Há alguns das, comentei aqui a ignorância e
mesmo desprezo da historiografia oficial do Brasil em reação às revoluções
pernambucanas pela independência, a federação, a república. Sobretudo a de 1817,
cujo bicentenário estamos comemorando este ano. Pela história oficial, a partir
de um certo momento, que coincide com a transferência da Corte lusa para a
Bahia e depois o Rio de Janeiro, só o que ocorreu no Rio, São Paulo e Minas é
digno de estudo e comemoração.
Para minha surpresa, descobri que a
importância das nossas revoluções pernambucanas é reconhecida por estudiosos
sudestinos que se dão ao trabalho de pesquisar o que realmente aconteceu. Nos
dias 27 e 28 de março, houve um seminário na UFPE sobre “1817: significados e
contemporaneidade”, do qual participou o historiador Luiz Carlos Villalta, da
Universidade Federal de Minas Gerais. Disse o professor que a Revolução
Pernambucana de 1817 era bastante citada na época, mas como algo a temer, um
fantasma, um perigo. Ele é autor de quatro volumes sobre História de Minas Gerais e O Império
luso-brasileiro e os Brasis. Para ele, os jornais daquele tempo enxergavam
só perigo na Revolução de 1817 e talvez isso seja uma chave para entender sua
pouca valorização nos dias atuais. Isso me causa um desconforto muito grande,
disse.
A Revolução de 1817, para Villalta, “foi o
movimento mais forte de contestação à ordem política ocorrido no Brasil antes da
Independência, contra o absolutismo, mobilizando gentes e perfis sociais
distintos, das elites aos populares. [...] Ela anunciou algo que é crucial num
processo de independência, que é o antagonismo entre o ‘povo colonizador’ e o ‘colonizado’.
Acrescenta seu caráter constitucionalista, republicano, a liberdade de religião
e de imprensa, a contestação das capitanias do então Norte à supremacia do Sul.
Teve grande repercussão internacional e foi motivo de uma repressão brutal.
Falta agora que os historiógrafos oficiais
parem para pensar, pesquisar, ler os livros de Villalta. Ou então
continuaremos, até em Pernambuco e no Nordeste, menosprezando a importância
dessa revolução.
PS – Desejo registrar o falecimento de Dom
Marcelo Carvalheira, que foi bispo de Guarabira e arcebispo de João Pessoa. Uma
pessoa preocupada com o povo de Deus. Foi preso e sofreu tortura psicológica no
golpe de 1964. Fui colega dele no Seminário de Olinda e na Universidade
Gregoriana.
À família dele envio aqui os meus sentimentos
de solidariedade.
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