quarta-feira, 13 de setembro de 2017

HISTORIOGRAFIA OFICIAL IGNORA O QUE SE PASSOU E SE PASSA FORA DO TRIÂNGULO RIO-SÃO PAULO-MINAS. A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817 É SOLENEMENTE IGNORADA

Não sei se já tive oportunidade de falar a vocês, caras leitoras, caros leitores, sobre como se escreve a história. Comumente, é a história dos heróis, principalmente dos heróis bem localizados, isto é, que atuaram nos centros de poder. No caso do nosso país, por exemplo, tudo se passou e se passa, para os historiadores e historiógrafos oficiais, no triângulo Rio-São Paulo-Minas.
Um dos casos mais marcantes é o da Inconfidência Mineira. Certamente Tiradentes quebrou a cara nessa empreitada e merece veneração. Mas ele, exatamente em virtude da quebra do sigilo da conspiração (daí a designação “inconfidência”), não conseguiu fazer nada em prol da nossa independência do jugo e arbitrariedades de uma ex-potência marítima já em franca decadência graças à Inquisição.
Já aqui em Pernambuco, promovemos várias autênticas revoluções, sobretudo a Revolução Pernambucana de 1817, pela independência, a Confederação do Equador de 1824, por uma autêntica federação que Pedro 1º não instalou, e a Praieira, coincidente com a Comuna de Paris. Muita gente lutou, foi presa, arcabuzada.
Recentemente, a Companhia Editora de Penambuco (Cepe) publicou o livro Frei Caneca –Vida e escritos, em que outro frade, Frei Tito Figueiroa de Medeiros, busca traduzir para a contemporaneidade os escritos do revolucionário de 1817 e da Confederação do Equador, arcabuzado perto do Forte das Cinco Pontas, no Recife. Segundo seu biógrafo, Frei Caneca foi um “precursor do tipo intelectual orgânico” de que trata Gramsci.
Morto muito jovem, aos 45 anos, Frei Caneca foi uma cria do iluminismo francês e fruto das avançadas lições dadas no Seminário de Olinda, a primeira escola superior do Brasil, criada em 1800 (na época não havia separação entre Estado e religião), uma sementeira de intelectuais onde se formavam clérigos e leigos.
Dom Pedro 1º, que detestava a nossa província pernambucana devido a seu espírito rebelde e reivindicativo, privou-a de mais ou menos a metade de seu território. Tirou-lhe a província das Alagoas e a chamada Comarca do São Francisco, hoje anexada à Bahia.

Minas não perdeu um milímetro de seu grande território, mas, para o oficialismo historiográfico, está na vanguarda da independência. E o pior é que nem aqui no Nordeste e em Pernambuco o vanguardismo e o pioneirismo pernambucanos são levados em contra. Breve exceção são as as comemorações do bicentenário da Revolução de 1817.

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