O Irã, que corresponde mais ou menos à antiga
Pérsia, está de novo às turras com os Estados Unidos. Barack Obama e outros governantes
haviam assinado um acordo com o país sobre o emprego de energia nuclear, que pôs
fim a turbulências (o governo israelense estava louco para atacar o Irã) e
retirou sanções econômicas contra Teerã. Mas o belicoso Donald Trump decidiu
repor tudo em questão, sobretudo depois que o Irã testou um míssil balístico.
Em 1979, uma rebelião islâmica liderada pelo
aiatolá Khomeini, exilado em Paris, acabou com uma monarquia inventada por Reza
Pahlavi, que se autointitulava xá, apesar de ser um plebeu sem nenhuma ligação
com os antigos xás da Pérsia. Era apoiado pelos EUA e o Ocidente, de olho no
petróleo iraniano, após a derrubada, por eles, do primeiro-ministro Mossadegh
que havia nacionalizado companhias petrolíferas ocidentais. Que ousadia! Talvez
a única vantagem do xá tenha sido permitir aos iranianos uma liberdade de
costumes longe do comum em países muçulmanos.
A chamada Revolução Islâmica, entre outras
mudanças, instituiu uma guarda para vigiar se as mulheres andam com ou sem véu,
namoram em público, coisas assim. Claro que a Revolução azedou as relações com
os EUA. O novo regime chegou a invadir e ocupar por muito tempo a embaixada
americana. Aí vieram as sanções econômicas decretadas pela ONU. Vocês já
notaram que a ONU só impõe sanções contra quem contraria os humores ocidentais?
Já viram, por exemplo, alguma sanção contra Israel, que ignora todas as
resoluções da organização (inclusive do seu Conselho de Segurança) e continua a
tratar os palestinos como se responsáveis fossem pelo Holocausto?
Paralelamente ao que pode ser considerado um
regime constitucional, com eleições e parlamento, existe um controle supremo
sobre a sociedade feito pelos aiatolás, o que o torna em suma um governo
teocrático, como o da Arábia Saudita. Essa dualidade ficou bem clara por
ocasião do recente sepultamento de Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, ex-presidente
da República. Houve comparecimento muito grande à cerimônia por parte daqueles
que esperam que o regime teocrático linha dura possa ser reformado. Centenas de
milhares de pessoas se reuniram em torno da Universidade de Teerã, pedindo
inclusive a libertação de opositores como Mir Hossein Mussavi e Mehdi Karroubi,
em prisão domiciliar, e dando apoio ao ex-presidente reformista Mohammad
Khatami.
É importante anotar a opinião da líder estudantil
que passou sete anos presa Bahareh Hedayat: “A popularidade de Rafsanjani é um
sinal de que os iranianos ainda querem mudança e estão fazendo isso por meios
legais e pacíficos”. Disse ela ainda que “Rafsanjani foi a última figura
influente que os reformistas tinham no sistema de poder, alguém capaz de manter
viva a esperança de reformas. O sistema tem de perceber que a maioria dos
iranianos quer mudança e que esse desejo não vai desaparecer”.
O que podemos é torcer para que o Irã se
democratize clareando o clima no conturbado Oriente Médio.
(Mais uma vez, ontem, fui atropelado pela “privataria
tucana”.)
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