quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

NA ÁREA DO TRANSPORTE PÚBLICO, O POVÃO NÃO É BEM TRATADO. E NÃO SÓ NESSA ÁREA

Não se pode dizer que o Recife seja uma cidade bem governada. E ao dizer isso, não estou com nenhuma implicância com um prefeito que não ganhou meu voto. E a gente pode até simpatizar com um eleito em quem não votou e até apoiá-lo em alguns pontos. Eu, por exemplo, não votei em Jânio, um demagogo desmiolado, em 1960. Votei no Marechal Henrique Lott, um militar dos mais nacionalistas e que não era um candidato dos militares. Se ele houvesse ganhado, tenho certeza de que não aconteceria a barbaridade de 1964-85. Mas quando Jânio passou a adotar alguma independência em política externa, condecorou Che Guevara, criou distância em relação ao corvo Carlos Lacerda, passei a vê-lo com melhores olhos. Talvez, vejo hoje, as coisas boas que fez se originaram em pura maluquice.
Não durou muito e ele tentou dar um golpe que não deu certo. Ele voou de Brasília para a então base aérea de Cumbica (SP), mas os militares demoraram a apoiá-lo e o Congresso aproveitou para livrar-se dele rapidamente. Aí veio a briga pela posse do vice João Goulart e a rede de resistência organizada por Leonel Brizola. O golpe foi adiado por três anos. Jango não calculou o tamanho do ódio que os militares lhe votavam desde que, como ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, dera um aumento de 100% no salário mínimo. Também não teve coragem de resistir ao golpe.
Mas voltando ao início, repito que o Recife continua pior que as cidades europeias em que morei uns 60 anos atrás. Leio hoje no Jornal do Commercio uma reportagem de Roberta Soares sobre a faixa azul. Nela só podem, teoricamente, circular veículos de transporte coletivo, ora os BRSs (ligeirinhos), ora ônibus comuns. Os ligeirinhos penam, não só com a invasão da suas faixas por motoristas de superior educação, mas ainda porque suas estruturas nunca foram concluídas. A verba deve ter se transviado por aí. Cientes daquela superior educação de que falo, as autoridades já poderiam ter tomado há muito uma providência simples colocando ali aqueles famosos pardais. Quando o bolso é atingido, o caminho da educação é reaberto, mesmo sob muxoxos.
Há alguns dias eu estava com um amigo diante de um belo edifício em Boa Viagem. Na frente do prédio passa um canal fétido. Ele, que mora há uns 50 anos em Nova York, mostrou-se incomodado, claro, e eu lhe lembrei que até condomínios de luxo por ali mandam seus esgotos para canais e para a praia.

Voltando ao trânsito e à péssima qualidade do nosso transporte coletivo. Tome repetição. A impressão que fica é que um bom transporte urbano e metropolitano não está na agenda de nossas autoridades, a não ser em época de campanha eleitoral. Até quando assim será ninguém sabe. O que se sabe é que, na maioria dos casos, a pessoa, antes de pegar um transporte coletivo (inclusive o metrô, que dá certo em todo canto, como no passado deram certo bondes, ônibus elétricos, trens, tudo sacrificado à politicagem), tem de deixar a dignidade em casa ou guardá-la no bolso. Não há transporte suficiente, filas e horários se espicham, as unidades são mal conservadas, os motoristas, certamente mal pagos, não respeitam os usuários. E, finalmente, a prioridade de quem manda é para os carros particulares, que tornam um bom trânsito impraticável. Para os demagogos que pululam por ai, o povão definitivamente não merece ser bem tratado. Somente na hora de comprar-lhe, ou algo semelhante, o voto.

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