quinta-feira, 6 de julho de 2017

POBRE É NA CHIBATA, PARA A ELITE BRASILEIRA. ÓDIO AO POBRE LHE DÁ COESÃO. VALE A PENA CONFERIR LIVROS DE JESSÉ SOUZA

O sociólogo Jessé Souza estará lançando em agosto um novo livro, cujo título é A miséria da elite – Da escravidão à Lava Jato. Ele deu recentemente entrevista a Sergio Lirio, da revista CartaCapital. Sua última obra formaria uma trilogia com duas outras, A tolice da inteligência brasileira e A ralé brasileira.
A triste conjuntura brasileira atual comprova muito bem as observações do cientista sobre o significado da escravidão na formação da cultura e da história do nosso país. Para ele, o que dá coesão á elite brasileira é o ódio ao pobre. Bastou alguns governos mais populares tentarem melhorar a sorte do povão e rapidamente, com a preciosa ajuda do Judiciário, do Congresso, da maioria da imprensa, tramou-se um golpe pseudoconstitucional que pôs o Executivo de novo nas mãos dessa elite. Sob a chefia de uma figura execrável, que só agora estamos conhecendo melhor. Pela primeira vez em nossa história, um presidente da República (mesmo ilegítimo) no exercício do mandato pode ser processado e cassado como criminoso pelo Congresso. Tomara que sim, pois será a maneira mais rápida de nos livrarmos de um desgoverno tão deletério.
Um pacto antipopular, diz Jessé Souza, é revigorado logo após a libertação dos escravos, incluindo uma classe média detentora do conhecimento tido como legítimo e prestigioso, que inclui gente diplomada e com melhores empregos, como juízes, jornalistas, professores universitários. O sociólogo observa que a escravidão é olhada como um “nome”, no Brasil, e não como um “conceito científico”. Isso me faz lembrar a conclusão de O nome da rosa, de Umberto Eco: “Stat rosa pristina nomine. Nomina nuda tenemus”, cujo significado é que a rosa existe devido ao seu nome; possuímos os nomes nus. É a escola do nominalismo.
Jessé Souza: “Somos, nós brasileiros, filhos de um ambiente escravocrata que cria um tipo de família específico, uma Justiça específica, uma economia específica. Aqui valia tomar a terra dos outros a força, para acumular capital, como acontece até hoje, e humilhar ou condenar os mais frágeis ao abandono e à humilhação cotidiana. [...] Como essa herança nunca foi refletida e criticada, continua sob outras máscaras. O ódio aos pobres é tão intenso que qualquer melhora na miséria gera reação violenta, apoiada pela mídia”. Por todo o país, grileiros e latifundiários expulsam posseiros de suas terras e os assassinam.
Lembramos aquele “Eu odeio pobre” de Justo Veríssimo, personagem do grande Chico Anysio.

Vale a pena conferir o livro.

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