terça-feira, 27 de junho de 2017

UM PAÍS DE IMIGRANTES VAI SE TORNANDO UM PAÍS DE EMIGRANTES. TEM QUEM VEJA ISSO COMO NEGATIVO. MELHOR SERIA RESISTIR

Uma interessante entrevista no Jornal do Commercio de domingo passado, do economista José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo. Trata da migração, bastante intensa, de brasileiros para o exterior. Realmente, a situação em nosso país está tão cabeluda, principalmente agora com o golpe do impedimento e o desgoverno temerário de Michel Miguel Temer Lulia, que há muitos compatriotas nossos migrando ou querendo migrar para países mais organizados. Nosso país já foi uma terra de intensa imigração, inicialmente de portugueses, que moldaram o país e lhe deram o idioma. E, a partir do século 19, de italianos, alemães, eslavos, japoneses e gente de outras procedências. Ainda hoje, muitos refugiados do Oriente Médio, do Haiti, da África são atraídos pelas portas acolhedoras do Brasil.
Mesmo independente do golpe que rasgou uma Constituição que virou colcha de retalhos, de tanta emenda casuística, temos nossos problemas crônicos e históricos, como excesso de tributos sem retorno, falta de segurança,  educação, saúde, transporte público péssimo etc. Entre 2014 e 2016, a Receita Federal recebeu 55.402 declarações de saída definitiva do país. Mas o economista adverte para as dificuldades que aguardam os emigrantes. Para ele, deve-se incorporar a ideia de que “quero morar em outro Brasil”, e não a de que “quero morar em outro país”.
Há quem esteja habilitado a viver bem em um país desenvolvido, pela formação, conhecimento de línguas, capacidade de imersão em outras culturas. Mas, para uma grande quantidade, as dificuldades são grandes. Há muita gente que vai para os Estados Unidos, por exemplo, e só consegue subempregos, mesmo ganhando o desejado green card. Isso lembra também aquele personagem de Jô Soares, o último exilado em Paris depois da anistia, que ligava para cá dizendo “je vis de bec” (vivo de bico), o que em francês não significa nada. A expressão é brasileira.
Falo da minha experiência. Depois de passar cinco anos na Europa e me licenciar em teologia na Universidade Católica de Lyon, eu não teria dificuldade em ficar lá, prosseguir os estudos e obter um emprego. Idem na Itália, onde fiz o primeiros anos de teologia e também conhecia bem a língua. Inglês não sabia bem, mas, para aperfeiçoar-me no idioma de Shakespeare, era só atravessar o canal e passar um tempo lá. Não sabia eu que, no longínquo Brasil, se gestava um golpe de interesse estadunidense.
Voltei. Quando chegou o golpe e eu perdi o emprego e fui preso, poderia ter voltado pra lá. Não o fiz por razões de que falo aí ao lado no “Viver é muito perigoso”. Muita gente aposentada está se mudando para Portugal, sobretudo os monoglotas. Buscam segurança e as vantagens da União Europeia.

Afirma José Pio Martins: “Construir um outro Brasil é uma empreitada muito mais viável do que imaginar dois a três milhões de brasileiros indo para o exterior. É preciso tirar um pouco essa ilusão, sobretudo comum na cabeça dos jovens, de que tudo que há lá fora é maravilhoso. Por mais que o Brasil momentaneamente esteja indefinido. A indefinição momentânea não é problema. O problema é a perda da crença na possibilidade de reformar a nação, de superar essa crise, ainda que leve uma década ou duas. Para um jovem de 20 anos, ele pode chegar aos 35 com um país muito melhor, e muito jovem ainda”.

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