Meu propósito hoje é brindar leitoras e
leitores com duas poesias de um poeta que admiro e que é professor no interior,
em Arcoverde (Centro de Ensino Superior). Trata-se de Carlos Alberto Cavalcanti.
Ele merece esta divulgação. O primeiro é “A fábula da máquina”, com o qual ele ganhou
a Medalha de Ouro (Categoria Poesia) do VI Concurso Nacional Literário Oliveira
Caruso 2017 (Rio).
A FÁBULA DA MÁQUINA
Carlos Alberto
Cavalcanti
No princípio era o homem,
não havia máquina sobre a face da
terra,
(o homem era a própria máquina).
Certo dia, o homem se sentiu só
e viu que precisava de uma auxiliar
imediata;
o homem maquinava a máquina,
(a máquina esperava pelo homem).
E o homem criou a máquina
(à sua imagem e semelhança)
e viu o homem que a máquina era boa.
Mas a máquina cresceu e passou a triturar
o homem;
(multiplicou-se e o excluiu).
A partir daí, o homem passou a esperar
pela máquina;
e eis que filas quilométricas
surgiram em toda a face da terra
onde a criação do homem chegou.
A máquina conspirou contra o seu
criador
e o expulsou do paraíso natural,
criando o império virtual.
A criatura, enfim, dominou o criador.
O criador percebeu, nostálgico,
que vivia num mundo mágico
até o dia em que cria a dor...
a dor da espera enfadonha,
a dor da dispensa medonha.
Agora, reverente e resignado,
lá está o criador diante da criatura,
maquinolatria?!
Numa fila qualquer,
reza a sua senha
na indigesta procissão,
pra receber o seu saldo
ou talvez a extrema-unção.
O segundo é “Poemeto desmatado”, com o qual
ele ganhou a Medalha de Ouro (Categoria Poesia), no VI Concurso Literário Literatura
da Natureza 2016 (Rio)
POEMETO DESMATADO
Um
ambientalista vê
a
árvore e diz:
que
árvore frondosa,
vou
descansar;
o
caçador vê
a
árvore e comenta:
que
fruto atraente,
vou
descascar;
o
lenhador passa e diz:
que
tronco robusto,
vou
arrancar.
Assim,
sem
proteção,
sem
fruto,
sem
tronco,
t
o
m
b
a
a
árvore,
seca
o verde,
morre
a mata,
já
não há floresta,
já
não ar...
só
resta
esse
impune
arvorecídio
para
arquivar.
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