O senador paranaense Roberto Requião é um
raro parlamentar que leva seu papel representativo a sério e toma posições em
prol de um projeto nacional consistente. Pois não é que ele descobriu incrível
semelhança entre o aparato de “julgamento” da assim dita República de Curitiba
e o manual inquisitorial Malleus Maleficarum,
de 1487. Em português, a tradução é Martelo das Feiticeiras.
Falando em República de Curitiba, os mais
velhos, que viveram os anos 1950, se lembrarão da fatídica República do Galeão,
que levou Getúlio Vargas, democraticamente eleito em 1950, ao suicídio. Assanhados
oficiais da Aeronáutica decidiram tomar a si a apuração da morte do major Vaz,
guarda-costas de Carlos Lacerda. Este era o golpista maior que pregava a
derrubada de Getúlio. Os outros militares não apoiaram o presidente da
República, quando era o mínimo que deveriam fazer, e Getúlio, para não ser
desmoralizado, decidiu sair da vida e entrar para a história, como deixou
escrito em sua carta-testamento. Seu funeral foi uma apoteose, quando uma
multidão acompanhou o ataúde, que seguiria para São Borja, da Praia do
Flamengo, por trás do Palácio do Catete, até o Aeroporto Santos Dumont.
Lê-se no manual, escrito pelos inquisidores
Heinrich Kramer e James Sprenger, sugere “o confinamento do acusado na prisão
por algum tempo, ou por alguns anos, caso em que, talvez, depois de padecer por
um ano das misérias do cárcere, venha a confessar os crimes cometidos”. Ensinam
os inquisidores que o juiz não deve levar em consideração eventuais
divergências nos relatos das testemunhas. Basta uma única convergência para
considerá-los verdadeiros e idôneos. Ensina ainda o manual que caberia aos defensores
dos acusados atuar nos julgamentos com moderação, para não serem também considerados suspeitos e
processados.Lamentavelmente, o texto medieval é atualíssimo, quando vemos as
estripulias de Sérgio Moro e asseclas.
No Malleus,
observa Requião, é a convicção que antecede a sentença, logo se apressando em
dizer, na tribuna do Senado, que não está desqualificando o trabalho de combate
à corrupção no Brasil. “A convicção ideológica e a seletividade dos
procuradores e juízes os levaram, porém, a atribuir a responsabilidade
exclusivamente ao PT num primeiro momento”, afirma Requião ao falar sobre o
famoso “domínio do fato”, que prevaleceu no “mensalão” petista. A recente sentença
contra Lula, sem fundamento em fatos, é um exemplo perfeito do funcionamento da
República de Curitiba.
Já escrevi aqui sobre o preparo de juízes
brasileiros, por “pregadores” dos Estados Unidos, para tornar possível o novo
golpe que substitui o desusado golpe militar, o golpe, digamos, pseudo
constitucional do impedimento. Quando digo “pregadores”, lembro que os autores
do Malleus são dois inquisidores
dominicanos, isto é, da Ordem dos Pregadores. Mais recentemente, ao menos no Brasil,
os dominicanos abandonaram seu reacionarismo original e até combateram a
ditadura de 1964-1985.
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