Diante da efervescência ultradireitista de
grande parte dos americanos, à frente seu novo presidente, seria possível um
golpe nos Estados Unidos? Já foi dito que nesse país não há golpes de Estado
porque ali não existe embaixada americana. E um ex-presidente mexicano como
hoje não se fazem mais, Lázaro Cárdenas, pelo final dos anos 1920, lamentou-se:
“Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos!” Ele ousara
nacionalizar o petróleo, para desespero da Exxon e irmãs, e arrostava a ira do
grandão do norte. Quem sabe, Washington não iria abocanhar o resto do México?
Já incorporara mais da metade.
Bem. Golpe de Estado ainda não houve ali, mas
outras coisas feias acontecem e aconteceram. Por exemplo, sua democracia é
vendida aos incautos como a mais perfeita do planeta. No entanto, a maioria dos
eleitores pode escolher um candidato e os assim ditos colégios eleitorais dos
Estados emplacarem outro. Como aconteceu nas eleições de Bush Filho e Pato
Donald. E, na mesma noite do dia em que John Kennedy foi assassinado, uma
queima de artigos levou para o além um dos assassinos, Lee Oswald, e o
assassino deste. Oficialmente, como sacramentou a Suprema Corte, Oswald foi o
único assassino e estamos conversados. O chefão do FBI, Herbert Hoover, que
odiava os Kennedy, nunca foi incomodado. Mas suspeita-se que estava na trama.
Mais “democracia” e coisas feias. Pouco após
o fim da 2ª Guerra Mundial, apareceu por lá um senador demente, MacCarthy, que
organizou uma caça às bruxas de fazer inveja aos golpes da América do Sul.
Inspirado pela guerra fria desencadeada com a morte de Roosevelt, que se encontrara
algumas vezes com Stálin (da URSS) e desejava uma convivência pacífica com os comunistas,
MacCarthy convenceu boa parte das autoridades de que os intelectuais em geral
eram comunistas ou filocomunistas: escritores, artistas, professores, não
escapava ninguém, a não ser que delatasse os companheiros. Um ancestral do juiz
Sérgio Moro, também este formatado pela direita estadunidense. Antes de
MacCarthy, durante a guerra, pacatos imigrantes japoneses, que só queriam um
lugar ao sol, foram confinados em campos de concentração. Só faltaram as
câmaras de gás.
O Pato Donald já declarou guerra a quase a metade
da humanidade com aquele decreto, por ora cassado pela Justiça, que impede a
entrada no paraíso (?!) estadunidense de muçulmanos de diversas procedências.
Sauditas podem, ao menos até o dia em que aquele barril de pólvora explodir.
Gente má, assim classificada no decreto trumpeano, são todos os nascidos no Irã,
Iraque, Iêmen, Síria, Líbia, Sudão e Somália. Por enquanto. Muitos desses
países foram destroçados por intervenções militares americanas. O caráter
pseudorreligioso do decreto fica claro quando se sabe que nenhum natural desses
países cometeu atentado terrorista contra os EUA. Entre os que seriam prejudicados
estão professores, artistas, médicos, engenheiros; e cerca de 17 mil estudam em
universidades estadunidenses.
Para o general Michael Flynn, assessor do
presidente Trump para segurança nacional, o Islã é um “câncer”, um “movimento
messiânico de gente má”. Se a Justiça continuar apoquentando o grande democrata
Trump, um golpe poderia estar á vista. Vôte! Mesmo sem embaixada americana em
Washington, DC.
PS – O sociólogo e jornalista Abdias Moura
lança hoje às 16h, na Academia Pernambucana de Letras, da qual é membro, a
quarta edição de sua importante obra O
sumidouro do São Francisco (Tempo Brasileiro).
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