Meus caros leitores e leitoras, a minha
profissão de jornalista, de que gosto muito, foi por mim abraçada dentro de uma
conjuntura gerada pelo golpe de 1964, que Stanislaw Ponte Preta chamava de “a redentora”
(porque os golpistas de então apelidaram seu coice de revolução). Sobre os
disparates perpetrados por golpistas mais ignorantes (Castelo Branco se julgava
um intelectual) ele escreveu um livro que merece ser lido, Febeapá - Festival de besteira que assola o país.
Depois de deixar a vida clerical, licenciado
em teologia pela Université Catholique de Lyon, eu me encaminhava para a
docência/pesquisa na equipe de Paulo Freire, que tocava seu sistema de educação
e método de alfabetização. Quando foi lançada a Rádio Universitária, o reitor João
Alfredo confiou à equipe sua direção e programação, sob a competente chefia de
José Laurênio, que havia trabalhado na BBC de Londres.
Foi aí que eu virei jornalista (naquela época
ainda não havia reserva de mercado para quem fizesse o curso de jornalismo, que
só se justifica como pós-graduação), fazendo dois programas: Resenha de jornais
e Resenha de editoriais. Arquivados, serviram mais tarde de provas da minha
tresloucada subversão e sustento pelo ouro de Moscou. O capitão Moreira Paes,
que comandou o IPM da Universidade (arrancado dos coronéis “revolucionários”
por insistência de Gilberto Freyre, que tinha uma pendenga com o reitor João
Alfredo), estava tão por fora que ainda era lacerdista, quando Lacerda já não
era mais o golpista mor e pouco interessava aos milicos.
Com a “redentora” na rua, eu preso e demitido
da Universidade, andei pelo Rio e Sampa procurando emprego em jornais, o que
não consegui por não ser conhecido lá e essas cidades já estarem abarrotadas de
jornalistas fugitivos de todo o país. Então, fui trabalhar na sucursal
recifense do Correio da Manhã, na
agência de publicidade Itaity, de Carol Fernandes, e afinal na sucursal da Folha de S. Paulo. Depois fui para a sede da Folha, lá em Sampa, e continuei no jornalismo.
Bem. Isso tudo é para dizer que gosto da
profissão, mas a imprensa nativa (como diz Mino Carta) é uma lástima, em geral,
sonegando e distorcendo informações, falseando fatos. E seus barões ainda têm a
ousadia de falar de censura quando se quer regular o rádio e a TV, que são
concessões públicas. Regulação que existe em todo país civilizado.
Na Argentina, o comportamento da mídia não é
diferente, dentro do neoliberalismo que nos é imposto. Mas li, outro dia, reportagem
que fala de um radialista resistente. Victor Hugo Morales é uruguaio, mas
radicado na Argentina, e resiste bravamente na Rádio 750 AM, mantida por um fundo
sindical de investimentos; como também o é o jornal Página 12.
O programa de Morales, La Mañana, critica os
assim ditos “podres poderes” sem dó nem piedade. Dos meios de comunicação da
Argentina 95% são dominados por uma autêntica máfia que mente descaradamente
favorecendo uma minoria que explora o povo. Não muito diferente do Brasil. Para
Morales, são uma “imundície dominada pelos interesses mais inconfessáveis que
existem Mentem sobre a Venezuela, mentem sobre o Brasil, mentem sobre Cristina
Kirchner, adulam Macri e tudo o que ele faz, vivem para seus negócios e a
informação correta vai para a lata de lixo”.
Regulação da mídia já! Mas isso só quando governos
populares voltarem ao poder, após o golpe em que estamos mergulhados. Regulação
da mídia concedida não é censura em canto nenhum do mundo.