O caso do Brasil é uma opção pelo atraso
mesmo, como eu lhes dizia na postagem anterior. Lembrava a vocês uma Europa que
funcionava, e bem, sete anos apenas após a guerra de 1939-45, quando eu cheguei
a Roma para estudar, desembarcando em Nápoles. Incrível como o porto dessa
cidade abrigava uma grande quantidade de belonaves estadunidenses. Os EUA não ocupavam
mais a península, mas tinham, na óptica deles, de cuidar para que a Itália não
fosse dominada pelo Partido Comunista, fortão na época. Apesar da democracia
reconquistada e de uma Constituição exemplar, que dura até hoje, a Democrazia
Cristiana dominante (que não era assim tão democrata nem cristã) fazia das
suas, usando a polícia para atacar e destruir comitês eleitorais comunistas.
Quatro anos depois, vi cenas semelhantes na França, em Lyon, onde concluí a
licenciatura em teologia na Université Catholique. Foi por ocasião da rebelião
húngara contra a URSS.
Mas havia liberdade de imprensa (voltando à
Itália). Todo dia, quando a gente ia para a Universidade Gregoriana, passava
pela Via delle Botteghe Oscure, sede do jornal comunista L’Unità. Ironicamente,
a universidade servia de abrigo a manifestantes perseguidos pela polícia, pois,
pelo Tratado de Latrão, que criou o Estado da Cidade do Vaticano, alguns próprios
eclesiásticos, inclusive essa escola com mais de 500 anos, eram considerados
extensão do Estado papal. Era o Vaticano protegendo os subversivos... Falava
eu, na postagem anterior, como tudo funcionava, apesar dos estragos da guerra.
Vocês já imaginaram o Brasil em semelhante situação pós-bélica? Quantas décadas
levaríamos para retomar a normalidade?
É que o nosso passado de colônia, capitanias
hereditárias, latifúndio, escravidão, e uma história de golpes, ainda não foram
superados, longe disso, apesar de algumas tentativas. A Casa-Grande continua
firme e a Senzala tem mesmo é que reconhecer seu lugar, de acordo com nossas
pretensas elites tão tronchas. Até quando? Como falei, já fazem mais de 60 anos
que passei aqueles bons tempos lá no velho continente e ainda vejo por aqui um
clima de guerra sem fim. Ninguém tem segurança. Bancos, ônibus, residências,
comércio assaltados; assassinatos em proporções piores do que ocorre nas
guerras da Síria e outras; ruas esburacadas, mal iluminadas e sem pavimentação;
estradas da morte; quanto a ferrovias, vejam o Beleléu na última postagem;
ensino público pior do que no passado; saúde pública negligenciada ao extremo; desemprego
que aumenta o nosso índice de pobreza e mesmo miséria; políticos nababos que
riem de nós enquanto tramam e executam seus golpes ... O que mais dizer?
Por que não fiquei lá? Arranjaria um emprego
e continuaria os estudos. Meu saudoso amigo Irineu Guimarães arranjou logo
dois, mas mandaram-no para o Brasil: correspondente do jornal Le Monde e da France Presse. Voltei para
ser agarrado de mau jeito pelos golpistas de 1964, preso e demitido da antiga
Universidade do Recife (hoje UFPE). Interessante que vi recentemente, em artigo
no Jornal do Commercio, o consultor
Fernando Dourado Filho, um cidadão do mundo, se perguntando por que não mora na
Europa e sim em São Paulo.
Ora, direis, a Europa hoje é vítima de muito
terrorismo. E o terrorismo à brasileira?
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