltando ao trânsito e à péssima qualidade do
nosso transporte coletivo. Tome repetição. A impressão que fica é que um bom
transporte urbano e metropolitano não está na agenda de nossas autoridades, a não
ser em época de campanha eleitoral. Até quando assim será ninguém sabe. O que
se sabe é que, na maioria dos casos, a pessoa, antes de pegar um transporte coletivo
(inclusive o metrô, que dá certo em todo canto, como no passado deram certo
bondes, ônibus elétricos, trens, tudo sacrificado à politicagem), tem de deixar
a dignidade em casa ou guardá-la no bolso. Não há transporte suficiente, filas
e horários se espicham, as unidades são mal conservadas, os motoristas, certamente
mal pagos, não respeitam os usuários. E, finalmente, a prioridade de quem manda
é para os carros particulares, que tornam um bom trânsito impraticável. Para os
demagogos que pululam por ai, o povão definitivamente não merece ser bem
tratado. Somente na hora de comprar-lhe, ou algo semelhante, o voto.
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