sábado, 4 de fevereiro de 2017

IRÃ ENTRE A TEOCRACIA LINHA DURA E UMA POSSÍVEL DEMOCRACIA

O Irã, que corresponde mais ou menos à antiga Pérsia, está de novo às turras com os Estados Unidos. Barack Obama e outros governantes haviam assinado um acordo com o país sobre o emprego de energia nuclear, que pôs fim a turbulências (o governo israelense estava louco para atacar o Irã) e retirou sanções econômicas contra Teerã. Mas o belicoso Donald Trump decidiu repor tudo em questão, sobretudo depois que o Irã testou um míssil balístico.
Em 1979, uma rebelião islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini, exilado em Paris, acabou com uma monarquia inventada por Reza Pahlavi, que se autointitulava xá, apesar de ser um plebeu sem nenhuma ligação com os antigos xás da Pérsia. Era apoiado pelos EUA e o Ocidente, de olho no petróleo iraniano, após a derrubada, por eles, do primeiro-ministro Mossadegh que havia nacionalizado companhias petrolíferas ocidentais. Que ousadia! Talvez a única vantagem do xá tenha sido permitir aos iranianos uma liberdade de costumes longe do comum em países muçulmanos.
A chamada Revolução Islâmica, entre outras mudanças, instituiu uma guarda para vigiar se as mulheres andam com ou sem véu, namoram em público, coisas assim. Claro que a Revolução azedou as relações com os EUA. O novo regime chegou a invadir e ocupar por muito tempo a embaixada americana. Aí vieram as sanções econômicas decretadas pela ONU. Vocês já notaram que a ONU só impõe sanções contra quem contraria os humores ocidentais? Já viram, por exemplo, alguma sanção contra Israel, que ignora todas as resoluções da organização (inclusive do seu Conselho de Segurança) e continua a tratar os palestinos como se responsáveis fossem pelo Holocausto?
Paralelamente ao que pode ser considerado um regime constitucional, com eleições e parlamento, existe um controle supremo sobre a sociedade feito pelos aiatolás, o que o torna em suma um governo teocrático, como o da Arábia Saudita. Essa dualidade ficou bem clara por ocasião do recente sepultamento de Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, ex-presidente da República. Houve comparecimento muito grande à cerimônia por parte daqueles que esperam que o regime teocrático linha dura possa ser reformado. Centenas de milhares de pessoas se reuniram em torno da Universidade de Teerã, pedindo inclusive a libertação de opositores como Mir Hossein Mussavi e Mehdi Karroubi, em prisão domiciliar, e dando apoio ao ex-presidente reformista Mohammad Khatami.
É importante anotar a opinião da líder estudantil que passou sete anos presa Bahareh Hedayat: “A popularidade de Rafsanjani é um sinal de que os iranianos ainda querem mudança e estão fazendo isso por meios legais e pacíficos”. Disse ela ainda que “Rafsanjani foi a última figura influente que os reformistas tinham no sistema de poder, alguém capaz de manter viva a esperança de reformas. O sistema tem de perceber que a maioria dos iranianos quer mudança e que esse desejo não vai desaparecer”.
O que podemos é torcer para que o Irã se democratize clareando o clima no conturbado Oriente Médio.

(Mais uma vez, ontem, fui atropelado pela “privataria tucana”.)

Nenhum comentário: