A antropóloga, historiadora e escritora
paulista Lilia Schwarcz, que pesquisa a questão racial no Brasil há quase 30
anos, acaba de lançar sua obra Lima
Barreto: triste visionário e participou no Recife da Bienal Internacional
do Livro, onde deu palestra sobre o posicionamento político e social do escritor
carioca, sua vida e sua obra.
Lima Barreto é um escritor pouco lido, que morreu
jovem, mas de grande importância para a compreensão de nossas escravagistas e
retrógradas história e sociedade. Descendente de escravos, sua família achava,
com razão, que a libertação dos cativos não viria com a letra da lei. Dependia
de educação. E aqui evoco paralelamente outro aspecto negligenciado, através da
opinião do nosso grande Joaquim Nabuco, para o qual a libertação legal sem uma
reforma agrária que desse sobrevivência aos libertos não significaria grande
coisa. De fato, ao contrário de outros países, nunca fizemos essa reforma. Jango
quis e militares entreguistas o derrubaram e ocuparam militarmente o país.
Lima Barreto acreditava na luta por uma
democracia mais inclusiva que a que temos até hoje, principalmente após o golpe
que entronizou o ilegítimo Michel Miguel Elias (fora!) Temer Lulia. A voz do escritor
carioca, em sua luta contra o racismo estrutural remanescente, era a literatura.
E boa literatura. Como não houve aquela reforma agrária preconizada por Nabuco,
os libertos continuaram praticamente escravizados. Só uns 40 anos depois é que
Getúlio Vargas deu um grande passo com as leis trabalhistas, depois
consolidadas na CLT, hoje sob a mira golpista dos atuais assaltantes do poder.
A questão racial hoje tornou-se visível: “Acho
que agora nós vivemos num momento em que o tema é incontornável. Sempre defendo
que a questão racial deve ter o
protagonismo das populações afro-brasileiras, negras, pois são elas que sofrem a
dor da discriminação racial, que é uma dor profunda. No entanto a minha posição
é que o racismo é uma questão dos brasileiros, da nossa República, então cabe a
nós, todos os brasileiros, assumir o tema, sem tirar o protagonismo”, diz
Schwarcz.
Viva Lima Barreto! Vamos lê-lo mais.
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