Não sei se já tive oportunidade de falar a
vocês, caras leitoras, caros leitores, sobre como se escreve a história.
Comumente, é a história dos heróis, principalmente dos heróis bem localizados, isto
é, que atuaram nos centros de poder. No caso do nosso país, por exemplo, tudo
se passou e se passa, para os historiadores e historiógrafos oficiais, no
triângulo Rio-São Paulo-Minas.
Um dos casos mais marcantes é o da
Inconfidência Mineira. Certamente Tiradentes quebrou a cara nessa empreitada e
merece veneração. Mas ele, exatamente em virtude da quebra do sigilo da
conspiração (daí a designação “inconfidência”), não conseguiu fazer nada em prol
da nossa independência do jugo e arbitrariedades de uma ex-potência marítima já
em franca decadência graças à Inquisição.
Já aqui em Pernambuco, promovemos várias
autênticas revoluções, sobretudo a Revolução Pernambucana de 1817, pela
independência, a Confederação do Equador de 1824, por uma autêntica federação
que Pedro 1º não instalou, e a Praieira, coincidente com a Comuna de Paris. Muita
gente lutou, foi presa, arcabuzada.
Recentemente, a Companhia Editora de
Penambuco (Cepe) publicou o livro Frei
Caneca –Vida e escritos, em que outro frade, Frei Tito Figueiroa de
Medeiros, busca traduzir para a contemporaneidade os escritos do revolucionário
de 1817 e da Confederação do Equador, arcabuzado perto do Forte das Cinco
Pontas, no Recife. Segundo seu biógrafo, Frei Caneca foi um “precursor do tipo
intelectual orgânico” de que trata Gramsci.
Morto muito jovem, aos 45 anos, Frei Caneca
foi uma cria do iluminismo francês e fruto das avançadas lições dadas no
Seminário de Olinda, a primeira escola superior do Brasil, criada em 1800 (na
época não havia separação entre Estado e religião), uma sementeira de
intelectuais onde se formavam clérigos e leigos.
Dom Pedro 1º, que detestava a nossa província
pernambucana devido a seu espírito rebelde e reivindicativo, privou-a de mais
ou menos a metade de seu território. Tirou-lhe a província das Alagoas e a
chamada Comarca do São Francisco, hoje anexada à Bahia.
Minas não perdeu um milímetro de seu grande
território, mas, para o oficialismo historiográfico, está na vanguarda da independência.
E o pior é que nem aqui no Nordeste e em Pernambuco o vanguardismo e o
pioneirismo pernambucanos são levados em contra. Breve exceção são as as
comemorações do bicentenário da Revolução de 1817.
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