segunda-feira, 8 de maio de 2017

LÁ VÃO DUAS BOAS POESIAS PRA VOCÊS

Meu propósito hoje é brindar leitoras e leitores com duas poesias de um poeta que admiro e que é professor no interior, em Arcoverde (Centro de Ensino Superior). Trata-se de Carlos Alberto Cavalcanti. Ele merece esta divulgação. O primeiro é “A fábula da máquina”, com o qual ele ganhou a Medalha de Ouro (Categoria Poesia) do VI Concurso Nacional Literário Oliveira Caruso 2017 (Rio).


A FÁBULA DA MÁQUINA
Carlos Alberto Cavalcanti

No princípio era o homem,
não havia máquina sobre a face da terra,
(o homem era a própria máquina).
Certo dia, o homem se sentiu só
e viu que precisava de uma auxiliar
imediata;
o homem maquinava a máquina,
(a máquina esperava pelo homem).
E o homem criou a máquina
(à sua imagem e semelhança)
e viu o homem que a máquina era boa.
Mas a máquina cresceu e passou a triturar
o homem;
(multiplicou-se e o excluiu).
A partir daí, o homem passou a esperar
pela máquina;
e eis que filas quilométricas
surgiram em toda a face da terra
onde a criação do homem  chegou.
A máquina conspirou contra o seu criador
e o expulsou do paraíso natural,
criando o império virtual.
A criatura, enfim, dominou o criador.
O criador percebeu, nostálgico,
que vivia num mundo mágico
até o dia em que cria  a dor...
a dor da espera enfadonha,
a dor da dispensa medonha.
Agora, reverente e resignado,
lá está o criador diante da criatura,
maquinolatria?!
Numa fila qualquer,
reza a sua senha
na indigesta procissão,
pra receber o seu saldo
ou talvez a extrema-unção.


O segundo é “Poemeto desmatado”, com o qual ele ganhou a Medalha de Ouro (Categoria Poesia), no VI Concurso Literário Literatura da Natureza 2016 (Rio)

POEMETO DESMATADO



Um ambientalista vê
a árvore e diz:
que árvore frondosa,
vou descansar;
o caçador vê
a árvore e comenta:
que fruto atraente,
vou descascar;
o lenhador passa e diz:
que tronco robusto,
vou arrancar.
Assim,
sem proteção,
sem fruto,
sem tronco,
t
 o
  m
    b
      a
                                          a árvore,
seca o verde,
morre a mata,
já não há floresta,
já não ar...
só resta
esse impune
arvorecídio

para arquivar.

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