terça-feira, 11 de abril de 2017

UM CASO BANAL ENTRE AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA. DOCUMENTÁRIO DE SPIELBERG REVELA HISTÓRIA REAL DO MENINO OSCAR

A gente não pode deixar de ler o clássico As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano. Agora mesmo, enquanto o incrível Trump decide intervir na Guerra Civil síria, desafiando a Rússia, apesar de Wladimir Pútin ter-lhe dado uma mãozinha na campanha eleitoral contra Dona Hilária, o cineasta Steve Spielberg revolve velhas maldades do tão bondoso Tio Sam.
Desta vez não são os clássicos golpes no Cone Sul nos anos 1960-70, nos quais Kennedy, Johnson e o establishment se portaram como gentlemen, pois essa turma não gosta de provocar sofrimentos em inocentes. É o que garante o ricaço que assaltou a Casa Branca. O famoso autor de ET foi mais longe, às desestabilizações provocadas no Caribe e América Central para dar sustentação às assim ditas “repúblicas bananeras”. Ele foi direto à Guatemala do início dos anos 1950, quando um presidente constitucional decidido a defender os interesses do pequeno país, Jacobo Árbenz, foi derrubado em golpe brutal que mergulhou um país em processo de estabilização num caos de barbárie. A United Fruit ganhou a guerra.
O filme Finding Oscar conta uma história que virou moda nas ditaduras argentinas, onde centenas de crianças filhas de subversivas que davam à luz nas masmorras eram sequestradas e gentilmente adotas por oficiais golpistas (as Mães e Avós da Plaza de Mayo recupararam muitas depois). Suas mães eram cristãmente torturadas e executadas.
Para dar vitória à United Fruit prestimosos militares dos EUA treinaram uma força especial do Exército guatemalteco para “combater o comunismo”. Eram os temíveis kabiles. Atacavam as aldeias mais remotas em busca de supostos subversivos entre camponeses ignorantes. Podiam tudo. Eram impunes, graças às bênçãos do Tio Sam e da United Fruit.
Um dia eles chegaram a um povoado do norte buscando guerrilheiros e armas. Não encontraram nada, mas mataram todo mundo, não sem antes torturar, estuprar mulheres e crianças. Oscar tinha então três anos. Seu pai estava ausente, trabalhando. Os heróis do mundo livre mataram sua mãe, dois irmãos, cinco irmãs. Um desses heróis, cheio de bondade, decidiu poupar Oscar e adotá-lo.

Oscar morava perto de Boston quando descobriu a verdade uns 30 anos mais tarde. Uma promotora guatemalteca conseguiu localizá-lo. Ao saber a verdade, viajou à Guatemala à procura de seu pai biológico, que encontrou. Os EUA deram-lhe visto de refugiado. Justiça se faça: são magnânimos... O documentário está sendo exibido nos EUA e estreará na Guatemala em maio ou junho.

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