Abordo hoje com vocês uma questão, já
resolvida em outros países, até menos desenvolvidos que o nosso, que é a teimosia
de alguns em continuar misturando e confundindo religião com política, com
Estado. A separação, com o Estado laico, foi obtida por nós com a Constituição
da República. Até o Império, o catolicismo romano era a religião oficial. Ficou
mais na teoria, pois a Igreja Católica Romana estava acostumada a ser oficial e
dominante. Os bispos resmungavam muito até que se deram conta de que a
separação era melhor para ambos, Estado e Igreja.
Ocorre que as igrejas assim ditas
neopentecostais, muito fomentadas pela política estadunidense, que vê a Igreja
Católica brasileira como muito esquerdista, começaram a crescer muito, se
expandir, e trouxeram de volta de novo a confusão entre religião e política. O
que não dá para entender pois, um pouco remotamente, elas se inspiram na Reforma
Luterana. Preferem ser denominadas evangélicas, como se a Igreja Católica
Romana também não se baseasse no Evangelho, têm seus partidos e fazem
propaganda política com base na Bíblia. Seus eleitos se apresentam não como
simples políticos, mas como pastor fulano, bispo cicrano etc.
Isso é absolutamente contraditório diante de
uma Constituição laica E muitas dessas confissões pregam uma Teologia da
Prosperidade, em contraposição à católica Teologia da Libertação. Prometem o
céu na terra, recolhem muito dinheiro de fiéis na maioria pobres. Não é assim.
Quem quiser ter sua religião que tenha, mas sem colocá-la a serviço de partidos
e ideologias.
A confusão, porém, começou mais longe, quando
o imperador Constantino decidiu cooptar o cristianismo como religião oficial do
Império Romano. Foi aí que o velho preceito de Jesus Cristo “Dai a Deus o que é
de Deus e a César o que é de César” caiu em desuso. Os bispos passaram à
condição de nobres e comensais dos ricos, o clero adquiriu privilégios, os
mosteiros enriqueceram e arquivaram a pobreza evangélica. Os papas passaram a
ter um poder muito grande, inclusive material e territorial, que só terminou
com a unificação da Itália, que engoliu os Estados Pontifícios.
O papa ficou confinado no Vaticano,
posteriormente constituído independente, o Stato della Città del Vaticano,
através do Tratado de Latrão, assinado pelo ditador fascista Benito Mussolini e
o papa Pio 11. Mussolini ainda pagou uma indenização simbólica ao papado, que
serviu para criar o Istituto per le Opere di Religione (IOR), como ironicamente
é conhecido o Banco do Vaticano. Hoje está em desmonte por Francisco, um papa
cristão, mas já se envolveu com a máfia e assassinatos.
Depois da cooptação de Constantino, a Igreja,
ou melhor o papado, se envolveu com abominações como as Cruzadas e a
Inquisição. No século 16, Martinho Lutero lançou as teses de sua Reforma, que
pretendia apenas abolir práticas transviadas da Igreja Romana. Mas foi com o
iluminismo e o enciclopedismo, que levaram à Revolução Francesa, que iniciou-se
a aspiração pela separação entre Igreja e Estado, religião e política.
Acredito que nossos governantes e políticos
deveriam se preocupar seriamente com o assunto, com a clericalização da
política, de alguns partidos, do Estado. Mas eles estão tão longe do papel de
representação popular que querem é se aproveitar da confusão.
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