sábado, 22 de julho de 2017

REQUIÃO ATRIBUI AOS INQUISIDORES DE CURITIBA FIDELIDADE A UM TEXTO DA VELHA INQUISIÇÃO QUE TORTURAVA E MATAVA HEREGES

O senador paranaense Roberto Requião é um raro parlamentar que leva seu papel representativo a sério e toma posições em prol de um projeto nacional consistente. Pois não é que ele descobriu incrível semelhança entre o aparato de “julgamento” da assim dita República de Curitiba e o manual inquisitorial Malleus Maleficarum, de 1487. Em português, a tradução é Martelo das Feiticeiras.
Falando em República de Curitiba, os mais velhos, que viveram os anos 1950, se lembrarão da fatídica República do Galeão, que levou Getúlio Vargas, democraticamente eleito em 1950, ao suicídio. Assanhados oficiais da Aeronáutica decidiram tomar a si a apuração da morte do major Vaz, guarda-costas de Carlos Lacerda. Este era o golpista maior que pregava a derrubada de Getúlio. Os outros militares não apoiaram o presidente da República, quando era o mínimo que deveriam fazer, e Getúlio, para não ser desmoralizado, decidiu sair da vida e entrar para a história, como deixou escrito em sua carta-testamento. Seu funeral foi uma apoteose, quando uma multidão acompanhou o ataúde, que seguiria para São Borja, da Praia do Flamengo, por trás do Palácio do Catete, até o Aeroporto Santos Dumont.
Lê-se no manual, escrito pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger, sugere “o confinamento do acusado na prisão por algum tempo, ou por alguns anos, caso em que, talvez, depois de padecer por um ano das misérias do cárcere, venha a confessar os crimes cometidos”. Ensinam os inquisidores que o juiz não deve levar em consideração eventuais divergências nos relatos das testemunhas. Basta uma única convergência para considerá-los verdadeiros e idôneos. Ensina ainda o manual que caberia aos defensores dos acusados atuar nos julgamentos com moderação, para não serem também  considerados suspeitos e processados.Lamentavelmente, o texto medieval é atualíssimo, quando vemos as estripulias de Sérgio Moro e asseclas.
No Malleus, observa Requião, é a convicção que antecede a sentença, logo se apressando em dizer, na tribuna do Senado, que não está desqualificando o trabalho de combate à corrupção no Brasil. “A convicção ideológica e a seletividade dos procuradores e juízes os levaram, porém, a atribuir a responsabilidade exclusivamente ao PT num primeiro momento”, afirma Requião ao falar sobre o famoso “domínio do fato”, que prevaleceu no “mensalão” petista. A recente sentença contra Lula, sem fundamento em fatos, é um exemplo perfeito do funcionamento da República de Curitiba.

Já escrevi aqui sobre o preparo de juízes brasileiros, por “pregadores” dos Estados Unidos, para tornar possível o novo golpe que substitui o desusado golpe militar, o golpe, digamos, pseudo constitucional do impedimento. Quando digo “pregadores”, lembro que os autores do Malleus são dois inquisidores dominicanos, isto é, da Ordem dos Pregadores. Mais recentemente, ao menos no Brasil, os dominicanos abandonaram seu reacionarismo original e até combateram a ditadura de 1964-1985.

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