Uma interessante entrevista no Jornal do Commercio de domingo passado,
do economista José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo. Trata da
migração, bastante intensa, de brasileiros para o exterior. Realmente, a
situação em nosso país está tão cabeluda, principalmente agora com o golpe do
impedimento e o desgoverno temerário de Michel Miguel Temer Lulia, que há
muitos compatriotas nossos migrando ou querendo migrar para países mais
organizados. Nosso país já foi uma terra de intensa imigração, inicialmente de
portugueses, que moldaram o país e lhe deram o idioma. E, a partir do século
19, de italianos, alemães, eslavos, japoneses e gente de outras procedências.
Ainda hoje, muitos refugiados do Oriente Médio, do Haiti, da África são
atraídos pelas portas acolhedoras do Brasil.
Mesmo independente do golpe que rasgou uma
Constituição que virou colcha de retalhos, de tanta emenda casuística, temos
nossos problemas crônicos e históricos, como excesso de tributos sem retorno,
falta de segurança, educação, saúde,
transporte público péssimo etc. Entre 2014 e 2016, a Receita Federal recebeu
55.402 declarações de saída definitiva do país. Mas o economista adverte para
as dificuldades que aguardam os emigrantes. Para ele, deve-se incorporar a
ideia de que “quero morar em outro Brasil”, e não a de que “quero morar em
outro país”.
Há quem esteja habilitado a viver bem em um
país desenvolvido, pela formação, conhecimento de línguas, capacidade de imersão
em outras culturas. Mas, para uma grande quantidade, as dificuldades são
grandes. Há muita gente que vai para os Estados Unidos, por exemplo, e só
consegue subempregos, mesmo ganhando o desejado green card. Isso lembra também
aquele personagem de Jô Soares, o último exilado em Paris depois da anistia,
que ligava para cá dizendo “je vis de bec” (vivo de bico), o que em francês não
significa nada. A expressão é brasileira.
Falo da minha experiência. Depois de passar
cinco anos na Europa e me licenciar em teologia na Universidade Católica de
Lyon, eu não teria dificuldade em ficar lá, prosseguir os estudos e obter um
emprego. Idem na Itália, onde fiz o primeiros anos de teologia e também
conhecia bem a língua. Inglês não sabia bem, mas, para aperfeiçoar-me no idioma
de Shakespeare, era só atravessar o canal e passar um tempo lá. Não sabia eu
que, no longínquo Brasil, se gestava um golpe de interesse estadunidense.
Voltei. Quando chegou o golpe e eu perdi o
emprego e fui preso, poderia ter voltado pra lá. Não o fiz por razões de que
falo aí ao lado no “Viver é muito perigoso”. Muita gente aposentada está se mudando
para Portugal, sobretudo os monoglotas. Buscam segurança e as vantagens da
União Europeia.
Afirma José Pio Martins: “Construir um outro
Brasil é uma empreitada muito mais viável do que imaginar dois a três milhões
de brasileiros indo para o exterior. É preciso tirar um pouco essa ilusão, sobretudo
comum na cabeça dos jovens, de que tudo que há lá fora é maravilhoso. Por mais
que o Brasil momentaneamente esteja indefinido. A indefinição momentânea não é
problema. O problema é a perda da crença na possibilidade de reformar a nação,
de superar essa crise, ainda que leve uma década ou duas. Para um jovem de 20 anos,
ele pode chegar aos 35 com um país muito melhor, e muito jovem ainda”.
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