É complicado progredir neste país, sem um
projeto nacional, abandonado pelos golpistas de 2016. A agonia dos estaleiros é
uma comprovação dessa situação vexaminosa. Sem encomendas, sobretudo na
Petrobras (dos 42 estaleiros, somente 12 têm encomendas), a indústria fomentada
pelo governo Lula agoniza. Os dois estaleiros implantados em Pernambuco,
Atlântico Sul (EAS) e Vard Promar (os mais modernos do parque nacional), como
os outros, estão ameaçados pela promessa do governo ilegítimo e entreguista de Michel
Miguel Elias (fora!) Temer Lulia de cancelamento de contratos e da ameaça de
importação de navios sem pagamento de impostos.
Numa época em que Pindorama tinha um projeto
nacional, um governo popular e se desenvolvia, de 2007 a 2013, Lula assinou contratos
dos dez primeiros navios a serem construídos pelo EAS. Em 2010, o navio João
Cândido foi batizado. Em 2013, o Vard Promar começou a operar em Suape e, no
ano seguinte, lançou seu primeiro navio, o Barbosa Lima Sobrinho.
Floriano Pires Júnior, professor do Programa
de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ, um dos maiores especialistas do setor em
Pau Brasil, analisa que faltou consciência estratégica na proposta de retomada
da indústria naval, que “foi baseada numa visão de curto prazo, ancorada na
Petrobras como indutora da atividade e sem se preocupar com metas de
produtividade e com um programa real de qualificação de mão e obra” .Para ele, outro
problema foi a falta de racionalidade na decisão de onde montar os novos estaleiros,
com a análise de se haveria demanda para tantas plantas e o que cada uma
poderia produzir.
O argumento de Lula era reduzir o gasto anual
da Petrobras de US$2,5 bilhões com o fretamento de embarcações e incentivar o
ressurgimento de uma indústria que contrata muita mão de obra. Segundo Floriano
Pires, o setor não pode mais esperar pela Petrobras. Trata-se de uma empresa de
petróleo e não de uma agência de indústria naval. Essa indústria recebeu ajuda
do governo, na Coreia do Sul, China e outros países, mas só até avançar na
curva de aprendizagem, entre 10 e 20 anos. Depois os estaleiros andaram com as
próprias pernas. Não tem milagre. O governo precisa ter uma política industrial
clara e os estaleiros precisam ser competitivos.