O sociólogo Jessé Souza estará lançando em agosto
um novo livro, cujo título é A miséria
da elite – Da escravidão à Lava Jato.
Ele deu recentemente entrevista a Sergio Lirio, da revista CartaCapital. Sua última obra formaria uma trilogia com duas
outras, A tolice da inteligência
brasileira e A ralé brasileira.
A triste conjuntura brasileira atual comprova
muito bem as observações do cientista sobre o significado da escravidão na
formação da cultura e da história do nosso país. Para ele, o que dá coesão á
elite brasileira é o ódio ao pobre. Bastou alguns governos mais populares
tentarem melhorar a sorte do povão e rapidamente, com a preciosa ajuda do
Judiciário, do Congresso, da maioria da imprensa, tramou-se um golpe pseudoconstitucional
que pôs o Executivo de novo nas mãos dessa elite. Sob a chefia de uma figura execrável,
que só agora estamos conhecendo melhor. Pela primeira vez em nossa história, um
presidente da República (mesmo ilegítimo) no exercício do mandato pode ser
processado e cassado como criminoso pelo Congresso. Tomara que sim, pois será a
maneira mais rápida de nos livrarmos de um desgoverno tão deletério.
Um pacto antipopular, diz Jessé Souza, é
revigorado logo após a libertação dos escravos, incluindo uma classe média
detentora do conhecimento tido como legítimo e prestigioso, que inclui gente
diplomada e com melhores empregos, como juízes, jornalistas, professores
universitários. O sociólogo observa que a escravidão é olhada como um “nome”,
no Brasil, e não como um “conceito científico”. Isso me faz lembrar a conclusão
de O nome da rosa, de Umberto Eco: “Stat
rosa pristina nomine. Nomina nuda tenemus”, cujo significado é que a rosa
existe devido ao seu nome; possuímos os nomes nus. É a escola do nominalismo.
Jessé Souza: “Somos, nós brasileiros, filhos
de um ambiente escravocrata que cria um tipo de família específico, uma Justiça
específica, uma economia específica. Aqui valia tomar a terra dos outros a
força, para acumular capital, como acontece até hoje, e humilhar ou condenar os
mais frágeis ao abandono e à humilhação cotidiana. [...] Como essa herança nunca
foi refletida e criticada, continua sob outras máscaras. O ódio aos pobres é
tão intenso que qualquer melhora na miséria gera reação violenta, apoiada pela
mídia”. Por todo o país, grileiros e latifundiários expulsam posseiros de suas
terras e os assassinam.
Lembramos aquele “Eu odeio pobre” de Justo
Veríssimo, personagem do grande Chico Anysio.
Vale a pena conferir o livro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário