sábado, 30 de setembro de 2017

BOAS RELAÇÕES DO PAPA PIO 11 COM BENITO MUSSOLINI

Estou lendo um livro, gente, muito interessante, que é o resultado de uma exaustiva pesquisa do professor David Kertzer, das áreas de ciências sociais, antropologia e estudos italianos da Universidade Brown (EUA). O scholar passou sete anos pesquisando nos arquivos do Vaticano e em relatórios de espiões fascistas em altos níveis da Igreja Católica, para revelar o papel crucial da Santa Sé na ascensão do fascismo na Europa. O livro de que trato é O papa e Mussolini, traduzido por Berilo Vargas (Intrínseca).
O papa e Mussolini? O que tem a ver um papa, mesmo do modelo imperial dos velhos tempos como Achile Ratti (Pio11), com o líder fascista Benito Mussolini? Muito, revela Kertzer. O que os uniu foi o medo do comunismo. Medo também presente na conduta do seu sucessor Pio 12, acusado de livrar uma boa quantidade de criminosos nazistas das garras da Justiça.
Ambos, Mussolini e Pio 11, chegaram ao poder em 1922. Ambos irascíveis, em muitos outros aspectos diferiam. Nenhum dos dois acreditava na democracia e ambos abominavam o comunismo. Contaram um com o outro para consolidar seus poderes e alcançar seus objetivos políticos. Desde a unificação da Itália como um só país, em que tiveram relevante papel Garibaldi e sua mulher, a brasileira Anita, o papado perdera o grande território que possuía e ficara restrito ao Palácio do Vaticano. Mas, em 1929, a Santa Sé recuperou pequeno território no Estado da Cidade do Vaticano (SCV na sigla em italiano; que muitos leem como “se Cristo vedessi”; se Cristo visse). Resumidamente, o tratado assinado pelo papa e o Duce faz as pazes entre a Santa Sé e o Estado italiano, cria o Estado do Vaticano e dá ao papado uma boa indenização, com a qual foi criado o famigerado Istituto per le Opere di Religione (IOR), que é o banco do Vaticano e que o papa Francisco tenta transformar em apenas um instituto financeiro. Entre os escândalos colecionados pelo IOR consta lavagem de dinheiro da máfia.
O papa e Mussolini se entenderam para assinar o Tratado de Latrão. Através dele, a Santa Sé recuperava autonomia política, extensiva a alguns edifícios, como as basílicas maiores, a Universidade Gregoriana e outros.No resultado de seu trabalho, o pesquisador mostra como Pio 11 foi crucial para que o Duce (título do líder fascista) instaurasse sua ditadura e se sustentasse no poder.
Mais adiante, com a saúde abalada e próximo à morte, arrependido do grande pecado, Pio 11 passou a atacar Mussolini, suas leis antissemitas e sua aproximação com Hitler. Mas seus assessores na liderança do Vaticano, como o cardeal Eugênio Pacelli (depois Pio 12) se mobilizaram para evitar os prejuízos do rompimento entre a Santa Sé o regime fascista.

Sou católico, mas não posso aceitar tanta esculhambação.

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